Para Pablo Di Si, CEO e presidente da Volkswagen América Latina, a transformação digital deve estar em sintonia com as características de cauda longa de uma indústria tradicional como a automotiva
Quando se fala sobre os novos paradigmas que a era digital impõe sobre os modelos de negócios tradicionais, a indústria automobilística é quase sempre a primeira da fila a ser questionada. Numa época em que os jovens perdem interesse por dirigir e a conexão das pessoas com os veículos vai passando cada vez por serviços de aplicativos, preparar-se para o que vai acontecer tornou-se imperativo para a sobrevivência dos grandes fabricantes de automóveis no mundo.
Na opinião do CEO e presidente da Volkswagen América Latina, o argentino Pablo Di Si, manter o pulso da empresa no dia a dia, sem perder o foco nos processos de inovação que estão revolucionando a indústria, é o grande desafio das lideranças na indústria de veículos. “Eu adoro cuidar do negócio, mas preciso deixar o operacional de um lado e tratar do futuro de outro”, explicou o executivo durante o Almoço2020. O encontro, que reuniu um grupo restrito de 40 CEOs e líderes de empresas, foi realizado pelo Experience Club na quinta-feira, 23.08, na sede da Athié Wohnrath em São Paulo.
Veículos sem motorista
Para avançar na nova agenda da indústria automotiva, a Volkswagen está apostando forte na mudança do perfil da mobilidade. Um dos projetos mais importantes da companhia hoje na Alemanha é o Sedric, primeiro modelo da marca sem condutor. “No futuro as pessoas poderão solicitar na porta de casa um carro pelo tempo que passarão dentro dele. Pode ter poltronas de primeira classe ou mesmo um escritório completo para viagens longas, concorrendo com outros meios de transporte, como avião ou trem”, compara Di Si.
Em outra frente, a companhia está iniciando o projeto piloto MOIA, de veículos compartilhados. O serviço, que deve começar a funcionar até o final do ano em Hamburgo, na Alemanha, tem por objetivo tirar milhões de automóveis das ruas. A proposta é o uso mais racional da mobilidade.
Indústria 4.0
Um dos maiores investimentos da montadora alemã, que anunciou no final do ano passado recursos de R$ 7 bilhões até 2020 no Brasil, está hoje na modernização e digitalização dos processos produtivos. “Para lançar um carro, são bilhões de reais de investimento, por isso qualquer ganho na fase de testes é muito importante”, explica Di Si. A tecnologia digital ajuda muito na questão da segurança, acertando detalhes estruturais de cada modelo antes das provas físicas.
Entre as medidas para avançar nessa agenda está o lançamento no início do ano do primeiro laboratório virtual no Brasil, na tradicional fábrica da Via Anchieta, em São Bernardo. As vantagens são imensas, segundo o CEO da companhia. Entre elas, a possibilidade de reduzir em até nove meses o tempo de desenvolvimento de projetos. Em paralelo, a Volks também está iniciando um esforço para elevar os índices de robotização das fábricas de 50% para 70%.
O novo desafio da Volks é levar a experiência do digital para as concessionárias. Para isso, a companhia já desenvolve projetos para uso intensivo de totens de pesquisa de produtos e “test-drive” com uso de realidade aumentada.
Inteligência Artificial
Di Si gosta muito de elogiar a qualidade da engenharia e do quadro técnico dos profissionais que atuam na região. Lançado em fevereiro no Brasil, o Virtus é o primeiro carro com inteligência artificial da montadora, desenvolvido em parceria na América Latina com a ferramenta Watson, da IBM. “Lançamos o Virtus com 4 mil perguntas embarcadas sobre o veículo e hoje ele tem mais de 15 mil respostas, evoluindo a partir da interação com os clientes”, explica o executivo. O sucesso da iniciativa atraiu a divisão da Volks nos Estados Unidos, que quer implementar a tecnologia no mercado americano.
“Nossa fábrica de motores está exportando para modelos do México que são vendidos no mercado americano. Mais importante do que a exportação em si é que os nossos produtos atendem hoje às normas de emissão duras da Califórnia. Esse aprendizado ninguém tira de nós”, diz Di Si.
Texto: Arnaldo Comin
Foto: Marcos Mesquita/Experience Club
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