Para historiador Marco Antonio Villa, sociedade civil precisa se manter mobilizada para enfrentar o cenário político em 2019
“Estamos no mato sem cachorro”, resumiu o historiador e comentarista político Marco Antonio Villa, ao definir a cena política brasileira no limiar da sucessão de Michel Temer na Presidência da República. Convidado para abertura do Fórum CIO Club, realizado pelo Experience Club em 27 e 29 de setembro no Sofitel Guarujá Jequitimar, Villa falou sobre “O futuro da Política no Brasil”, para os 150 líderes de tecnologia convidados para o encontro.
Conhecido por suas opiniões agudas e sem papas na língua, Villa não conseguiu esconder o pessimismo e a apreensão diante do cenário pré-eleitoral. De um lado, não descartou uma ameaça institucional com o retorno do PT ao poder com Fernando Haddad na Presidência. “As pessoas estão com medo do PT com motivo. Vai tirar o Lula da cadeia e tentar cercear a imprensa. O PT vai barbarizar”, afirmou.
Por outro ângulo, o comentarista também apontou o despreparo do candidato do PSL, Jair Bolsonaro, para assumir o comando do país, destacando os riscos de delegar ao economista Paulo Guedes um eventual posto de “superministro”. “Primeiro, o Bolsonaro não é o Collor, que tinha uma formação intelectual muito melhor. Segundo, eu temo essa história do Paulo Guedes, porque ele é conhecido no mercado por ser encrenqueiro. Ele mesmo já afirmou que, se houver alguma discordância, vai embora”.
Para o doutor em História Social pela USP e professor aposentado da UFSCar, a sociedade civil, incluídas as lideranças do setor privado, precisam se manter alertas e manter a pressão sobre a classe política. “Em 2019 continuaremos num cenário de crise, com crescimento próximo a zero, um Congresso ruim e sem renovação no sistema político, por isso precisamos nos manter mobilizados para cobrar quem estiver no poder”, ponderou.
A pressão social e surgimento de novas forças políticas, acrescentou Villa, tiveram papel importante desde o fim da escravidão e nos momentos mais emblemáticos da República no Brasil. Desde a fundação do Estado Novo, em 1930, passando pela mobilização pró-democracia ao fim da Segunda Guerra Mundial, até a entrada dos militares no Golpe de 1964 para dar um ponto final na crise deflagrada pela renúncia de Jânio Quadros na Presidência em 1961.
Depois que a intervenção militar deixou o status de transitória para mais de 20 anos de poder, novamente a pressão das ruas desembocou no movimento das Diretas-Já nos estertores da ditadura, quando o governo de João Baptista Figueiredo agonizava com a inflação descontrolada e a explosão da dívida externa.
“Não viemos parar nessa situação sem motivo”, destacou Villa, lembrando a reviravolta da entrada de José Sarney na Presidência, a perpetuação das oligarquias na vida política brasileira, o primeiro choque de extremos na disputa de Fernando Collor versus Lula, e o surpreendente sucesso da transição do governo Itamar Franco com o lançamento do Plano Real.
Nesse contexto, o historiador não perdeu a oportunidade para criticar também o PSDB, grande beneficiário do Real e seus oito anos de governo Fernando Henrique Cardoso, que também se envolveu em escândalos de corrupção com o ex-governador mineiro Aécio Neves. “Vivemos um momento em que todos os Poderes estão desacreditados pela população. É uma crise estrutural que só resolveremos com uma nova Constituição”, resumiu.
Texto: Arnaldo Comin
Foto: Marcos Mesquita/Experience Club
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