Abundância
IDEIAS CENTRAIS:
– Três forças para um crescimento exponencial: 1) O DIY (Do It Yourself), dando força ao inventor no fundo de quintal. 2) O dinheiro de ricos filantropos aplicado em desafios globais. 3) O bilhão ascendente dos mais pobres.
– A redução da pobreza está associada à democratização, incluindo liberdade de expressão, livre fluxo de informações e a promoção dos direitos humanos.
– Ensinar as crianças como cultivar a criatividade e curiosidade, ao lado de sólida base em pensamento crítico, leitura e matemática, é a melhor forma de prepará-las ao futuro.
– O LOC (Lab On a Chip) permitirá aos médicos e enfermeiras ou aos próprios clientes extrair amostra de líquido corporal (urina, saliva, sangue) para diagnósticos no local em minutos.
– Fornecer energia elétrica para um fogão [África] também ajudará a preservar as florestas ameaçadas e toda a linha de serviços de ecossistema que essas florestas fornecem.
SOBRE OS AUTORES:
Peter H. Diamandis é engenheiro, médico e empresário descendente de imigrantes gregos. É fundador e presidente da X Prize Foundation e cofundador da Singularity University. Ingressou no circuito aeroespacial, sendo cofundador e vice-presidente da Space Adventures.É coautor de “Abundância: o futuro é melhor do que você imagina” e “Bold”. Steven Kotler é escritor, jornalista e empresário americano. Além de coassinar as citadas obras, tem artigos publicados em mais de 70 veículos, entre eles New York Times, LA Times,Wired, Discovery, Time Magazine e National Geographic Adventure.
INTRODUÇÃO
“Ainda que ocorram muitas interrupções, violentas e angustiantes, ao longo do caminho, como este livro demonstrará, os padrões de vida globais continuarão melhorando, independentemente dos horrores que dominarem as manchetes”.
Essa é a tônica de “Abundância: o futuro é melhor do que você imagina”, o provocador ensaio que procura demonstrar como é possível obter um nível razoável de abundância que abranja toda a humanidade, incluindo bilhões de pessoas em situação de vulnerabilidade econômica e social pelo mundo afora.
A tese é uma tentativa de vencer as correntes negativas atuais, que ganharam força desde a crise de 2008 e os preceitos apresentados na obra deram origem ao evento Abundance360, que Diamandis pretende realizar por 25 anos seguidos em várias partes do mundo. Com uma abordagem sintonizada ao século 21, os autores fazem uma releitura do iluminismo, reforçando a crença do progresso contínuo, da evolução e do progresso.
O pano de fundo é o otimismo despertado pelas conquistas da tecnologia, que é um dos temas centrais do livro, junto com o poder transformador das ciências, a velocidade da comunicação e a nova economia digital.
Nos capítulos a seguir, apresentamos uma síntese do pensamento dos autores em busca de soluções de longo prazo para os grandes problemas do planeta.
DO IT YOURSELF
Há percalços, sim. Mas não incontornáveis. Por exemplo, diante das altas taxas de desemprego e execuções de hipotecas nos Estados Unidos, haveria clima para se alcançar a abundância global? Para Diamandis e Kotler, há. As pesquisas mostram que quanto mais rica, mais educada, mais saudável uma nação, menores são a violência e os distúrbios civis em meio à sua população. Qual a ferramenta para enfrentar os grandes desafios? A mente humana. Com a evolução da informação e da comunicação, entre outras forças.
Mas, se falamos de abundância, de como obtermos abundância satisfatória, existe um pano de fundo, a escassez. Diamandis e Kotler lançam mão do conceito OPL (One Planet Living – viver em um único planeta). Os recursos da terra para o crescimento global são cada vez mais escassos. OPL é uma tentativa global que combate essa escassez. A partir do conceito OPL vem uma perspectiva positiva. “A humanidade está adentrando um período de transformação radical em que a tecnologia tem o potencial de elevar substancialmente os padrões de vida básicos”.
Quais as tecnologias para obter um crescimento exponencial? Três forças são sugeridas para sua implementação: o DIY (Do It Yourself), valorizando os inventores de garagem. A segunda força é representada pelo dinheiro. Pelo dinheiro dos tecnofilantropos que investem nos desafios globais da abundância. Terceira força: o bilhão ascendente. A combinação de internet, microfinanças e tecnologia de comunicação está transformando os mais pobres dentre os pobres numa força de mercado emergente. Essas forças serão analisadas mais extensamente ainda nesta resenha. “Atuando juntas e com amplificação das tecnologias em crescimento exponencial, o antes inimaginável se torna agora possível”, concluem os autores.
“A humanidade está adentrando um período de transformação radical em que a tecnologia tem o potencial de elevar substancialmente os padrões de vida básicos”
A abundância consistiria em proporcionar uma vida de luxo para as massas desamparadas? Não. Uma vida de abundância requer ter as necessidades básicas satisfeitas e muito mais. Em última análise, abundância significa criar um mundo onde os dias de todos sejam gastos com sonhos e realizações, não só em luta pela sobrevivência.
PIRÂMIDE DE MASLOW
Para delinear melhor o conceito de abundância a ser alcançada pela humanidade como um todo, os autores se debruçaram sobre a pirâmide de Maslow, chamada “Hierarquia das necessidades humanas”. Esta pirâmide é um conceito criado pelo psicólogo norte-americano Abraham H. Maslow para explicar e ordenar as necessidades humanas. Ela apresenta cinco níveis de necessidades. Segundo Maslow, as necessidades de um nível devem ser preenchidas para avançar até o próximo nível. Daí o sentido de hierarquia. O primeiro nível é constituído pelas necessidades físicas, como ar, água, comida, calor, sexo e sono. Estas são seguidas por necessidades de segurança, como proteção, defesa, lei, ordem e estabilidade.
O nível do meio abrange amor e filiação: família, relacionamento, afeição e trabalho. Em seguida, vem o nível de estima: status, responsabilidade e reputação. No nível máximo entram as necessidades de autorrealização na ordem do crescimento pessoal, donde emerge o sentimento superior de servir a sociedade.
Esta pirâmide apresenta cinco níveis de necessidades humanas. Segundo Maslow, as necessidades de um nível devem ser preenchidas para avançar até o próximo.
Diamandis e Kotler montaram uma pirâmide semelhante, mas mais compacta, com três níveis. O nível in
ferior corresponde à comida, água, abrigo e outras preocupações básicas. O do meio inclui os catalisadores de mais crescimento, como energia abundante, oportunidades educacionais amplas e acesso a comunicações e informações globais. O nível mais alto compreende a liberdade e saúde, “dois pré-requisitos básicos que permitem ao indivíduo contribuir para a sociedade”.
Entre os inúmeros exemplos apresentados no livro, um deles envolve tecnologia na saúde e é conhecido como LOC (Lab On a Chip). Ele tem capacidade de resolver vários problemas de saúde utilizando um dispositivo do tamanho de um celular. O LOC permitirá aos médicos e enfermeiras ou aos próprios clientes extrair uma amostra de líquido corporal (como urina, saliva ou uma simples gota de sangue). Assim poderá realizar dezenas, até centenas de diagnósticos, no local, em questão de minutos. Segundo Diamandis e Kotler, o LOC trará assistência a bilhões de pessoas, barateando o acesso à saúde.
O PODER DA LIBERDADE
Outro item da pirâmide, compondo par com a saúde, é a liberdade. A cultura política vivida pelos autores leva-os a valorizar a liberdade como coluna da democracia. Graças ao impacto das ICTs (tecnologias de informação e comunicações), a dupla entrevê um alto potencial da liberdade para implementar o desenvolvimento econômico. Assim, eles acreditam na redução da pobreza e a democratização, incluindo “a liberdade de expressão, o livre fluxo de informações e a promoção dos direitos humanos”. Igualmente, saúde e a liberdade seriam, para os autores, o ápice da pirâmide.
Eles se interrogam sobre qual o tempo necessário para a humanidade atingir as metas de sua pirâmide. São bastante otimistas: 25 anos. Tendo como base o ano de 2010, eles projetam um mar de abundância para o ano de 2035. A parte 1 do ensaio discorre sobre os níveis da pirâmide. As partes 2, 3 e 5 são dedicadas às tecnologias envolvidas nessa mudança. A parte 4, por sua vez, examina as três forças que estão se juntando para possibilitar a abundância. A parte 6 analisa os meios de acelerar tal processo.
AS FORÇAS TRANSFORMADORAS
Voltando à questão das forças transformadoras, “Abundância” enfatiza o papel do Do it yourself (DIY) em exemplos práticos da vida americana, como o retorno parcial dos operários ao campo Para orientar os novos agricultores, criou-se o WEC (Whole Earth Catalog). Era o começo do DIY. Mas as possibilidades se multiplicaram com o computador pessoal, que permitiu o casamento da autossuficiência com a tecnologia. A grande vantagem é que os grupos de DIY podiam atacar problemas que antes eram só de domínio do governo e das grandes corporações.
Um exemplo citado pelos autores é o de Burt Rutan. Na corrida espacial, Rutan superou os caros programas espaciais do governo americano. Ele criou o SpaceShipOne (SS1), superando o X-15 da plataforma governamental. Em vez de custar bilhões e requerer força de trabalho de milhares, em 2004, o SS1 alçou voo com apenas US$ 26 milhões e uma equipe de 30 engenheiros. Qual a percepção que restou? Que um pequeno número de desenvolvedores pode ser muito mais produtivo que megaprojetos. O DIY mudou o paradigma. Também no rumo da abundância.
Um pequeno número de desenvolvedores pode ser muito mais produtivo que megaprojetos
Uma segunda força visualizada pelos autores é a contribuição dos tecnofilantropos. Eles se basearam no exemplo de grandes magnatas que se devotaram a causas humanitárias. Entre eles Bill Gates e Warren Buffett, que ergueram o Giving Pledge (Promessa de Doar), ao qual muitos outros bilionários se filiaram. Os tecnofilantropos estariam se tornando uma força significativa pró-abundância. Gates, por exemplo, doou US$ 10 bilhões para vacinas para erradicar doenças ao redor do mundo.
O bilhão ascendente
Finalmente, uma terceira força pró-abundância geral e irrestrita é analisada: a do bilhão ascendente. Os autores se reportam a um artigo de Stuart Hart e Coimbatore Krishnarao Prahlad, com o título “The Fortune at the Bottom of the Pyramid”. O artigo defendia uma coisa simples: os 4 bilhões de pessoas que ocupavam o estrato inferior da pirâmide econômica, o chamado bilhão inferior, tinham se tornado um mercado economicamente viável. Por esse motivo, os articulistas achavam que a base da pirâmide (bottom of the pyramid) não era um mercado qualquer, mas um mercado imenso, extraordinário.
Um exemplo comentado por Hart e Prahlad foi o do fabricante de brim Arvind Mills. Percebendo que o jeans na Índia custava entre 40 e 60 dólares, Mills mudou de estratégia. Criou um kit pronto para ser costurado de componentes do jeans: brim, zíper, rebites e um remendo ao preço de 6 dólares. Mais importante, os costureiros locais acabaram ganhando um mercado de trabalho inesperado. Esses jeans se tornaram os mais vendidos na Índia vencendo os megafabricantes, como a Lee. Para Hart e CK, o maior argumento de vendas foi social e não fiscal. Atender a esse mercado do bilhão ascendente, para os autores do ensaio, é uma atividade de desenvolvimento “capaz de tirar os pobres da pobreza”.
PENSAMENTOS EM DESTAQUE
Esses foram alguns rápidos enfoques sobre metas em direção à abundância, elaboradas por Diamandis e Kotler para o ano 2035. Serão possíveis até essa data? O tempo dirá. “E, como já deve estar claro, será uma senhora onda”, conclui a dupla de autores. Confira algumas passagens do livro:
Fogão elétrico na África
“O fogão elétrico é exemplo de uma solução interconectada. Um relatório da ONU de 2007 constatou que 100% de toda a remoção de madeira na África serve para obter energia. Portanto, fornecer energia para um fogão também ajudará a preservar as florestas ameaçadas e toda a linha de serviços de ecossistema que essas florestas fornecem. Serviços de ecossistema são coisas, como polinização das culturas, isolamento de carbono e regulação do clima. Ou ainda como purificação da água, purificação do ar, dispersão de nutrientes, reciclagem de nutrientes, processamento de refugos, controle de enchentes, controle de pragas, controle de doenças etc. que o meio ambiente oferece gratuitamente”
Educação pós-internet
“Nosso sistema atual [de educação] se baseia no aprendizado factual, mas a internet torna instantaneamente acessíveis quase todos os fatos desejáveis. Isso significa que estamos treinando nossos filhos em habilidades de que raramente precisam, enquanto ignoramos aquelas absolutamente necessárias. Ensinar as crianças como cultivar sua criatividade e curiosidade, ao mesmo tempo fornecendo uma base sólida em pensamento crítico, leitura e matemática, é a melhor forma de prepará-las para um futuro de mudança tecnológica cada vez mais rápida”
Nanociência
“Embora as preocupações com nanorrobôs e cenários catastróficos estejam a décadas de distância (provavelmente, além da linha do tempo deste livro), a nanociência já está fornecendo retornos incríveis. Portanto, nanocompósitos são agora bem mais f
ortes do que aço e podem ser criados por uma fração de custo. Nanotubos de carbono de parede única exibem uma enorme mobilidade de elétrons. Por isso estão sendo usados para aumentar a eficiência da conversão de energia nas baterias solares. E Buckminsterfullerenes (C60), ou Buckyballs, são moléculas em forma de bolas de futebol contendo 60 átomos de carbono. Com usos potenciais que variam de materiais supercondutores a sistemas de administração de remédios”.
Ensinar as crianças como cultivar sua criatividade e curiosidade, é a melhor forma de prepará-las para o futuro
Academia Khan
“Com o crescimento de usuários [Academia Khan], aumentaram também as matérias abrangidas. A Academia possui agora 2.200 vídeos sobre temas que variam de biologia molecular à história norte-americana e equações de segundo grau. Está crescendo três lições ao dia – quase mil ao ano – e planeja abrir o site e incluir conteúdo de colaboradores. ‘A nossa visão é uma escola virtual grátis’, diz Shantanu Sinha. ´Por este motivo, queremos desenvolver conteúdo suficiente para que qualquer pessoa no mundo possa começar pelo um mais um e avançar até a mecânica quântica… Achamos que, nesse nível, o site pode chegar a bilhões de visitantes ao mês’”.
O poder do smartphone
“Além dos serviços bancários, os telefones celulares agora promovem o progresso em todos os níveis de nossa pirâmide de abundância. Para a água, já existem informações fornecidas por SMS sobre tudo. Desde a lavagem das mãos até técnicas de conservação. Além disso, uma tecnologia pioneira transforma um smartphone em um dispositivo de teste da qualidade da água. Na área de alimentos, os pescadores podem verificar de antemão quais portos estão pagando mais. Portanto, antes de descarregarem seu pescado e agricultores podem fazer o mesmo, antes de trazerem suas frutas e legumes ao mercado, em ambos os casos maximizando seu tempo e receita”.
Ficha Técnica
Livro: Abundância: o futuro é melhor que você imagina
Título Original: Abundance: The Future Is Better Than You Think
Autores: Peter H. Diamandis (Autor) e Steven Kotler (Autor); tradução para o português de Ivo Korytowski
1ª Edição: Free Press 2012
Versão brasileira: HSM Editora
Texto: Rogério H. Jönck
Imagens: Reprodução e Unsplash
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