ESG

Tecnologia, dados e inclusão racial em debate

Por Françoise Terzian e Monica Miglio Pedrosa

No terceiro dia do Fórum CEO Brasil 2023, evento exclusivo do Experience Club realizado no Guarujá, SP, de 21 a 24 de setembro, quatro empreendedores trouxeram reflexões sobre o impacto da tecnologia e a inclusão racial para inovar nos negócios. Seja repensando o modelo de saúde, como é a proposta da Conexa de Guilherme Weigert, ou aplicando a inteligência de dados para trazer estratégia para os negócios, como a Zoox de Rafael de Albuquerque. A inclusão racial foi o tema das duas últimas palestras da manhã, cujos speakers foram Tom Mendes, diretor do Instituto Identidades do Brasil (ID_BR) e Fernanda Ribeiro, CEO e cofundadora da Conta Black.

A palestra inaugural de Guilherme Weigert, CEO e cofundador da Conexa, trouxe uma reflexão sobre a insustentabilidade do modelo atual de saúde. Segundo o executivo, nosso modelo é hospitalocêntrico. Os pacientes fazem, em média, 22 exames por ano e, como as consultas dos planos de saúde duram cerca de 10 minutos, é comum os pacientes quererem ouvir uma segunda, terceira ou até mesmo quarta opinião com outro especialista. Há ainda um alto índice de retorno, de mais de 30% em seis meses. Além disso, segundo ele, 85% dos casos poderiam ser resolvidos fora dos hospitais.

Uma experiência no Instituto do Coração fez Guilherme questionar ainda mais o modelo de saúde e uma nova proposta de cuidado. Enquanto as pessoas vão em média 1,5 vez ao pronto socorro por ano no Brasil, os pacientes do Incor iam em torno de 2 vezes por ano, mesmo sendo pacientes com casos mais graves e críticos. A receita dessa efetividade era o uso de uma tecnologia de fácil acesso, que aposta no cuidado e humanizado.

Guilherme Weigert, CEO e cofundador da Conexa Saúde

Guilherme fundou a Conexa em 2017 com um modelo de atendimento presencial em clínica com consulta online por especialistas, mas essa primeira fase não foi bem-sucedida. “As pessoas estão acostumadas a procurar por médicos especialistas há 20 anos. Para mudar essa cultura, somente migrando para uma experiência completamente nova, 100% digital”.

Com a pandemia, a Conexa passou a atender uma grande operadora de saúde e o negócio explodiu. Ela saiu de 2 mil atendimentos por mês no início de 2020 para mais de 500 mil atendimentos mensais hoje. A receita do sucesso é usar a tecnologia como meio, mas olhar a jornada do paciente como um todo, de forma preventiva e humana.

Segundo Guilherme, estamos vivendo um momento desafiador da saúde, as operadoras estão com R$ 12 bilhões de prejuízo e é hora de repensar todo o modelo. Nos Estados Unidos, 60% das empresas já trabalham gestão de saúde dos funcionários, assumindo o risco econômico dos planos. São empresas que contratam plataformas de saúde para o cuidado do time e essa é a proposta que ele vê para o nosso país.

Rafael de Albuquerque, fundador e CEO da Zoox

Inteligência de dados

Rafael de Albuquerque, fundador e CEO da Zoox, falou sobre sua trajetória como empreendedor até chegar à Zoox, empresa que faz enriquecimento de dados disponíveis nos bancos de informações já existentes. “Não basta ter dados. Precisa saber combinar e interpretar”, disse Rafael.

Com presença em 30 países, a companhia criou o que chama de primeiro marketplace com soluções de dados. A empresa reúne mais de 50 bilhões de conexões que acontecem quando ela se pluga nos Wi-Fis existentes em hotéis, aeroportos e outros espaços públicos e privados. A partir daí, quando a pessoa se conecta a um Wi-Fi e coloca o número do seu CPF, e-mail, CNH, entre outros dados, a Zoox consegue levantar informações variadas das pessoas a partir de bases de dados públicos e privados. Exemplo: se tem filhos, patrimônio, qual carro tem, processos judiciais.

Com essas informações em mãos, ela pode ajudar empresas a entender melhor quem são seus clientes ou onde poderão se aproximar de homens de 35 anos, por exemplo. “Por meio da tecnologia, ajudamos as empresas a conhecer melhor seus clientes e a vender mais”, promete Albuquerque.

Tom Mendes, diretor do ID_BR (Instituto Identidades do Brasil)

Inclusão Racial e diversidade

Os brasileiros, de forma geral, consideram o Brasil um país racista. Mas não se consideram pessoalmente racistas. Tom Mendes, diretor da organização sem fins lucrativos ID_BR (Instituto Identidades do Brasil), trouxe em sua apresentação números do instituto de pesquisa Ipec que mostram que 81% dos entrevistados consideram o país racista, mas apenas 11% se consideram desta maneira.

No país onde 55,8% da população é formada por pretos e pardos, o que se vê é um descolamento entre a realidade e as oportunidades. Hoje, eles ocupam 30% dos cargos gerenciais, 4,7% dos cargos executivos das 500 maiores empresas do Brasil e 4,9% sentam nas cadeiras dos conselhos administrativos de grandes empresas.

Em caso de dúvida, ele sugere fazer o teste do pescoço. Ou seja, olhar à sua volta e observar a diversidade no espaço. As pessoas negras, diz, já fazem essa varredura do ambiente naturalmente.

Apesar do cenário desfavorável, ele enumerou iniciativas que mostram um início de mudança nesse cenário. O que a gente ganha com isso? “Todo mundo ganha com mais inclusão. Para cada 10% de elevação da diversidade de gênero, observa-se uma adição de quase 5% na produtividade das instituições”, conclui Mendes.

Fernanda Ribeiro, cofundadora e CEO da Conta Black

Na última palestra do dia, Fernanda Ribeiro, CEO e cofundadora da Conta Black, ampliou o debate sobre inclusão racial e diversidade sob o viés da concessão de crédito. Primeiro banco voltado para negros no Brasil, a Conta Black atende hoje 49 mil empreendedores brasileiros. A iniciativa surgiu quando seu marido e cofundador da empresa teve o crédito negado para o seu negócio sem motivo aparente.

Criada em 2017, a Conta Black oferece uma experiência bancária que apoia o pequeno empreendedor e foi pioneiro no país. “Enquanto os negros são 56% da população brasileira e só existe o Conta Black para eles, nos EUA eles representam 12% da população e já têm 55 instituições financeiras lideradas por pessoas negras”, conta a executiva.

Hoje, a Conta Black está aumentando a jornada de produtos com foco em crédito. Na última semana, divulgou em Nova York o lançamento de um fundo de R$ 100 milhões com diversos parceiros para investir em empreendedores negros periféricos espalhados pelo Brasil. “Não queremos fazer nada sozinhos. Buscamos parcerias para ter mais impacto”, finaliza.

  • Aumentar texto Aumentar
  • Diminuir texto Diminuir
  • Compartilhar Compartilhar