Mercado

Cinco megatendências que estão redesenhando a economia global, segundo a BlackRock

Bruno Barino, Country Manager da BlackRock Brasil

Monica Miglio Pedrosa

Cinco grandes movimentos de transformação estão redirecionando os investimentos globais, tornando os países emergentes, como o Brasil, mais atrativos para investidores. Bruno Barino, Country Manager da BlackRock Brasil, abordou esses temas em sua palestra “Megatendências Globais e o Panorama Macroeconômico Brasileiro” durante o CEO Breakfast, evento do Experience Club Nordeste que reuniu um grupo de 140 CEOs e líderes empresariais da região na quinta, 2 de outubro, no Armazém Blu’nelle, em Recife.

Maior gestora global de investimentos, com US$ 12,5 trilhões sob gestão, a BlackRock atua em três grandes frentes: gestão de investimentos, incluindo ativos alternativos, como o aporte de US$ 1 bilhão realizado neste ano na Atlas Renewable Energy, de energia renovável; consultoria de mercados financeiros, que apoia instituições e governos em projetos complexos como o Arábia Saudita 2030, voltado a reduzir a dependência do petróleo e diversificar a matriz econômica; e tecnologia financeira. A empresa também é referência em ETFs (Exchange Traded Funds), fundos negociados em Bolsa que somam cerca de US$ 8 trilhões.

“Um dos grandes focos que temos adotado é o de posicionar o Brasil na captação de recursos para investimentos em infraestrutura”, afirmou Barino. O recém-firmado acordo com o governo do Paraná, para a criação de um fundo soberano de investimentos, que combina capital público e privado para financiar projetos de desenvolvimento econômico, é o primeiro passo nessa direção. Entre as prioridades, está o investimento em silagem, com demanda estimada em R$ 10 bilhões nos próximos anos.

Divergência demográfica

De acordo com Barino, cinco rupturas estruturais estão transformando a economia mundial: divergência demográfica, fragmentação política, transição energética, disrupção digital e o futuro das finanças. A divergência demográfica reflete o envelhecimento da população global e seus efeitos sobre crescimento e produtividade. “Nos próximos 20 anos, apenas a China terá 140 milhões de pessoas fora da população economicamente ativa”, destacou.

Esse fenômeno afeta o crescimento do país, amplia os gastos públicos com saúde e previdência, mas, ao mesmo tempo, abre oportunidades em setores ligados à longevidade, bem-estar e previdência privada. “Uma população que envelhece consome mais e produz menos. Isso exige políticas migratórias, incentivos à produtividade e novos produtos de investimento para sustentar esse ciclo”, completou, trazendo como exemplo o desenvolvimento de produtos de previdência mais eficientes realizado pela BlackRock na Alemanha.

Fragmentação geopolítica

A fragmentação geopolítica é outra força em curso, redesenhando o mapa de relações entre países e empresas. “Hoje é mais fácil prever onde o mundo estará daqui a sete anos do que daqui a sete dias, com toda a volatilidade que temos visto no mercado depois da eleição de Trump”, provocou Barino, enfatizando que a globalização está sendo redesenhada.

Se antes se guiava pela busca de eficiência e redução de custos, agora o foco é em resiliência, diversificação de mercados e uma tendência a modelos mais protecionistas, alinhados a interesses nacionais. O desafio para as empresas é o de diversificar cadeias de suprimentos, reduzir vulnerabilidades e identificar novas oportunidades de investimento em meio a esse cenário de reorganização global.

Transição energética

A terceira megatendência apontada por Barino é a transição energética para uma economia de baixo carbono, que vem redefinindo as prioridades de governos, empresas e investidores em todo o mundo. Se antes o foco estava apenas na eficiência de custos, hoje a segurança energética e a sustentabilidade das cadeias de produção tornaram-se fatores estratégicos.

Segundo ele, os recentes choques globais, como a guerra na Ucrânia, mostraram que a transição energética não pode prescindir de fontes seguras de geração e transmissão. O desafio é equilibrar o avanço das energias renováveis com a necessidade de resiliência, já que muitos países ainda enfrentam desafios de crescimento sustentável. Para a BlackRock, a resposta está em ampliar o papel do capital privado em projetos de infraestrutura, energia e inovação, especialmente por meio de mecanismos de blended finance, que combinam recursos públicos e privados para viabilizar investimentos de longo prazo.

“Quando pensamos em módulos solares, a oferta de produção que existe hoje é duas vezes maior do que a demanda e o preço vai cair, não tem mágica. O surgimento de novas tecnologias, como as geotérmicas e nucleares, demanda investimentos de longo prazo”, explicou.

Bruno Barino, André Farias, CEO do Experience Club Nordeste, e Nathan Nascimento durante o CEO Breakfast
Bruno Barino, André Farias, CEO do Experience Club NE, e Nathan do Nascimento

Disrupção digital

A disrupção digital, em especial com o avanço da inteligência artificial (IA), é a quarta grande transformação destacada por Barino. Na visão da BlackRock, o impacto da IA sobre a economia global será mais profundo do que o das revoluções industrial, elétrica ou da informação, por representar a primeira vez em que a tecnologia não apenas amplia, mas potencialmente supera a capacidade cognitiva humana. “O modo como países e empresas se adaptarem a essa revolução definirá sua competitividade no futuro”, afirmou.

Para a gestora, o ciclo de investimento em IA se divide em três ondas. A primeira é o build-out, voltado à construção da infraestrutura necessária, como geração de energia, produção de chips e construção de data centers. Apenas nessa etapa, estima-se uma demanda global de US$ 700 bilhões por ano até 2030. A segunda é a da adoção, quando as empresas incorporam a tecnologia em seus processos, o que pode gerar ganhos de eficiência, mas também pressões inflacionárias de curto prazo. E a terceira é a da transformação, na qual surgem novos modelos de negócios e fontes de receita.

No ano passado, a BlackRock criou, em parceria com a Microsoft, Nvidia e o governo da Arábia Saudita, um fundo de US$ 10 bilhões destinado a investimentos globais em IA.

Futuro das finanças

Para fechar o panorama das megatendências, Barino abordou o futuro das finanças, que redefine a relação entre empresas, bancos e investidores. Segundo ele, desde a pandemia, o sistema financeiro global entrou em uma nova era, na qual a intermediação tradicional perde espaço para formas mais diretas e tecnológicas de captação e crédito. “Quem tem dinheiro hoje acessa alternativas de investimento melhores do que comprar, por exemplo, um CDB bancário. Nos EUA, o volume dos depósitos caiu 5% em 2024 e segue em tendência de queda”, observou.

Para Barino, essa tendência também avança no Brasil, com o crescimento do crédito privado e a maior sofisticação dos instrumentos financeiros disponíveis. “As empresas precisam estar conectadas a essa mudança estrutural para aproveitar o aumento da concorrência e o surgimento de novas formas de financiamento”, concluiu.

Cenário econômico brasileiro

Nathan do Nascimento, gerente de portfólio da BlackRock Brasil
Nathan do Nascimento, gerente de portfólio da BlackRock Brasil, no palco do CEO Breakfast

Durante sua participação no CEO Breakfast, o gerente de portfólio da BlackRock Brasil, Nathan do Nascimento, trouxe a perspectiva do investidor estrangeiro sobre o país e o contexto dos mercados emergentes. Segundo ele, o desempenho positivo dos ativos brasileiros em 2025, com a desvalorização do dólar, que caiu para R$ 5,30, e a queda dos juros em cerca de 2 a 2,5 pontos percentuais ao longo do ano, está fortemente relacionado ao ambiente externo.

A combinação de enfraquecimento do dólar, endividamento crescente da economia americana e políticas tarifárias protecionistas tem levado à realocação de recursos para países emergentes, incluindo o Brasil. Além disso, o ciclo de corte de juros iniciado pelo Federal Reserve e replicado em outras economias abre espaço para maior tomada de risco, favorecendo investimentos em renda fixa.

Nascimento destacou ainda que os fundamentos econômicos dos países emergentes vêm se fortalecendo desde a pandemia. As agências de risco, que antes penalizavam essa classe de ativos, passaram a realizar mais upgrades do que rebaixamentos de nota em 2024 e 2025. Isso é um reflexo de políticas fiscais mais responsáveis, aumento das reservas internacionais e maior estabilidade das contas externas.

No caso do Brasil, o país segue bem-posicionado em indicadores como balança de pagamentos e dívida externa, mas ainda enfrenta desafios na área fiscal. O principal ponto de atenção, segundo o executivo, é a necessidade de um ajuste que estabilize a dívida pública, hoje próxima de 80% do PIB. “A descompressão do risco fiscal seria até mais relevante para a valorização dos ativos do que o próprio corte de juros”, concluiu.

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