Tecnologia

Palantir, a gigante de IA aliada da CIA e do governo americano

Alex Karp e Peter Thiel, CEO e fundador da Palantir

Uma empresa avaliada em cerca de US$ 450 bilhões e que, a partir de 2025, por meio de uma ordem executiva do governo Trump, passou a integrar dados de todas as agências federais dos Estados Unidos em suas plataformas de análise preditiva com inteligência artificial. Essa é a Palantir Technologies, que desperta opiniões contraditórias. Para alguns, ela representa a mais poderosa máquina de defesa e vigilância americana; para outros, um potencial “Big Brother”, já que passou a deter um poder quase ilimitado sobre os dados dos cidadãos americanos, levantando dilemas éticos sobre privacidade e direitos civis.

Essa fronteira se torna ainda mais tênue quando se observa a atuação da Palantir em zonas de conflito e nas políticas migratórias americanas. Um artigo da Bloomberg afirmou que a plataforma de inteligência artificial da empresa foi usada nos sistemas bélicos de Israel para detectar alvos durante o conflito com Gaza. Nos Estados Unidos, o serviço de Imigração e Controle de Aduanas (ICE, na sigla em inglês) firmou um contrato de US$ 29,8 bilhões com a Palantir para rastrear informações de imigrantes ilegais, no que críticos chamam de uma forma de “vigilância em massa institucionalizada”.

A história da Palantir começou em 2003, quando a empresa foi fundada pelo investidor Peter Thiel, cofundador do PayPal, que tinha a missão de criar um software capaz de identificar e impedir ações terroristas, um ano e meio após os atentados de 11 de setembro. A ele se juntou Alex Karp, CEO da companhia.

O primeiro aporte, de US$ 2 milhões, veio da In-Q-Tel, fundo de investimentos da CIA, a agência de espionagem norte-americana. O aporte ajudou a empresa a desenvolver a Gotham, plataforma usada para mapear redes terroristas, rastrear alvos e apoiar operações militares e de agências de inteligência. Em 2011, Gotham teria sido usada em operações dos Marines no Afeganistão e no Iraque, além da missão que levou à captura e morte de Osama bin Laden, segundo fontes militares citadas pelo jornal The Washington Post.

Parcerias secretas

Em 2012, a empresa iniciou uma parceria secreta com o Departamento de Polícia de New Orleans, para implementar um sistema de “policiamento preditivo”. A The Verge teve acesso a documentos que mostram que o projeto foi feito em caráter filantrópico, sem licitação formal, e que a parceria resultou no desenvolvimento de um sistema de previsão de crimes, que foi posteriormente patenteado pela Palantir e vendido a sistemas de inteligência internacionais. Especula-se que o sistema identificou indivíduos como de potencial risco sem a devida supervisão do poder público e sem o consentimento no uso dos dados.

Diferente do Gotham, a plataforma Foundry é usada no setor corporativo, unificando dados das diversas áreas de uma companhia para realizar análises preditivas de demanda, falhas na produção e comportamento de mercado. Entre os clientes estão Airbus, Ferrari, Merck, National Health Service (NHS) do Reino Unido e o J.P. Morgan.

O contrato com o J.P. Morgan levou a Palantir de volta às manchetes em 2018: a companhia usou a inteligência de dados que deveria monitorar seus funcionários em busca de comportamentos fraudulentos ou ilegais, mas o rastreamento acabou abrangendo e-mails, históricos de navegação, registros de acesso e ligações telefônicas, incluindo executivos de alto escalão.

Crescimento meteórico

Atualmente, a Palantir, avaliada em mais de 300 vezes o lucro projetado para 2025, está entre as preferidas de Wall Street, ao lado da Nvidia. Suas ações valorizaram 165% em 2025, um feito notável para uma companhia que levou 17 anos para registrar lucro.

Na semana passada, o renomado investidor Michael Burry, conhecido por prever a crise financeira de 2008, abriu uma posição de US$ 912 milhões contra a Palantir, apostando na queda de suas ações. Ele fez o mesmo com a Nvidia, em menor escala (US$ 187 milhões). A revelação provocou uma queda de 8% no preço das ações da Palantir, levando Alex Karp a reagir, dizendo que “se livrar das posições era uma loucura sem tamanho”.

Independentemente da aposta negativa de Burry, a ascensão meteórica da Palantir revela o poder de uma tecnologia que pode tanto ser usada como um instrumento de eficiência, como uma força que está na fronteira entre informação e controle, levantando, mais uma vez, discussões sobre regulação da IA e do uso de dados.

Imagem: Alex Karp, CEO da Palantir, e Peter Thiel, fundador

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