“A Embraer está preparada para uma expansão ainda mais ambiciosa nos próximos 20 anos”

Monica Miglio Pedrosa
Uma companhia respeitada internacionalmente e reconhecida por sua excelência no setor da aviação, a Embraer projeta uma receita de US$ 7,5 bilhões para 2025, além de ter gerado US$ 2 bilhões de caixa livre nos últimos cinco anos. Sob o comando de Francisco Gomes Neto, a empresa vive seu melhor momento e mira alcançar uma receita de dois dígitos em bilhões de dólares antes de 2030, apesar das sucessivas crises enfrentadas desde que assumiu como CEO em 2019.
Francisco, então CEO da Marcopolo, foi abordado por um headhunter durante uma viagem a Mumbai, na Índia. Após passar pelo processo seletivo e assumir a liderança da Embraer, recebeu a missão de definir a estratégia da nova fase da companhia, após o acordo firmado com a Boeing em 2018.
Porém, em 2020, além de ter de lidar com o cancelamento da joint-venture pela Boeing, o executivo precisou enfrentar uma sequência de crises externas: a pandemia de Covid-19, a guerra na Ucrânia e seus efeitos na cadeia de suprimentos, a hiperinflação do dólar, e a imposição de uma alíquota de 10% sobre as exportações para os Estados Unidos, tarifa que quase subiu para 50%.
“Se não tivesse sido revertida, a tarifa de 50% teria causado uma crise pior que a Covid-19 para o negócio”, afirmou Francisco durante a Confraria de CEOs, evento que reuniu ontem cerca de 110 CEOs e líderes de grandes empresas na Experience House, em São Paulo.
Ele trouxe para a Embraer a disciplina e a cultura de execução adquiridas em mais de 25 anos em empresas alemãs da indústria automobilística, habilidades essenciais para atravessar cada uma dessas crises. Em 2020, com a queda da receita em mais de 30% devido à pandemia, precisou tomar a difícil decisão de reduzir 4 mil funcionários de um total de 21 mil. Além disso, criou uma área dedicada de supply chain e implementou diversas mudanças nos processos internos.
As medidas permitiram que a Embraer saísse de um caixa negativo de US$ 900 milhões em 2020 para US$ 300 milhões positivos em 2021, swing financeiro de US$ 1,2 bilhão em apenas doze meses.
Confira, a seguir, os principais insights da palestra do executivo:

Origens
“A Embraer nasceu de um sonho. Na década de 1940, o marechal Casimiro Montenegro teve uma visão e queria fabricar aviões no Brasil. Mas antes de construir aviões era preciso ter engenheiros aeronáuticos. Ele fez uma missão para Boston, no MIT, e conversou com o head de engenharia aeronáutica de lá. Trouxe sete ou oito doutores para o Brasil e fundou, em 1950, o ITA. Depois de alguns anos, um desses engenheiros formados no ITA, o Osiris Silva, criou um projeto de avião, que depois se tornou o Bandeirante, o primeiro produto da Embraer.”
Capacitação
“Até hoje respeitamos esse legado, investimos muito em educação. Temos um programa chamado PEE, Programa de Especialização de Engenharia. Todos os anos, selecionamos 50 engenheiros do Brasil todo, damos um salário de R$ 5 mil por mês, eles fazem um ano e meio de MBA em Aeronáutica no ITA. Depois disso eles são convidados a trabalhar conosco. Hoje, 30% desses engenheiros selecionados são mulheres.”
“Temos ainda um outro programa de especialização em software com a Universidade Federal de Pernambuco, porque a Embraer desenha os softwares dos próprios aviões.”
Inovação
“A estratégia da Embraer é simples e tem dois pilares principais: eficiência e inovação. Mas aqui, a inovação tem que ser voltada também para o resultado. Inovar porque está na moda não é o caso da Embraer. Temos uma série de iniciativas, mas elas precisam ajudar a resolver um problema de eficiência ou virar um produto ou serviço.”
“Definimos algumas verticais de inovação: voo autônomo, propulsão com baixa emissão de carbono, eficiência do airframe e da fuselagem, inteligência artificial e experiência do passageiro. O eVTOL (electric vertical take-off and landing), que é 100% elétrico, é uma dessas inovações.”
Inteligência artificial
“Temos três frentes na digitalização e uso da inteligência artificial. Gestão dos inventários — pois temos US$ 3,5 bilhões em inventário, com 300 mil part numbers —, engenharia e desenvolvimento de produtos e serviços. Em 2026 vamos acelerar ainda mais o uso da tecnologia para aumentar a eficiência.”
Estilo de liderança
“Não sou um executivo sofisticado, que conhece grandes teorias de administração. Gosto de coisas simples. Complexidade é inimiga da execução. Recomendo o livro Smart Brevity, que estimula as pessoas a falarem menos, comunicar de forma mais rápida e direta ao ponto”.
“Gosto de olhar as coisas importantes pessoalmente. Revisamos a cada três meses nossas iniciativas estratégicas. São dois dias inteiros dedicados a isso.”
“Humildade é fundamental. A Embraer não tem lugar para a arrogância. Se vocês encontrarem alguém lá com tons de arrogância, me liguem imediatamente, porque não é esse o estilo da companhia. Não importa o sucesso que fazemos, queremos seguir crescendo, mas com simplicidade.”
Impacto global
“Só nos Estados Unidos, os aviões da Embraer transportam quase 100 milhões de passageiros por ano.”
“No mundo inteiro, temos mais de 5 mil aviões da Embraer voando. A cada 10 segundos um avião da Embraer decola de algum aeroporto no mundo todo.”
“Temos presença em mais de 100 países, somos totalmente globalizados. Temos operações nos Estados Unidos, com mais de 2.500 funcionários, escritório em Lisboa, Amsterdã, China, Singapura, temos warehouse na França.”
Estratégia e execução
“Nossa estratégia é simples, com foco na execução. A cada três meses definimos 16 iniciativas estratégicas para a empresa inteira, que é composta por quatro divisões: aviação comercial, aviação executiva, defesa e segurança, serviços e suporte. Ainda temos o eVTOL, que é uma subsidiária da Embraer, cujo headquarter fica na Flórida, mas com todo suporte de engenharia em São José dos Campos.”
ESG
“A Embraer está muito engajada e comprometida em apoiar o segmento da aviação a alcançar o carbono neutro até 2050 e temos um plano para isso. Primeiro com nossos aviões, que são super eficientes. Nossa nova família consome 30% menos combustível que a geração anterior. A outra frente é a de produtos novos como o eVTOL, que é 100% elétrico.”
“Uma contribuição importante para aviões maiores é o uso do SAF (Sustainable Aviation Fuel). Estamos trabalhando com várias outras empresas para ajudar a desenvolver esse combustível e o Brasil pode ser um protagonista nisso. Nossos aviões já podem operar com até 50% de mistura e esperamos operar com até 100% de SAF até o final da década de 2030.”
Visão de futuro
“Esse ano investimos muito em tecnologia nos seis pilares de inovação, porque estamos pensando na Embraer do futuro e nos novos portfólios de produtos da companhia. Temos muitas pessoas estudando quais seriam as melhores alternativas e, na hora que decidirmos, queremos estar preparados com as novas tecnologias.”
“O primeiro teste de decolagem do eVTOL será agora em dezembro ou no início de 2026. Queremos entrar com ele em operação até 2027.”
“Não acredito que teremos aviões comerciais autônomos no curto prazo. Estamos trabalhando em simplificar a operação dos pilotos. Antes, os aviões precisavam de três pilotos na cabine, agora são necessários apenas dois. Talvez comecemos por aviões cargueiros cruzando oceanos de forma autônoma.”
“A Embraer está mais forte do que nunca e está pronta para alçar voos cada vez mais altos. Nos próximos 20 anos imaginamos uma expansão muito mais ambiciosa.”

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