Bidweb expande atuação para o segmento de saúde e cria Bidhealth em parceria com MV Saúde

Monica Miglio Pedrosa
A crescente digitalização e uso de tecnologias na área da saúde estão ampliando significativamente os ataques hackers no segmento. Relatório da Kaspersky apontou que, em 2024, ataques de ramsonware (sequestro de dados) levaram o setor a saltar da sétima para a terceira posição no ranking dos mais atacados, atrás apenas de serviços e governo. “Há um gap crítico na proteção de dados sensíveis no setor de saúde, um ambiente que lida com informações altamente confidenciais, mas que ainda sofre com uma infraestrutura defasada e de baixíssima maturidade em governança de dados”, diz Flávia Brito, CEO e fundadora da Bidweb, empresa de cibersegurança localizada no Porto Digital, em Recife.
É neste cenário que nasce a Bidhealth, empresa criada pela Bidweb em parceria com a MV Saúde e especializada em cibersegurança hospitalar. Lançada há apenas dois meses, a companhia tem atuação nacional e já conquistou mais de 10 clientes, entre hospitais e operadoras de saúde (os nomes não podem ainda ser revelados). A oferta de serviços é modular e inclui desde assessment até o monitoramento contínuo de vulnerabilidades, passando por análise de risco, resposta a incidentes e conformidade com regulamentações como a LGPD e outras normativas do setor de saúde.
A criação da Bidhealth representa ainda uma evolução estratégica da Bidweb, fundada em 2002 por Flávia, e que hoje atende mais de 3 mil clientes em São Paulo, Brasília, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Recife. A verticalização da atuação por setores deve continuar sendo uma diretriz para a expansão da companhia. “Queremos oferecer nossas soluções em setores regulados como telecomunicações e o setor financeiro”, afirma.
Não existe uma segurança 100%. Se você não está sendo atacado, você foi ou você será.”
Essa ampliação de foco acompanha a evolução do próprio posicionamento estratégico da Bidweb em 2025, que passou a tratar a cibersegurança como uma pauta de negócio e de reputação institucional, e não apenas um tema técnico. “Com o aumento dos conflitos geopolíticos, os ataques cada vez mais sofisticados e a crescente demanda e dependência de terceiros nos ecossistemas digitais, a cibersegurança precisa ser integrada à estratégia do negócio e não tratada apenas como resposta emergencial”, afirma Flávia.
Para a CEO, a próxima fronteira da cibersegurança será proteger dados e ativos em ambientes cada vez mais distribuídos e complexos — que combinam cloud, data centers e estruturas on-premises —impulsionados por inteligência artificial e internet das coisas. “A segurança precisa estar integrada ao desenho das soluções, o que chamamos de security by design”, defende, ao argumentar que muitas empresas falam sobre o conceito, mas ainda não o aplicam. “É preciso trazer segurança para a estratégia do negócio.”
IA: hackers X cibersegurança
Com a democratização do acesso à inteligência artificial, ampliam-se também as preocupações com a segurança da informação. Se, por um lado, hackers têm se aproveitado da tecnologia para criar ataques mais sofisticados, a cibersegurança também vem usando a IA como aliada na defesa. “As empresas podem responder rápido às ameaças com detecção comportamental, respostas automatizadas e threat hunting inteligente. É uma corrida bem apertada, mas aí que a inteligência defensiva deve ser usada de forma estratégica como vantagem competitiva”, afirma.
Além da saúde, queremos oferecer nossas soluções em setores regulados como telecomunicações e o setor financeiro.”
Nesse jogo de forças, o fator humano continua sendo o elo mais vulnerável da equação. Para Flávia, a conscientização em segurança digital não pode ser uma ação pontual, mas sim uma prática contínua e contextualizada. “As campanhas internas nas organizações precisam ter um cronograma bem definido. É preciso investir em simulações de ataque e as comunicações devem ser simples e objetivas, para que todas as pessoas compreendam”, explica.
Mulheres em cibersegurança
A formação contínua é também uma condição essencial para quem deseja atuar no setor de tecnologia. Flávia está atualmente fazendo doutorado em engenharia de software com foco em cibersegurança pela Cesar School – instituição com nota máxima (5) no Índice Geral de Cursos do MEC – e defende que o conhecimento técnico deve caminhar lado a lado com a prática de mercado. “É importante trazer o conhecimento acadêmico para o mundo dos negócios, com teses bem desenvolvidas, e sair do achismo”, diz.
Além dos estudos, sua rotina inclui participação em eventos especializados como o Mind The Sec e fóruns técnicos de fabricantes líderes de mercado. Flávia também integra grupos de pesquisa, mentoria e conselhos técnicos. nacionais e internacionais. A executiva reforça que a internet é uma ferramenta poderosa de aprendizado, mas que exige curadoria, disciplina e constância.
Eleita em 2020 uma das 50 mulheres referência em cibersegurança na América Latina pela WOMCY (LATAM Woman in Cybersecurity) e pela WISECRA (Women in Security & Resilience Alliance) — organizações que promovem a presença de mulheres no segmento —, Flávia atua ativamente para ampliar a participação feminina na tecnologia. Na Bidweb, o programa Mulheres em Ciber está em sua terceira edição e é realizado em parceria com o Porto Digital, a Trend Micro Brasil e a Associação Brasileira de Empresas de Software (ABES), com o objetivo de ampliar a presença de mulheres em cibersegurança. A cada ano, entre 20 e 25 mulheres passam pelo programa e a meta é chegar a 100 até 2027. Outra iniciativa da WONCY apoia mulheres em transição de carreira que desejam atuar em cibersegurança. Atualmente, 47% do time da Biweb é composto por mulheres.
Uma grande empresa perguntou recentemente a Flávia como ela conseguia contratar mulheres para a área de tecnologia: “Respondi que invisto, acredito, ajudo, treino. Fazemos a nossa parte. Não porque ela é mulher, mas porque tem capacidade e, ao receber a oportunidade, a pessoa decola”, acredita.
Com um crescimento de 50% em 2024, a expectativa da Bidweb é seguir em expansão em 2025, consolidando sua atuação nacional e também a trajetória da Bidhealth. A empresa tem investido em novas frentes, como a aplicação de inteligência artificial na segurança cibernética e na automação de respostas a incidentes.
Para a executiva, desenvolver tecnologia e inteligência nacionais é também uma estratégia de soberania. “Vivemos um cenário geopolítico complexo. Usar soluções de terceiros é importante, mas não podemos depender apenas disso. Conectar várias frentes de cibersegurança de forma agnóstica é uma maneira de democratizar o acesso e construir uma estratégia local, alinhada aos desafios e necessidades do nosso país.”
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