ESG

Com a maior matriz energética renovável do G20, Brasil pode liderar a transição para finanças verdes

Painel Febraban Tech

Monica Miglio Pedrosa, do FEBRABAN Tech

A menos de cinco meses da COP30, que colocará o Brasil no centro das atenções globais sobre clima, o sistema financeiro brasileiro se prepara para assumir o protagonismo da transição para finanças verdes. Um dos indicadores deste movimento é a criação de uma trilha temática de conteúdos dedicada à COP30 durante o FEBRABAN Tech, principal evento de tecnologia e inovação do setor financeiro, que acontece de 10 a 12 de junho em São Paulo.

No painel “A jornada para a COP30 no Brasil: como a bioeconomia e a biodiversidade podem amplificar a economia e os investimentos”, realizado ontem, executivos do Banco do Brasil e do BNDES e líderes do Pacto Global da ONU e da OSCIP Sitawi, defenderam que o país tem condições de transformar sua biodiversidade em ativo econômico, mas é preciso atrair bancos e crédito privado para esses projetos.

“Não dá para ter secas na Amazônia e inundação no Rio Grande do Sul e achar que a Faria Lima não será afetada. A questão climática é um problema sistêmico”, argumentou Bruno Girardi, Diretor de Investimentos de Impacto da Sitawi, que mobiliza capital para projetos de impacto socioambiental. Segundo Girardi, em 2022 houve cerca de R$ 1 trilhão em investimentos de impacto no Brasil, enquanto mais de R$ 100 trilhões foram direcionados para investimentos tradicionais.

O Vice-presidente de Negócios, Governo e Sustentabilidade do Banco do Brasil (BB), José Ricardo Sasseron, destacou que o banco, que é o principal agente financeiro da agropecuária brasileira recusou R$ 14 bilhões em crédito em 2024 para o setor por falta de conformidade com os requisitos ambientais. Ele enfatizou ainda a atuação do BB na Amazônia, em que equipes especializadas em bioeconomia levam a comunidades desbancarizadas linhas de crédito para desenvolver projetos inovadores na região.

Não dá para ter secas na Amazônia e inundação no Rio Grande do Sul e achar que a Faria Lima não será afetada. A questão climática é um problema sistêmico.”

Bruno Girardi , Diretor de Investimentos de Impacto da Sitawi

O ETF Amazônia para Todos, criado pelo BB em parceria com o BID e o BNDES, permitirá a investidores pessoa física aplicar em renda fixa, apoiando projetos de impacto. “Uma oportunidade para qualquer brasileiro participar da construção de uma economia mais sustentável”, disse Sasseron.

Brasil na liderança climática

Luciana Costa, Diretora de Infraestrutura, Transição Energética e Mudança Climática do BNDES, foi energética ao dizer que a COP30 é a grande oportunidade que o país tem para se posicionar como um grande líder climático mundial. “Nós já temos a matriz elétrica mais renovável dos países do G20. Nosso mix energético é 50% renovável, enquanto a média dos países da OCDE é de 14%. O mundo vai chegar aonde o Brasil já está apenas em 2040”, destacou.

Luciana lembrou ainda que o BNDES é o maior financiador mundial de projetos de energia renovável. “Temos a maior biodiversidade do mundo. Somos capazes de exportar créditos de carbono e contribuir para a descarbonização global. Nosso governo federal é muito focado no plano de transformação ecológica”, disse, reforçando os motivos pelos quais o Brasil tem diversos exemplos para mostrar ao resto do mundo.

O BNDES é, ainda, na visão da executiva, um grande indutor da alocação de recursos dos investidores privados. Segundo ela, quando a energia eólica e solar começou no Brasil, o papel dos bancos de fomento foi muito importante para viabilizar o crescimento em escala. “Hoje esses projetos dão retorno com investimento privado”, disse. “Se juntarmos nossa liderança climática com nosso sistema financeiro extremamente sofisticado, mostraremos que a agenda de sustentabilidade é rentável”, concluiu.

Nós já temos a matriz elétrica mais renovável dos países do G20. Nosso mix energético é 50% renovável, enquanto a média dos países da OCDE é de 14%. O mundo vai chegar aonde o Brasil já está apenas em 2040″

Luciana Costa, Diretora do BNDES

Mônica Gregori, Diretora de Impacto do Pacto Global da ONU – Rede Brasil, defendeu que o setor financeiro é capaz de impulsionar um novo modelo econômico e de desenvolvimento mais alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).  “Os bancos têm a responsabilidade de mudar o rumo do nosso desenvolvimento e também o dever de olhar para onde precisa tirar o pé e deixar de investir, como em práticas e setores que vão contra a economia de baixo carbono ou que usam trabalho escravo”, defendeu.

Para ela, a COP30 será vitrine do que o Brasil já faz e do que ainda precisa fazer para levar instrumentos de financiamento sustentável no país. “Precisamos sair da dicotomia de que se algo gera impacto não é rentável e se é rentável não gera impacto. Já existem milhares de exemplos de que essa equação fecha”, concluiu.

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