Como as empresas podem se preparar para os impactos do ‘tarifaço’ do governo Trump?

Monica Miglio Pedrosa
Desde que o governo dos Estados Unidos anunciou que pretende impor uma sobretaxa de 50% sobre produtos brasileiros a partir de 1º de agosto, associações setoriais, empresas e sindicatos dos setores mais expostos começaram a se mobilizar para mensurar o impacto dessa possível decisão e construir alternativas de mercado.
Mesmo que a medida ainda possa ser negociada ou adiada, o pior erro das empresas neste momento é não se preparar ou subestimar o impacto desse movimento geopolítico sobre a economia brasileira. “Apesar do compasso de espera quanto ao desfecho desse anúncio, é preciso montar de dois a três cenários e, de acordo com o que for se materializando, tomar decisões”, afirma Fabio Yoshitome, sócio da Kearney e líder da prática de Operações da consultoria no Brasil.
Segundo Fabio, entre os setores mais afetados — como o agronegócio, especialmente proteína animal e laranja, petróleo e aviação — algumas medidas concretas já estão sendo tomadas, com uma postura mais conservadora na produção para evitar estoques parados ou perda de margem. “Algumas empresas também estão tentando acelerar as exportações, usando mecanismos criativos para escapar da sobretaxa e adiar o impacto no P&L. Há, ainda, uma busca por outros mercados, como China, Índia, Canadá e até México, como alternativas para exportação de produtos”, relata.
Além dos impactos de curto prazo, a incerteza gerada pela possível sobretaxa tende a desacelerar decisões de alocação de capital em empresas que estavam em processo de expansão, seja com investimentos em novas fábricas ou na preparação para atender novos mercados. “Isso é péssimo para a economia no médio e longo prazo”, avalia Fabio.
Caso a sobretaxa se concretize e o Brasil adote medidas de reciprocidade, o encarecimento das importações irá atingir outros setores não envolvidos diretamente nessa discussão inicial, afetando, por exemplo, itens utilizados em equipamentos, o que pode comprometer investimentos e capacidade de produção.
À medida que o acesso ao mercado norte‑americano se torna mais incerto, empresas aceleram a diversificação geográfica de fornecedores e clientes, movimento iniciado durante a pandemia. A participação da China, que já vinha ganhando espaço nas trocas comerciais com o Brasil e lidera o ranking de parceiros comerciais do país, tende a crescer ainda mais, preenchendo parte do vácuo deixado pelos Estados Unidos, segundo maior destino dos produtos brasileiros.
Em momentos de incerteza como o atual, empresas com processos internos mais maduros e maior integração entre as áreas como finanças, jurídico, comércio exterior e manufatura ganham agilidade na troca de informações e construção de cenários. Para Fabio, isso oferece ao CEO e aos stakeholders dados mais sólidos para a tomada de decisões.
Nesse contexto, a Kearney desenvolveu o Modelo de Impacto Tarifário, uma solução integrada que combina inteligência artificial, modelagem de cenários e consultoria especializada para apoiar empresas na análise dos efeitos de tarifas comerciais, ajudando a definir estratégias para proteger margens e mitigar perdas. A consultoria tem atuado, junto a alguns clientes, na construção do plano de ação para determinados cenários podendo usar, inclusive, dados internos da operação.
Diante de um cenário global cada vez mais volátil, a combinação entre análise de dados, planejamento estruturado e governança ágil se torna um diferencial competitivo das organizações. Mais do que uma crise pontual, o ‘tarifaço’ é apenas mais um dos fatores para que as empresas estejam cada vez mais preparadas para lidar com riscos geopolíticos como parte permanente de sua estratégia de negócios.
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