Como gerenciar ambientes tecnológicos complexos de forma simples
Marcos Lacerda, presidente da SUSE América Latina, fala sobre ferramentas que permitem administrar sistemas de TI multicloud ou híbridos de maneira eficaz, para dar agilidade e escala aos negócios
Muitas empresas fazem uso de programas e aplicativos que operam somente na nuvem (cloud). No entanto, muitas outras encontram-se em processo de migração para esse ambiente digital, frequentemente usando mais de um tipo de nuvem. E ainda há aquelas que optam ou precisam utilizar um modelo ainda mais híbrido, utilizando tanto data centers como uma ou mais nuvens. Seja qual for a situação, o objetivo é sempre o mesmo: fazer com que a transformação digital atue a favor da inovação e da prosperidade dos negócios.
Gerenciar esses ambientes muitas vezes complexos de forma simples, eficaz e ágil é um imperativo. A SUSE, empresa open source (código aberto) que há 30 anos comercializa o sistema operacional Linux, avança na oferta de soluções para melhor gerir sistemas multicloud e infraestrutura para TI, com ferramentas como contêineres e Kubernetes. Esses termos, que já começam a se tornar familiares, estão relacionados a formas para melhor organizar e facilitar o uso de um número crescente de programas e aplicativos que são necessários para o dia a dia da operação de uma empresa.
Nesta entrevista, Marcos Lacerda, presidente da SUSE para a América Latina, explora as oportunidades que essas ferramentas trazem para as organizações, como elasticidade de ambientes de TI, redução de custos e segurança reforçada. Também conta que os líderes de TI brasileiros estão entre os mais abertos no mundo para a adoção de tecnologias open source. Confira os principais trechos da conversa.
Nem todos conhecem a fundo como funcionam o Kubernetes e a organização de soluções em contêineres – uma frente em que a SUSE tem ampla expertise. Em síntese, o que é importante saber sobre eles para entender sua conexão com os negócios e a inovação?
Contêineres e Kubernetes não são tecnologias novas, mas elas evoluíram ao longo dos anos e chegaram agora a um ponto de maturidade. Hoje as empresas usam contêineres para garantir elasticidade e escalabilidade de seus ambientes e também para otimizar uso de hardware, reduzir custos, reforçar a segurança e ter alta disponibilidade do ambiente. Note que tudo isso são características que normalmente ouvimos sendo atribuídas à nuvem. E é esse o grande atrativo dos contêineres: trazem vários atributos que você encontra de forma nativa na nuvem para um ambiente distribuído, que às vezes está parte na nuvem e parte no data center, ou on premises. Você usa a ferramenta de contêineres para organizar isso e, quando esse ambiente começa a se tornar um pouco mais complexo, com contêineres e clusters de contêineres, vem uma camada adicional de Kubernetes, que traz ferramentas para gerenciar tudo isso, trazendo praticidade para as empresas.
Tem mais um ingrediente nesse caldeirão do mundo híbrido de nuvem e on premises, que é o edge computing. É algo que está cada vez mais presente nos planos de empresas e, até pela quantidade de devices e de sensores envolvidos, traz o desafio adicional de gerenciamento. E a beleza disso tudo é que existem ferramentas de Kubernetes que também alcançam esse mundo de edge computing.
Em cima de tudo isso há uma última camada, que é a de ferramentas de orquestração de Kubernetes, que traz um grande benefício para as empresas: ela consegue, em uma única interface, ter o gerenciamento de tudo isso: do ambiente on premises, da nuvem, do edge computing. A ferramenta SUSE Rancher, por exemplo, traz essa interface única de orquestração de Kubernetes.
A SUSE adquiriu a Rancher Labs em 2020. O que isso significou para a empresa e para seus clientes na América Latina e, mais especificamente, no Brasil?
A SUSE adquiriu a Rancher, que agora dá nome ao nosso produto (SUSE Rancher) de orquestração de Kubernetes, há pouco mais de um ano. Isso enriqueceu nosso portfólio, e a forma como interagimos com os clientes agora vai além do nosso business tradicional de Linux. Na América Latina não é diferente, mas percebemos que, nessa região, a ferramenta Rancher já era amplamente utilizada. No Brasil, é usada tanto pelo setor público quanto privado. Temos uma versão Community, gratuita, que é fácil de instalar e simples de usar. Mas o que está acontecendo agora é que as empresas estão levando a solução Rancher para seu ambiente de produção, para fazer atendimento a clientes, vendas e transações on-line, com os aplicativos rodando em contêineres e, quando isso acontece, elas precisam de suporte e assistência. Nós entramos oferecendo esse tipo de serviço.
A estratégia de uma empresa optar pelo modelo híbrido de nuvem e on premises é algo temporário? O objetivo final é migrar totalmente para nuvem ou é apenas uma escolha de forma de atuação?
Cada empresa tem a sua explicação para essa pergunta. Algumas definem um plano de full migration, para mudar 100% para nuvem. Outras empresas veem valor em migrar somente algumas aplicações. Muitas empresas, inclusive, decidem que toda nova aplicação deve nascer na nuvem, mas que o que já está rodando on premises permaneça assim. Então, cada organização define sua estratégia.
A SUSE é conhecida como uma empresa de open source. Como está o cenário brasileiro nessa área? Que setores estão avançados e quais são os mais promissores?
Aqui no Brasil existe uma receptividade maior a esse tipo de tecnologia. Fizemos uma pesquisa, recentemente, que mostrou que o líder de TI brasileiro é um dos mais abertos no mundo para abraçar open source como ferramenta de inovação. Uma característica importante do open source é que é uma forma de evitar o lock in, termo usado para se referir a uma situação em que você eventualmente fica refém de uma tecnologia proprietária, tanto do ponto de vista técnico como comercial.
No Brasil, o setor público é um grande adepto de open source, em suas esferas federal, estadual e municipal. No setor privado, destacaria a manufatura, o varejo e os serviços financeiros, que estão despontando no momento. Hoje vemos muitos bancos e seguradoras, que, talvez por estarem em um momento de redução de custo e otimização e buscando serem tão inovadoras quanto as fintechs, estão cada vez mais abertos a adotar ferramentas de open source em seus ambientes de TI. Uma questão importante para mencionar é que o Linux, que comercializamos há 30 anos, continua firme e forte, acompanhando todo esse movimento. Conforme os clientes migram para a nuvem, eles acabam levantando instâncias de servidores na nuvem baseados em SUSE Linux.
Quando falamos em open source, há um amplo ecossistema de parceiros envolvidos. Que rotas de parceria se abrem e como isso ajuda a inovar nos negócios?
Em primeiro lugar, não podemos deixar de falar na comunidade open source. São 56 milhões de desenvolvedores espalhados pelo mundo. É um exército enorme de gente da qual dependemos para fazer updates e melhorias de forma ágil nas ferramentas open source que oferecemos ao mercado. Aí vem o segundo membro desse ecossistema, que são os nossos parceiros, aqueles que efetivamente entendem as dores e as necessidades do cliente. Dependemos muito deles, também, e na América Latina e no Brasil não é diferente. Em função da aquisição da Rancher e do consequente enriquecimento de portfólio, buscamos agora parceiros com perfil um pouco mais consultivo.
Por que esse ecossistema de parceiros é tão importante para a SUSE?
Aqui na América Latina, estamos de frente para uma oportunidade de crescimento exponencial, de buscar nosso fair share na região em relação a Linux, à crescente penetração de Linux in cloud e às ferramentas de orquestração de Kubernetes. A questão é que, por mais que cresçamos a operação direta na América Latina, nunca será suficiente para abraçarmos o mercado da forma como deveria ser. Aí entra a importância do nosso parceiro. Vejo a expansão do ecossistema de parcerias como carro-chefe do nosso crescimento. Estamos no momento de angariar novos parceiros, que sejam cada vez mais bem qualificados e que possam assumir esse papel consultivo que precisamos para o mercado local.
Um aspecto cada vez mais fundamental, neste momento de transformação digital acelerada que vivemos, é a segurança. Quais são os principais pontos com os quais devemos nos preocupar, e como garantir que não haverá problemas?
Segurança sempre foi relevante na agenda de todo executivo e é prioridade de agenda de TI, mas tem ganhado destaque muito maior. Entendemos a importância de ter segurança, principalmente em um ambiente de gerenciamento. Quando se fala em ferramenta de orquestração, que permite a você, numa interface única, controlar e gerenciar todos os recursos, é óbvio que é necessário ter features de segurança. Pensando nisso, recentemente adquirimos a NeuVector, líder mundial de segurança em contêineres. Com isso, fizemos duas coisas: a primeira é que estamos integrando essas ferramentas de segurança à SUSE Rancher; a outra é que, assim que adquirimos essa empresa, anunciamos a transformação dessa solução em open source, abrindo-a para a comunidade, até para que ela nos ajude com updates e correções (bugfixes) essenciais para qualquer ferramenta de segurança. Tudo isso reforça o nosso DNA, que é ser open source.
O que podemos esperar da chegada do 5G em termos de possibilidades de inovação nos negócios? De que tipo de fronteiras estamos falando?
Há cinco anos eu já falava, em entrevistas, sobre como será o 5G no futuro na América Latina e agora esse futuro está se tornando realidade. Todos começaram a perceber que essa tecnologia é muito mais que uma conexão mais rápida. O 5G vai permitir uma categoria completamente nova de aplicações. Estamos falando de carros conectados, com mais inteligência embarcada; de drones cobrindo áreas maiores e com mais autonomia, gerando imagens em alta definição e em tempo real; de aplicações inéditas no setor de saúde, graças à latência reduzida. No setor público, imagine o conceito de smart cities finalmente acontecendo, com centenas ou milhões de sensores viabilizados pelo 5G. A expectativa para o edge computing e a IoT (internet das coisas), com o 5G, é que daqui a quatro ou cinco anos esse seja um mercado tão grande ou maior que o de nuvem. Agora, o grande desafio, do ponto de vista de volume de devices e sensores, vai ser gerenciar tudo isso. Mas já temos ferramentas para encarar esse desafio.
Você assumiu recentemente a presidência da SUSE América Latina. Quais são seus objetivos no curto e no longo prazos?
Uma das minhas missões é fazer com que o mercado entenda que temos um portfólio renovado. Continuamos firme e fortes em Linux, inclusive para os clientes que estão migrando para a nuvem, mas agora temos novas soluções. É um bom desafio. Temos também um histórico de dar suporte a operações de grandes empresas. Por exemplo, 85% das implementações SAP HANA são executadas no SUSE Linux Enterprise Server. Estamos presentes na maioria das empresas globais de telecomunicações, manufatura, farmacêutica, finanças, varejo, aeroespecial. Então, meu objetivo de curto prazo é ter na América Latina uma penetração que reflita esse sucesso global que já temos, principalmente com as oportunidades que estão se abrindo com o aumento do uso de Kubernetes nas grandes e médias empresas.
No longo prazo, meu objetivo é reforçar que os valores que temos como empresa sejam os pilares do nosso crescimento na América Latina. Somos muito colaborativos. Somos apaixonados pelos nossos clientes. Um dos nossos valores diz: “Nós somos SUSE”. E ser SUSE é reconhecer que o open source está no nosso DNA e temos liberdade para inovar, com expertise, paixão, diversão, ambição. O resultado vem como consequência da aplicação desses valores no dia a dia.
Texto: Karen Tada
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