Como um CEO aprende?
Ricardo Natale
No RH Experience, evento voltado a lideranças de Recursos Humanos que realizamos no mês passado, Sérgio Chaia, grande especialista em alto rendimento que faz coach tanto de atletas quanto de líderes corporativos, fez uma provocação: “Um atleta de alto rendimento treina em média 93% do tempo e compete 7%. Enquanto um CEO treina em média 0,3% e compete 99,7%.”
A partir dessa constatação, que reflete a dureza do ambiente na alta liderança, com a necessidade de tomar muitas decisões com pouco tempo de reflexão e sem espaço para errar, fiquei pensando sobre a necessidade de estudar (treinar, na linguagem de Sérgio Chaia) e em como esse processo de aquisição de conhecimento das lideranças mudou ao longo do tempo.
Nos anos 1980, 1990, o caminho era mais linear: depois de estudar em uma boa universidade, muitas vezes em áreas mais técnicas, específicas, o caminho para uma boa formação como gestor passava por um MBA na FGV, por exemplo, ou, para quem conseguia tirar um ano sabático, numa escola de gestão no exterior.
Hoje em dia, o processo de aprendizagem, de buscar informações, entender modelos de negócio, analisar inovações, acontece de uma forma muito mais fluida. Esse conhecimento não está apenas nas escolas mais tradicionais, nem nos cursos digitais, principalmente quando se trata do C-Level.
É claro que existem escolas de excelência de gestão e elas continuam valendo a pena. Mas o conhecimento hoje está muito mais espalhado.
Onde, de fato, um CEO aprende?
A resposta é: em todos os lugares.
É preciso ser curioso para transformar conversas, vivências, experiências, em oportunidades de aquisição de conhecimento. Os livros ainda são fonte inestimável de informação. Muitos modelos de negócios inovadores são apresentados por seus próprios criadores e podem conter insights importantes. Mas não só.
É preciso cada vez mais cavar as informações, aproveitar os encontros com pessoas de empresas, de setores diferentes, em poucos minutos formular a perguntas certas, cavar aquela informação que vai te ajudar a entender mais o setor, fazer as conexões, trazer um aprendizado que talvez não seja útil imediatamente, mas vai ajudando a torná-lo um profissional melhor.
Também é preciso frequentar os lugares que seu público frequenta. Entender o seu produto do ponto de vista dos clientes. Abrir a cabeça para o pensamento das novas gerações. Praticar mentoria reversa. Por mais que se saiba, o mundo está se transformando tão rapidamente que é fácil ficar desatualizado, deixar de perceber o futuro.
Na semana passada eu vivi uma experiência que ilustra bem como essas oportunidades podem aparecer em qualquer lugar. Encontrei numa festa o meu amigo Paulo Correa, CEO da C&A, que me contou como mudou toda a estratégia da empresa, neste ano, apostando em roupas mais duráveis e com isso as ações da companhia simplesmente triplicaram ao longo do ano. Era uma conversa entre amigos. Mas, pra mim, acabou sendo uma aula.
E você, tem tirado tempo pra “treinar”? Tem buscado conhecimento no seu dia a dia? Já pensou sobre a importância de ampliar o olhar?
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