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Como viver 100 anos sem cair em promessas milagrosas

A busca pela juventude eterna e imortalidade é uma obsessão humana desde os tempos mais remotos e continua fascinando estudiosos de todo planeta. Mas o território é vasto para o surgimento de pseudociência e propaganda enganosa, que iludem e enganam os mais crédulos. 

Se na Antiguidade, as lendas diziam que a ambrosia (manjar dos deuses gregos), a Pedra Filosofal ou a Fonte da Juventude poderiam prolongar a vida humana ao infinito, em tempos de internet os mais variados tratamentos e métodos são oferecidos para retardar o envelhecimento daqueles que podem pagar pequenas fortunas para adiar ou evitar um fato inexorável da vida humana: a morte. 

NOVOS VAMPIROS?

Os Estados Unidos são o berço dos tratamentos milagrosos. De congelamento de cérebros e corpos na criogenia ao “transplante” da consciência para computadores, a moda atual é a oferta de transfusão de sangue e plasma de doadores jovens com a promessa da cura de doenças e rejuvenescimento. O “vampirismo” do século 21 custa caro: cerca de US$ 8 mil pelo “tratamento” com bolsas de plasma humano. 

O FDA (Food and Drug Administration), órgão que regulamenta alimentos e bebidas nos Estados Unidos, já deu o alerta: transfusões de sangue e plasma jovens não são apenas pseudociência inútil – mas potencialmente perigosas também.

“Estamos alertando consumidores e profissionais de saúde que os tratamentos que usam plasma de doadores jovens não passaram pelos testes rigorosos que o FDA normalmente exige para confirmar o benefício terapêutico de um produto e para garantir sua segurança”, escreveu em nota o FDA. No Brasil, este tipo de “tratamento” já é proibido.

“As pessoas vão atrás de propagandas chamativas, que oferecem tratamentos milagrosos sem esforço. Não só para o envelhecimento, mas também para obesidade. Nossa sociedade ‘fast food’ quer tudo na hora”. [autor]Dr. Carlos André Uehara, presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia.[/autor]

Mas diversas pesquisas sérias e científicas também são feitas nesta área. Pesquisadores da Universidade do Texas publicaram os resultados de um estudo em que usaram uma combinação de medicamentos para eliminar células senescentes de 14 pacientes com fibrose pulmonar idiopática (FPI). Células senescentes são danificadas, incapazes de se dividir, mas que ainda podem produzir sinais químicos. 

Ao longo de três semanas, os pacientes tomaram nove doses de um medicamento para leucemia. Eles foram, supostamente, capazes de andar mais do que podiam anteriormente e tiveram outros sinais de melhoria do bem-estar, sem efeitos colaterais graves. 

É difícil dizer se a combinação de drogas seria realmente eficaz como uma terapia antienvelhecimento, mas os pesquisadores estão empenhados em descobrir. Eles já estão testando o tratamento em um grupo de mais 15 pacientes de pulmão, bem como em 20 pessoas que sofrem de doença renal crônica.

O presidente da SBGG alerta que é importante ficar atento aos novos estudos, mas que estes testes são feitos em grupos específicos, que podem ter algum fator genético envolvido. “Passam a falsa impressão e a expectativa de que vai surgir uma cura para o envelhecimento, que não é uma doença. Sabemos que 20% dos fatores relacionados à vida longeva são genéticos e 80% são ambientais, como poluição, dieta, atividade física, estresse, entre outros”, comenta Uehara. 

BLUE ZONES

Fatores ambientais e hábitos saudáveis, por exemplo, deram origem às Blue Zones: locais com alta concentração de indivíduos com mais de 100 anos e grupos de idosos que envelheceram sem problemas crônicos de saúde. O termo foi cunhado por Dan Buettner, que escreve para a National Geographic, e autor do livro “The Blue Zones: Lessons for Living Longer from the People Who’ve Lived the Longest”. 

Atualmente, estão listadas cinco Blue Zones: Ogliastra (Sardenha, Itália); Okinawa (Japão); Icaria (Grécia); Nicoya (Costa Rica); e Loma Linda (Califórnia, Estados Unidos).  

Pesquisas mostram que os habitantes das Zonas Azuis compartilham estilos de vida em comum que contribuem para sua longevidade. Entre as características compartilhadas estão: proximidade com a família, não fumar, beber pouco, seguir dieta baseada em legumes e vegetais, atividade física moderada e constante, além de envolvimento social. “São dicas importantes de como ter mais longevidade e mais anos com qualidade de vida”, comenta Uehara. 

Texto: Andrea Martins

Imagem: Unsplash

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