Construindo a ponte da inovação
O atual cenário de rápidas mudanças tecnológicas e aumento da competitividade exige das grandes empresas uma abordagem mais eficiente em seus processos de transformação digital. E é aí que entra o Distrito, plataforma de inovação para empresas com cerca de 30 mil startups cadastradas. A solução ajuda a conectar corporações a startups a fim de criar um ecossistema de inovação com benefícios para crescimento e transformação de ambas as pontas.
“A startup da Faria Lima todo mundo conhece, e é mais cara. O desafio é encontrar a startup fora dos grandes centros, com a solução mais adequada para um desafio de uma grande empresa”, diz Gustavo Araujo, co-fundador e CEO do Distrito. Nesta entrevista, ele explica como sua empresa aplica big data e algoritmos para identificar as melhores possibilidades de negócios entre grandes corporações e startups.
Como surgiu a ideia para criar o Distrito?
Eu sempre fui ligado em tecnologia, desde a infância até o começo de minha vida profissional na Microsoft. Tive uma carreira executiva e comecei a empreender em 2010, gerindo um fundo de investimentos focado no setor de varejo alimentar. Mas percebi que era um momento muito importante, com o surgimento e crescimento de uma nova geração de empresas de tecnologia, como o Facebook, o Instagram e os bancos digitais surgindo fora do Brasil. Naquele momento, também tive a percepção que a inovação iria ocorrer rapidamente e mudaria nossas vidas. Então comecei a pensar em como investir em startups e a me envolver neste mercado.
Em 2014, com um grupo de pessoas, abri uma iniciativa primeiramente voltada apenas para startups. Ela ficava em um galpão, com equipamentos antigos do meu fundo de varejo alimentar. É nesse depósito que surge o primeiro espaço para colaboração de startups e também um grupo de investimento anjo. É aí que nasce o Distrito. Durante quatro anos atuei no Distrito em paralelo com minha iniciativa no fundo de investimento em varejo. Em 2018, viramos a chave e o Distrito passou a ser minha atividade principal, e então comecei a atuar diretamente neste mundo de investimento de startups.
Trabalhando nessa ponte entre corporações e startups, o Distrito aplica o conceito de inovação aberta. Pode explicar como funciona?
A inovação aberta é um método complementar ao modo que as corporações já aplicam, a inovação interna e fechada. Há alguns anos, as empresas tinham apenas suas áreas de tecnologia e produto criando soluções internamente. Atualmente, porém, a velocidade de inovação é tão grande que é impossível para qualquer empresa competir desta forma. O cenário competitivo mudou. Não é mais de empresa para empresa, mas sim de ecossistema para ecossistema. Ou seja, ganha a cadeia de valor mais forte. Assim, a melhor estratégia é transformar o ecossistema de inovação em aliado e colaborar para lançar com ele novos produtos e serviços. Nosso papel, então, é ajudar corporações a criar ecossistemas fortes em torno de seus negócios. A inovação aberta, somada à inovação interna, faz com que a corporação consiga se transformar de modo muito mais rápido e eficiente.
O Distrito atua exatamente de que forma nesse processo de inovação aberta?
Se uma corporação precisa acelerar sua transformação e digitalização, colocamos essa empresa em um programa de inovação. Pode ser um programa mais leve, em que a corporação faz a maior parte do trabalho e usa dados e ferramentas da nossa plataforma SaaS. Ou pode ser um programa mais robusto no qual, além de fornecer a plataforma, o Distrito também coloca a ‘mão na massa’, ou seja, cria grupos para implementar projetos. Tudo depende da maturidade e da cultura de cada cliente.
Com relação aos projetos, começamos pela jornada de transformação. Onde essa empresa quer estar daqui a dois, cinco anos? Entendendo esse futuro e sabendo o alvo, mapeamos as principais dores e oportunidades. A partir daí, identificamos os projetos em que uma startup pode entrar como fornecedora, parceira ou potencial alvo de investimento ou aquisição. Nossa plataforma SaaS possibilita a colaboração mesmo no caso de empresas com milhares de funcionários e escritórios espalhados em várias cidades. E também permite encontrar startups para seu projeto em qualquer lugar do mundo.
E como ficam as relações com as startups nesse processo?
Hoje, quase tudo que a corporação pensa em fazer ou resolver, a chance de algum empreendedor já ter feito ou resolvido é enorme. E aí é hora de começar a pensar na melhor abordagem. Se um empreendedor já resolveu o problema e não é estratégico, a corporação pode transformá-lo em seu fornecedor.
Se a startup resolveu o problema e é considerada estratégica – não necessariamente agora, mas a longo prazo – pode ser o caso de investir na empresa. Pode ser uma participação pequena ou uma aquisição. A forma de relacionamento entre a corporação e a startup, portanto, depende do quão estratégica é a solução que a startup fornece para a grande empresa.
Do lado das startups, além do ambiente digital, temos uma rede de cerca de 30 hubs físicos (4 próprios e outros de parceiros) espalhados pelo Brasil e ajudamos empreendedores com cursos e mentorias focadas em captação de recursos, montagem de equipe e elaboração de produtos.
Do lado das startups, além do ambiente digital, temos uma rede de 30 hubs físicos (4 próprios e 26 de parceiros) espalhados pelo e ajudamos empreendedores com cursos e mentorias focadas em captação de recursos, montagem de equipe e elaboração de produto.
Como é o processo de decisão para investimento em startups?
Hoje, monitoramos 30 mil startups na América Latina – metade delas, do Brasil – e temos cerca de 80 variáveis para cada uma delas. Usamos nosso algoritmo para auxiliar em decisões de negócio.
Atualmente, fazer este tipo de investimento sem dados e inteligência de máquina não é assertivo. As empresas, de modo geral, não têm como analisar milhares de startups por ano. Mas a nossa plataforma cumpre essa função. Quais são as três startups que você necessita para resolver um problema? O algoritmo dá as respostas. A corporação coloca seus desafios na nossa plataforma e devolvemos para ela as startups adequadas.
Nossos algoritmos têm tido sucesso desde a fundação do Distrito. Temos dois unicórnios em nossa plataforma: Mercado Bitcoin e Banco Neon, além de outros casos de sucesso como a Monetus, vendida para o Santander, e a MEI Fácil, vendida para o Banco Neon.
Como o Distrito capta os dados que alimentam este algoritmo?
Temos uma área de dados com cerca de 40 pessoas só trabalhando nessa inteligência. Há um núcleo para cada área, fintechs, varejo, saúde e etc. Estes núcleos captam o máximo de dados possível de diversas fontes e criam algoritmos que provêm mais subsídios na hora da decisão de negócio dos nossos clientes.
O algoritmo tem camadas de estruturação de dados e criação de inteligência. Atualmente recebemos em torno de 50 cadastros por dia de startups que querem se manter atualizadas no Distrito. Além dos dados fornecidos pelas próprias startups, indexamos tudo o que está público na internet sobre elas.
Além disso, temos uma terceira camada, de dados privados. Por exemplo, usando um CNPJ como ponto de partida, um provedor privado pode nos fornecer em alguns casos o faturamento da empresa, número de funcionários CLT e outras informações. Por meio desse trabalho, conseguimos cerca de 80 variáveis que fazem com que o processo de escolha de uma startup seja extremamente assertivo.
A área de dados também produz relatórios de inteligência, certo?
Sim. Nossa área de dados produz relatórios com tendências e insights sobre segmentos como fintechs, varejo, saúde e outros. Também produzimos relatórios customizados a partir de demandas de clientes. Já fizemos, por exemplo, relatórios para empresas de energia que queriam monitorar iniciativas de energia limpa, entre outras iniciativas.
Além dos relatórios, permitimos que nossos clientes rodem suas próprias lógicas em nossa plataforma. Ou seja, a empresa pode rodar um algoritmo com seus critérios e teses de inovação na nossa plataforma com 30 mil startups e identificar as melhores startups para resolver um determinado problema.
Permitir que corporações tomem decisões de investimento ou parceria a partir de dados é o que nos faz diferentes. A startup da “Faria Lima” todo mundo conhece, e normalmente é mais cara. O diferencial é encontrar uma startup fora dos mainstream, que tem um produto exatamente adequado à demanda da corporação.
Levando em conta sua experiência com tecnologia e empreendedorismo, como você vê o atual cenário de inovação e quais áreas possuem maior potencial?
Achamos que nossa vida mudou muito nos últimos 10 anos. Pedimos comida via aplicativo, assinamos documentos digitalmente, realizamos consultas médicas etc. Mas creio que as plataformas que estão transformando o mundo ainda estão em seus primeiros dias.
Hoje, vejo cinco grandes plataformas com potencial grande de transformação: robótica, sequenciamento de DNA, blockchain, Inteligência Artificial e storage de energia. Elas derivam em outras que vão transformar nossas vidas nas próximas décadas.
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