Do excesso de telas à tecnologia invisível

Monica Miglio Pedrosa
Com consumidores passando, em média, sete horas por dia diante de telas e conteúdos se tornando cada vez mais reduzidos, em formatos de até 60 segundos, a experiência do momento presente perdeu espaço para o impulso de registrar e compartilhar tudo nas redes sociais. No limite, se o que você fez não foi postado, não aconteceu. A “economia da atenção” está chegando a um ponto de ruptura. A disputa por cada segundo do usuário tornou-se cara e tende a se tornar insustentável no momento em que o custo para atrair o usuário superar o benefício gerado pela venda do produto.
É nesse momento que as inovações tecnológicas projetam um futuro no qual as interfaces começam a desaparecer. Tecnologias como o AI Pin e o chip cerebral convergem para um cenário em que deixamos de navegar por telas e passamos a conversar com dispositivos inteligentes, circulando por realidades estendidas. O ato de interagir deixará de ser uma disputa por atenção e passará a responder diretamente à fala, aos hábitos de consumo e, em breve, ao próprio pensamento.
Essa visão de futuro, apresentada pela consultoria estratégica NTT DATA, foi detalhada hoje, em evento exclusivo no Cubo Itaú, em São Paulo. “O futuro da interação será invisível. Vamos deixar de operar interfaces para cultivar relações”, afirmou Evandro Armelin, Head de Digital Technology da NTT DATA.
Para a consultoria, essa transformação já está em curso e parte destas tecnologias já estão disponíveis ou em acelerado desenvolvimento. Em 2024, as interfaces conversacionais começaram a dominar a interação dos serviços com os usuários e essa tendência continuará a se expandir até 2026. A inteligência artificial tem sido usada para personalizar cada vez mais as experiências.
A próxima onda, prevista para até 2028, deve ser marcada pela popularização de tecnologias como AI Pins e smart glasses, que ampliam as possibilidades de interação. Esses dispositivos vestíveis são capazes de ouvir, ver e interpretar o ambiente, atuando como assistentes pessoais permanentes. Ao mesmo tempo, as interfaces geradas por IA substituem o modelo tradicional de design. Em vez de protótipos e wireframes, telas passam a ser criadas sob demanda, moldadas ao perfil e às necessidades momentâneas de cada pessoa.
Estamos entrando em uma era em que a tecnologia não apenas executa. Ela entende contexto, interpreta necessidade e age ao nosso lado. Invisible by design.”
Evandro Armelin, Head de Digital Technology da NTT DATA
No e-commerce do futuro, as fotos e os cliques devem ser substituídos por assistentes de IA que mostram produtos em vídeo, com interfaces conversacionais como padrão. Com isso, a interação torna-se mais próxima da experiência real, com comandos de voz e visual, tornando a jornada mais natural.
E-commerce Machine2Machine
A próxima etapa será a dos agentes de IA capazes de tomar decisões de compra de forma automática, guiados por parâmetros definidos a partir dos gostos e comportamentos do usuário. Trata-se do comércio Machine2Machine (M2M), no qual, a partir de um comando de voz ao assistente pessoal de IA, ele se conecta a outros agentes que passam a conversar entre si, rastrear lojas, comparar preços e escolher a melhor oferta, com prazo de entrega mais rápido. Tudo ocorre sem intervenção humana e com o mínimo de fricção na jornada de compra.
Nesse contexto em que a inteligência artificial será a base do motor de busca das compras digitais, as marcas precisam iniciar o quanto antes estratégias de otimização de seus conteúdos para a IA. “A transição de SEO para GEO (Generative Engine Optimization) garante que o conteúdo seja compreendido e sugerido pelas IAs que mediarão a experiência do usuário”, afirma Eli Rodrigues, Diretor de Digital Experience da NTT DATA.
Robôs humanoides como assistentes pessoais devem demorar mais para se popularizar, algo previsto para depois de 2035. Mas eles certamente irão transformar setores como o de cuidados de idosos, limpeza doméstica, cozinha e outras atividades do dia a dia. Ao mesmo tempo, questões éticas se tornam inevitáveis. “Se um robô cuidador oferecer um remédio essencial para um idoso e este se recusar a tomá-lo, ele deve acatar a decisão ou fazer com que a medicação seja tomada?”, ponderou Armelin.
A partir de 2035 ou 2040, a consultoria prevê que os implantes neurais, hoje aplicados para restaurar capacidades humanas de indivíduos com restrições físicas como paralisia ou tetraplegia, poderão ampliar essas capacidades. Nesse estágio, o usuário precisará apenas pensar e a tecnologia neuroassistida executará.
Foto: Lucas Vietro – Affari Audiovisual
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