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Garra: O poder da paixão e da perseverança

Autora: Angela Duckworth

Ideias centrais:

1 – Pessoas muito bem-sucedidas exibem um tipo de perseverança feroz que se manifesta de duas formas. Em primeiro lugar, são mais persistentes e esforçadas do que a média. Em segundo, sabem lá no fundo de si mesmas o que desejam. Têm não só perseverança, como também uma direção.

2 – Essa combinação de paixão e perseverança é o que faz com que as pessoas bem-sucedidas sejam especiais. Numa palavra, elas têm garra.

3 – Segundo o sociólogo Dan Chambliss, um desempenho superlativo é, na verdade, uma confluência de dezenas de pequenas qualificações ou atividades, cada uma delas aprendidas pela prática ou acaso.

4 – São quatro os recursos que os modelos maduros de garra têm: interesse, capacidade de praticar, propósito e esperança. Esse último recurso permeia todos os outros.

5 – Seja lá o que digam, a mensagem é a mesma: os longos dias e noites de esforço extenuante, os reveses e decepções, a luta, o sacrifício, tudo vale a pena porque, em última instância, recompensará outras pessoas. Em essência, a noção de propósito se refere ao que é importante para outras pessoas além de nós mesmos.

6 – É possível ser um professor psicologicamente sensato, da mesma forma que é possível ser um professor permissivo, autoritário ou negligente. São os professores sensatos que parecem promover a competência, além do bem-estar, da participação em sala de aula e de grandes expectativas para o futuro.

7 – A garra é estimulada por atividades extracurriculares, como futebol, piano, balé. Em primeiro lugar porque são comandadas por um adulto que não é um dos pais. Em segundo, essas atividades são projetadas para cultivar o interesse, a prática, o propósito e a esperança.

8 – Para Dan Chambliss, há uma maneira difícil e uma fácil de adquirir garra. A maneira difícil é trabalhar sozinho. A maneira fácil é utilizar o impulso humano básico da adequação. Se você estiver cercado de pessoas que têm garra, vai agir com mais garra.

Sobre a autora:

Angela Duckworth é professora de psicologia na Universidade da Pensilvânia e premiada pelo programa MacArthur Fellows em 2013. É bacharel em neurociência por Harvard e mestre em neurociência pela Oxford University. Entre outras entidades assistidas por ela, está a West Point dos EUA.

Prefácio:

Em 2013, tive a alegria de ser agraciada com uma bolsa da Fundação MacArthur, também conhecida como “auxílio-gênio”. Ninguém se candidata a essa bolsa. Nem se pedem indicações de amigos e colegas. Em vez disso, uma comissão secreta, da qual fazem parte os maiores nomes em uma determinada área de conhecimento, decide quem está realizando um trabalho importante e criativo.

Quando recebi o telefonema inesperado com a notícia, minha primeira reação foi de gratidão e espanto. Em seguida, pensei no meu pai e em seus diagnósticos meio rudes sobre minha capacidade intelectual. Ele não estava enganado. Eu não tinha ganhado a Bolsa MacArthur por ser mil vezes mais inteligente do que meus amigos psicólogos. Na verdade, meu pai tinha a resposta certa (“Não, ela não é.”) para a pergunta errada (“Ela é um gênio?”).

Cerca de um mês passou entre o telefonema da Fundação MacArthur e o anúncio oficial da concessão da bolsa. Eu não podia comentar o fato com ninguém, exceto meu marido. Isso me deu tempo para refletir a respeito da ironia da situação. Uma garota que ouve o tempo todo alguém dizer que ela não é um gênio acaba ganhando um prêmio por sê-lo. O prêmio lhe é concedido por ela ter descoberto que aquilo que conseguimos na vida talvez dependa mais da nossa paixão e perseverança do que de um talento inato.

PARTE 1 – O que é a garra? Por que ela é importante?

Capítulo 1: Superação

Por que os bem-sucedidos eram tão obstinados em seus objetivos? Para a maioria deles, não havia qualquer expectativa realista de concretizar suas ambições. Aos próprios olhos, nunca eram competentes o suficiente para tanto. Eram o oposto de satisfeitos consigo mesmos. Contudo, satisfaziam-se genuinamente com essa insatisfação. Cada uma dessas pessoas busca algum objetivo de interesse e importância extraordinários, e era a busca que era gratificante, tanto quanto a conquista. Embora algumas coisas que precisassem fazer eram enfadonhas, frustrantes ou mesmo árduas, as pessoas bem-sucedidas não sonhariam em desistir. A paixão que as movia era duradoura.

Ou seja, a despeito da área, pessoas muito bem-sucedidas exibem um tipo de perseverança feroz que se manifesta de duas formas. Em primeiro lugar, são mais persistentes e esforçadas do que a média. Em segundo, sabem lá no fundo de si mesmas o que desejam. Têm não só perseverança, como também uma direção.

Era essa combinação de paixão e perseverança que fazia com que as pessoas bem-sucedidas fossem especiais. Numa palavra, tinham garra.

A separação entre garra e talento voltou a surgir em outro estudo que realizei, desta vez com estudantes das universidades de maior prestígio nos Estados Unidos, integrantes da chamada Ivy League. Nesse caso, as notas obtidas nos exames de admissão e as medidas de garra mostraram, na verdade, uma correlação inversa. Os estudantes da amostra que tinham obtido as melhores notas nas provas eram, em média, um pouco menos determinados que seus colegas. Juntando essa constatação com os outros dados que eu havia reunido, tive um lampejo que orientaria meu trabalho futuro.

Nosso potencial é uma coisa. O que fazemos com ele é outra, bem diferente.

Capítulo 2: Enganada pelo talento

Experiência escolar. Já na primeira semana, ficou evidente que alguns alunos entendiam os conceitos matemáticos com mais facilidade do que seus colegas. Ensinar aos alunos mais talentosos da turma era uma alegria. Eles eram verdadeiros “crânios”. Sem necessidade de muitas explicações, percebiam o padrão subjacente numa série de problemas de matemática que alunos menos capazes tinham dificuldade de dominar. Eles me viam resolver um único problema no quadro-negro, diziam “entendi” e solucionavam o problema seguinte sem ajuda.

No entanto, ao fim do primeiro período de avaliação, fiquei surpresa ao constatar que alguns daqueles alunos mais capazes não estavam se saindo tão bem como esperava. Alguns foram muito bem, é claro. Contudo, um número considerável desses estudantes mais talentosos estava obtendo notas medíocres, ou até abaixo disso.

Por outro lado, vários alunos que no início demonstravam ter mais dificuldade estavam se saindo melhor do que eu tinha esperado. Esses estudantes “extraordinários” iam para a aula todos os dias com todo o material necessário. Em vez de se distrair com brincadeiras ou olhar pela janela, tomavam notas e faziam perguntas. Quando não entendiam alguma coisa de primeira, tentavam de novo. Às vezes, até pediam ajuda na hora do almoço ou em horários de disciplinas eletivas, à tarde. Seus esforços se traduziam em boas notas.

Tudo indicava que aptidão não garantia sucesso. Talento para matemática era uma coisa; tirar boas notas em matemática era outra.

Darwin. Depois de ler as primeiras páginas do livro de Francis Galton [sobre desempenho], Darwin escreveu ao primo uma carta em que dizia estar surpreso pelo fato de o talento figurar na lista das qualidades essenciais. “Em certo sentido, você transformou um adversário num convertido”, escreveu Darwin. “Porque sempre insisti que salvo os idiotas, os homens não diferem muito em intelecto, apenas em empenho e em trabalho duro, e ainda creio que esta seja uma diferença de eminente importância.”

Esforçados. Já faz anos que diversas pesquisas de âmbito nacional [EUA] perguntam: o que é mais importante para o sucesso: talento ou esforço? Os americanos têm duas vezes mais probabilidade de optar pelo esforço. O mesmo vale quando a pergunta é sobre capacidade atlética. E quando perguntados “Se você fosse contratar um novo funcionário, qual dentre as qualidades seguintes consideraria mais importante?”, os americanos optam por “ser esforçado” quase cinco vezes mais do que “ser inteligente”.

Capítulo 3:  O esforço conta em dobro

Há alguns anos, li um estudo sobre natação competitiva intitulada “A trivialidade da excelência”. O título do artigo resume sua conclusão principal: as mais importantes façanhas humanas são, na realidade, o agregado de inumeráveis elementos isolados e cada um dos quais, em certo sentido, nada tem de extraordinário.

O sociólogo Dan Chambliss, que realizou o estudo, observou: “Um desempenho superlativo é, na verdade, uma confluência de dezenas de pequenas qualificações ou atividades, cada uma delas aprendidas pela prática ou por acaso, que foram cuidadosamente transformadas em hábito e, mais tarde, reunidas em conjunto. Não existe nada de extraordinário ou sobre-humano em qualquer desses atos; o que produz a excelência é o mero fato de serem realizados de forma sistemática, correta e ao mesmo tempo.”

E o talento? Nietzsche nos pede que vejamos os indivíduos exemplares sobretudo como artesãos: “Só não falem de dons e talentos inatos! Podemos nomear grandes homens de toda espécie que foram pouco dotados. Mas adquiriram grandeza e tornaram-se ‘gênios’ […] todos tiveram a diligente seriedade do artesão, que primeiro aprende a construir perfeitamente as partes, ante de ousar fazer um grande todo, permitiram-se tempo para atingir isso, porque tinham mais prazer em fazer bem o pequeno e secundário do que no efeito de um todo deslumbrante”.

Capítulo 4: Até onde vai sua garra

O que estou chamando de paixão não é apenas cultivar algo importante para você. O que paixão significa é valorizar a mesma meta definitiva de uma maneira firme, leal e constante. É não ser volúvel. É acordar todos dias pensando nas questões que martelavam sua cabeça antes de dormir. É, de certa maneira, apontar sempre para a mesma direção, mais ansioso para dar um passo mínimo para a frente do que para o lado, saindo do rumo. É, em nível radical, ouvir alguém dizer que esse foco é obsessivo. É basear a maioria dos seus atos na dedicação a um objetivo fundamental – a sua filosofia de vida.

É organizar suas prioridades.

A falta de garra pode se manifestar de várias maneiras. Já vi muitos jovens que são capazes de articular um sonho – por exemplo, ser médico ou jogar basquete na NBA – e imaginar vividamente como isso seria maravilhoso, mas que ao mesmo tempo não conseguem definir as metas nos níveis intermediário e inferior que lhes permitiriam alcançar esse sonho. A hierarquia de metas desses jovens tem uma meta de nível superior, mas nenhuma nos grupos mais baixos.

Capítulo 5: O crescimento da garra

Um tempo atrás, alguns pesquisadores de Londres me informaram que haviam ministrado o teste da Escala de Garra para mais de dois mil pares de gêmeos adolescentes no Reino Unido. Esse estudo estimou em 37% a hereditariedade da subescala da perseverança e em 20% a subescala da paixão. Tais números coincidem com estimativas de hereditariedade referentes a outros traços de personalidade. Em termos muito simples, isso significa que a variação no grau de garra entre uma pessoa e outra pode em parte ser atribuída a fatores genéticos; o restante é adquirido pela experiência.

Em seu conjunto, a pesquisa revela quatro recursos que os modelos maduros de garra têm em comum:

Em primeiro lugar, surge o interesse. A paixão começa quando a pessoa gosta intrinsecamente do que faz. Todas as pessoas determinadas que analisei são capazes de apontar aspectos de sua atividade que apreciam menos do que outros, e a maioria precisa tolerar ao menos uma ou duas tarefas que de fato não lhes agradam. No entanto, se encantam pela atividade como um todo e a consideram importante.

Em seguida, vem a capacidade de praticar. Uma forma de perseverança é a disciplina diária de tentarmos fazer uma coisa hoje melhor do que fizemos ontem. Por isso, depois de ter descoberto e se interessado por uma determinada área, você deve se dedicar à prática concentrada e devotada que leva à maestria.

O terceiro recurso é o propósito. O que faz a paixão amadurecer é a convicção de que seu trabalho é importante. Para a maior parte das pessoas, é quase impossível manter por toda vida o interesse sem propósito. Por isso, é imperativo que você veja sua atividade como interessante para você e, ao mesmo tempo, ligada ao bem-estar dos outros.

Por fim, temos a esperança. A esperança é uma espécie de perseverança que enfrenta as adversidades.  Neste livro, eu falo desse recurso depois do interesse, da prática e do propósito, mas a esperança não é o estágio final da determinação. Ela está em todos os estágios. Desde o primeiro até o último instante, é de vital importância aprender a ir em frente, mesmo em face de dificuldades.

PARTE II – Cultivar a garra de dentro para fora

Capítulo 6: Interesse

O quão ridículo é aconselhar os jovens a fazer aquilo que amam? Na última década, os cientistas que estudam interesses chegaram a uma resposta definitiva.

Em primeiro lugar, estudos mostram que as pessoas ficam muito mais satisfeitas com o trabalho quando fazem algo que coincida com seus interesses pessoais. Essa é a conclusão de uma meta-análise que reuniu dados de quase cem pesquisas diferentes para analisar trabalhadores adultos de praticamente todas as profissões possíveis. Por exemplo, pessoas que gostam de pensar sobre ideias abstratas não ficam felizes administrando as minúcias de projetos complexos de logística; eles prefeririam resolver problemas matemáticos.

Em segundo lugar, as pessoas apresentam um melhor desempenho no trabalho quando fazem o que lhes interessa. Essa é a conclusão de outra meta-análise de 60 pesquisas feitas ao longo dos últimos 70 anos. Funcionários cujos interesses pessoais coincidem com suas ocupações se saem melhor no trabalho, ajudam mais os colegas e permanecem mais tempo no emprego. Universitários cujos interesses pessoais coincidem com sua especialidade, tiram notas mais altas e abandonam menos os estudos.

Não empenhados. Numa pesquisa da Gallup realizada em 2014 nos Estados Unidos, mais de dois terços dos adultos disseram que não se empenhavam no trabalho. Desses, boa parte estava “ativamente não empenhada”.

O quadro é ainda mais sombrio em outros lugares do mundo. Numa pesquisa em 141 países, a Gallup descobriu que todos eles, exceto o Canadá, apresentavam uma proporção ainda maior de “não empenhados” e “ativamente não empenhados” do que os Estados Unidos. No mundo inteiro, só 13% dos adultos se diziam “empenhados” em seu trabalho.

Capítulo 7: Prática

Além de ter um magnífico técnico, mentor ou professor, de que maneira se pode extrair o máximo da prática disciplinada e vivenciar mais fluxos, quando já se chegou a esse ponto?
Primeiro, sabendo como fazer.

Os princípios que norteiam a prática disciplinada são simples:

  • Uma meta ambiciosa claramente definida.
  • Concentração e dedicação totais.
  • Feedback imediato e informativo.
  • Repetição com reflexão e aprimoramento.

Quantas horas as pessoas se dedicavam para atender esses quatro requisitos? Tenho a impressão de que muita gente passa a vida toda dedicando precisamente zero horas diárias à prática disciplinada.

Mesmo pessoas supermotivadas que trabalham até a exaustão podem não estar realizando prática disciplinada. Por exemplo, quando o medalhista olímpico Mads Rasmussen foi convidado por uma equipe japonesa de remo para uma visita, ficou impressionado com a quantidade de horas que os atletas dedicavam ao treinamento. Não é de inúmeras horas de força bruta exaustiva que vocês precisam, disse-lhes. O que importa são objetivos calculados de treino durante apenas algumas horas por dia, como mostrou a pesquisa de Ericsson.

Depois de algum tempo praticando na mesma hora e no mesmo lugar, a atividade que antes exigia uma decisão consciente para ser iniciada torna-se automática. “Não existe ser humano mais infeliz”, diz William James, do que aquele para quem “o começo de cada pequena tarefa” deve ser decidido novamente a cada dia.

Capítulo 8: Propósito

Quando converso com modelos de garra e eles me dizem que estão orientados por um propósito, referem-se a algo muito mais profundo do que a mera intenção. Eles não são apenas orientados por um objetivo; a natureza desses objetivos é especial.

Quando peço algo como “Você pode falar mais sobre isso? O que você quer dizer?”, às vezes os entrevistados travam uma luta sincera e cambaleante consigo mesmos para transmitir em palavras aquilo que sentem. Mas as frases que se seguem mencionam outras pessoas. Às vezes, de forma muito particular (“meus filhos”, “meus clientes”, “meus alunos”); em outras ocasiões, bem abstrata (“este país”, “o esporte”, “a ciência”, “a sociedade”). Seja lá o que digam, a mensagem é a mesma: os longos dias e noites de esforço extenuante, os reveses e decepções, a luta, o sacrifício, tudo vale a pena porque, em última instância, recompensará outras pessoas.

Em essência, a noção de propósito se refere ao que é importante para outras pessoas além de nós mesmos.

Depois de escutar vezes sem fim modelos de garra explicando como seu trabalho está profundamente ligado a outras pessoas, decidi analisar essa ligação mais de perto. É claro que o propósito é importante, mas até que ponto, em relação a outras prioridades? Na verdade, parecia que o foco individual num objetivo de alto nível era uma atitude mais egoísta do que altruísta.

Aristóteles foi um dos primeiros a reconhecer que existem duas maneiras de buscar a felicidade. Chamou uma delas de “eudemonismo” – em harmonia com o  bom (eu) espírito (daemon) – e outra de “hedonismo” – voltada para experiências positivas imediatas e autocentradas. Aristóteles optou claramente por um dos lados da questão, classificando a vida hedonista como primitiva e vulgar, e afirmando a vida eudemônica como nobre e pura.

Até certo ponto, nós estamos programados para buscar tanto a felicidade hedonista quanto a eudemonista. Mas a importância relativa que damos a esses dois tipos de felicidade pode variar. Para algumas pessoas, o propósito importa mais do que o prazer, e vice-versa.

Capítulo 9: Esperança

O que é esperança?

Uma forma de esperança é a expectativa de que amanhã será um dia melhor do que hoje. É o tipo de esperança que nos faz desejar um dia mais ensolarado ou um caminho mais suave pela frente. Chega sem o peso da responsabilidade. Cabe ao universo fazer as coisas melhorarem.

A garra depende de outro tipo de esperança. Esta repousa sobre a expectativa de que nosso esforço pode melhorar o futuro. Tenho a sensação de que amanhã será um dia melhor é diferente de estou decidido a fazer de amanhã um dia melhor. A esperança das pessoas que têm garra nada tem a ver com a sorte e tudo tem a ver com levantar-se de novo.

Se você for um pessimista, possivelmente dirá faço tudo errado. Ou: Sou um fracassado. Essas justificativas são permanentes; não há o que se possa fazer para mudá-las. Elas são também genéricas; provavelmente vão influenciar muitas situações na vida e não apenas seu desempenho no trabalho. Explicações permanentes e genéricas para a adversidade transformam pequenas complicações em grandes catástrofes. Fazem parecer que o lógico é desistir. Se, por outro lado, você for um otimista, dirá: administrei mal o meu tempo. Ou: Não trabalhei direito porque me distraí. Essas explicações são temporárias e específicas. Por serem passíveis de correção, podem ser solucionadas o quanto antes.

A partir de testes, Marty Seligman confirmou que, comparados aos otimistas, os pessimistas são mais propensos a sofrer de depressão e ansiedade. Além disso, os otimistas se saem melhor em esferas não diretamente relacionadas à saúde mental. Por exemplo, os universitários otimistas em geral têm notas melhores e abandonam a faculdade com menos frequência do que os pessimistas. Jovens otimistas permanecem mais saudáveis ao chegar à meia-idade e vivem mais do que os pessimistas. Os otimistas são mais satisfeitos com seus casamentos.

PARTE III – Cultivar a garra de fora para dentro

Capítulo 10: Educar para a garra

Na verdade, novas pesquisas sobre o magistério apontam paralelos inesperados com a criação dos filhos. Ao que parece, professores psicologicamente sensatos podem exercer uma enorme influência na vida de seus alunos.

Ron Ferguson é um economista de Harvard que compilou mais dados comparativos sobre professores eficientes e ineficientes do que qualquer outra pessoa que eu conheço. Num estudo recente, Ron fez uma parceria com a Fundação Gates para analisar estudantes e professores em 1.892 salas de aula. A pesquisa concluiu que os professores exigentes – aqueles cujos alunos dizem “Meu professor não aceita menos que o maior esforço possível” e “Os alunos de minha sala se comportam de maneira que meu professor quer” – provocam aumentos significativos nas notas dos alunos de ano para ano.

Os professores compassivos e respeitosos – aqueles cujos alunos dizem “Meu professor parece adivinhar quando alguma coisa está incomodando” ou “Meu professor quer que a gente fale sobre o que pensamos” – promovem a felicidade dos estudantes, o desejo de fazer um curso superior e o esforço voluntário em sala de aula.

É possível, segundo as conclusões de Ron, ser um professor psicologicamente sensato, da mesma forma que é possível ser um professor permissivo, autoritário ou negligente. E são os professores sensatos que parecem promover a competência, além do bem-estar, da participação em sala de aula e de grandes expectativas para o futuro.

Capítulo 11: As arenas da garra

Como muitas mães, eu acredito firmemente na ideia de que a garra é estimulada por atividades como balé, piano, futebol ou, na verdade, qualquer atividade extracurricular estruturada. Tais atividades possuem duas características importantes que são difíceis de replicar em outro ambiente. Em primeiro lugar, são comandadas por um adulto (idealmente, um adulto compassivo e exigente) que não é um dos pais. Em segundo lugar, essas atividades são projetadas para cultivar o interesse, prática, propósito e esperança. A escola de balé, a sala de recital, o tatame de judô, a quadra de basquete, a piscina… São essas as arenas onde uma pessoa aprende a ter garra.

Entretanto, como mãe e cientista social, recomendo que você procure algo de que seu filho vá gostar de fazer fora da escola, assim que ele tiver idade suficiente. Na verdade, se eu tivesse uma varinha de condão, faria com que todas as crianças do mundo se empenhassem em ao menos uma atividade extracurricular, e no caso dos adolescentes do ensino médio, faria com que eles praticassem alguma atividade durante mais de um ano.

Isso significa que eu recomende reservar cada minuto do dia de uma criança para alguma atividade? De maneira alguma. Mas acredito de verdade que as crianças desabrocham quando passam ao menos parte da semana fazendo coisas difíceis pelas quais se interessam.

Capítulo 12: Uma cultura de garra

“Falando por mim, eu não tenho essa disciplina toda”, acrescentou Dan Chambliss, sociólogo que passou seis anos de sua vida profissional estudando nadadores. “Mas, se eu estiver cercado de pessoas escrevendo artigos, fazendo palestras e dando duro, minha tendência é agir da mesma forma. Se estou no meio de um monte de gente que age de certa maneira, faço o mesmo.”

O impulso de ajustar-se, de se moldar ao grupo, é realmente forte. Alguns dos mais importantes experimentos da psicologia demonstraram a rapidez com que as pessoas se adaptam a um grupo que age ou pensa de forma diferente – em geral sem perceberem.

“Por isso”, concluiu Dan, “parece-me que há uma maneira difícil e uma fácil de adquirir garra. A maneira difícil é trabalhar sozinho. A maneira fácil é utilizar o impulso humano básico da adequação. Porque se você estiver cercado de pessoas que têm garra, vai agir com mais garra.”

Capítulo 13: Conclusão

Antes de pôr um ponto final, eu gostaria de fazer algumas considerações. A primeira é que você pode aumentar sua garra.

Vejo duas formas de fazer isso. Por conta própria, você pode aumentar sua garra “de dentro para fora”: pode cultivar seus interesses; pode adquirir o hábito de praticar todos os dias a superação de dificuldades; pode ligar seu trabalho a um objetivo que vai além de você mesmo; e pode aprender a manter a esperança quando tudo parece estar perdido.

Você também pode desenvolver sua garra “de fora para dentro”. Aumentar sua garra pessoal depende criticamente de outras pessoas – pais, orientadores, professores, chefes, mentores, amigos.

Felicidade. Minha segunda reflexão final diz respeito à felicidade. O sucesso – seja ele medido por quem ganha uma competição nacional de soletração, conclui um treinamento do exército ou lidera o setor nas vendas anuais – não é a única questão que lhe interessa. É claro que você também quer feliz. E, embora felicidade e sucesso estejam entrelaçados, não são a mesma coisa.

Você pode estar pensando, se eu tiver mais garra e for bem-sucedido, minha felicidade vai despencar?

Após estudo sobre correlação entre a garra e a satisfação com a vida, concluí que quanto mais garra tiver uma pessoa, mais provável será que ela desfrute de uma vida emocional saudável. Mesmo no alto da Escala de Garra, a garra acompanhava de perto o bem-estar, a despeito de como fosse medida.

Ficha técnica:

Título: Garra: O poder da paixão e da perseverança

Título original: Grit: the Power of Passion and Perseverance

Autora: Angela Duckworth

Primeira edição: Intrínseca

Resumo: Rogério H. Jönck

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