IA com resultados: como a CI&T leva eficiência aos negócios de seus clientes

Monica Miglio Pedrosa
“Empresas que usam IA no desenvolvimento de soluções digitais aumentaram a produtividade de duas a cinco vezes”. A afirmação é de Leandro Angelo, sócio e vice-presidente executivo Latam da CI&T, que comprova como a adoção da tecnologia vem acelerando os negócios dos clientes da companhia. Fundada em 1995 por três estudantes de Ciência da Computação da Unicamp, a CI&T é hoje uma empresa global, listada na Nasdaq desde 2021, que atende clientes como Nestlé, Natura, Mondelez, Banco do Brasil, C6 Bank, entre outros.
Para Angelo, acelerar negócios com IA exige mais do que incorporar novas plataformas tecnológicas. Entre os pilares para o sucesso estão o envolvimento das pessoas no processo, para que participem da construção dos agentes de IA e se sintam parte dessa transformação, reduzindo resistências; a construção de uma fundação sólida, que inclui práticas de FinOps, gestão de prompts, e monitoramento de vieses; e uma base de dados alinhada à LGPD, sustentada por uma governança capaz de garantir que a tecnologia esteja conectada aos drivers estratégicos da organização.
Nessa entrevista exclusiva à [EXP], o executivo detalha ainda as cinco grandes tendências que vão impactar o setor financeiro, reveladas em um estudo da Box 1824, os principais desafios das empresas na implementação de soluções de IA e as novas tecnologias que devem transformar os negócios e a sociedade nos próximos três anos.
Veja a entrevista em vídeo:
[EXP] Quais são os principais desafios das empresas ao implementarem soluções de inteligência artificial?
[Leandro Angelo] Plataformas e ferramentas não são o desafio, porque toda semana vemos o surgimento de novas features, novas capabilities e sabemos que esse jogo infinito de inovação não vai parar. O maior desafio está em adotar essas ferramentas e tirar resultado e impacto delas. As empresas terão que priorizar a adoção em três perspectivas: pessoas, processo e tecnologia.
Em relação às pessoas, é preciso desmistificar o que é a IA, o que ela é capaz de fazer e o que não é capaz. É preciso garantir um letramento adequado para cada camada da organização, com clareza de onde a empresa quer chegar, qual o norte que se está querendo atingir. Quando as pessoas estiverem alinhadas a essa estratégia elas vão conseguir rodar com muito mais autonomia. É preciso também trabalhar o que chamamos de “ways of working”, isto é, qual é o novo jeito de trabalhar com essas plataformas e ferramentas? Como várias etapas podem agora ser automatizadas ou aumentadas por IA, isso vai mudar o dia a dia das pessoas. Por último, obviamente, a tecnologia em si. É preciso ter governança nas plataformas de IA, garantir segurança, controle de vieses, ética. Desses três pilares, a adoção é o maior desafio.
[EXP] Já que você mencionou o desafio de adoção da IA pelas pessoas, isso é reforçado por estudos que mostram que parte dos líderes e colaboradores têm receio de que a tecnologia os substitua nas empresas. Como lidar com esse tipo de resistência e facilitar a implementação de IA nos negócios?
[Leandro Angelo] Toda organização vai vivenciar esse conflito porque essa é uma questão para nós, seres humanos. Não estamos acostumados com evoluções exponenciais, apenas incrementais, é natural sentirmos desconforto, insegurança, medo. Estamos vivendo um momento em que é difícil prever até onde a tecnologia pode chegar, sabemos que ela é imparável e muda nosso dia a dia.
É aí que entra a responsabilidade das lideranças em apontar qual é a melhor fórmula e qual deveria ser a melhor aplicação de determinada tecnologia. Na minha experiência pessoal, sempre que vivencio uma disrupção como a IA, penso que é muito importante que eu me coloque como um agente de mudanças. Tanto organizações quanto indivíduos precisam enxergar o potencial da tecnologia para tirar atividades mais repetitivas e liberar nossa capacidade cognitiva para coisas mais complexas e desafiadoras. Na nossa experiência é importante que as pessoas participem do processo de construção dos agentes de IA e evoluam com a plataforma. Ao se verem parte dessa transformação elas têm um olhar mais positivo para onde a empresa está indo e para onde elas estão nesse futuro. Isso ajuda a quebrar o receio e o preconceito da tecnologia.
[EXP] Na capacitação de pessoas para trabalhar com IA, existe um risco de ampliar as desigualdades no mercado de trabalho. Como lidar com esse desafio?
[Leandro Angelo] Esse é um problema que já existia antes e que pode ser potencializado com a IA se não fizermos algumas ações. Vejo que há uma janela poderosa para fazer uma conexão entre o meio acadêmico, o mercado e as empresas. A CI&T é uma empresa “filha” da Unicamp, temos essa conexão com o meio acadêmico, mas vejo que há espaço para trazer um pouco mais da visão de pesquisa e de formação da nova geração de talentos para os desafios dos negócios.
Nós rodamos nosso programa de talentos, o NextGen, e contratamos 450 novos estagiários. Essa vai ser a primeira geração nativa IA, que não conheceu soluções digitais que não fossem empoderada por IA. Quando eu comparo um profissional que veio desse programa de talentos com outro que veio do mercado, observo que estes últimos têm uma curva mais lenta de aceleração, devido a alguns hábitos ou vieses.
As empresas têm uma oportunidade gigante de se aproximar mais do meio acadêmico e influenciar mais a formação dos profissionais. Tanto a academia tem muita pesquisa para agregar para as empresas quanto as empresas podem definir os drives que atendam os desafios de negócio que vêm pela frente. Esse capital humano é uma parte extremamente relevante de quem desenvolve soluções digitais. É uma janela muito poderosa de integrar esses dois mundos.
[EXP] Você pode citar alguns casos de uso que a CI&T tem trabalhado nas empresas que já estão fazendo a diferença nos negócios?
[Leandro Angelo] Existe o olhar da “porta para dentro”, que é como a IA está mudando as operações e nele existem três grandes atos. O primeiro é o da hipereficiência, temos ajudado vários dos nossos clientes a usar IA no ciclo de desenvolvimento de soluções digitais. A produtividade pode ser de duas até cinco vezes maior do que antes da IA. Esse human in the loop, essa interação dos especialistas de tecnologia com os agentes de IA e vice-versa, é algo que acelerou muito não só o desenvolvimento de soluções digitais, mas a adoção e o uso dessas ferramentas nas áreas de pessoas, jurídico, financeiro. Todas têm uma série de atividades que podem ser impulsionadas e empoderadas por IA.
Da “porta pra fora”, já existe uma grande transformação nas empresas que estão em um nível de maturidade de foundation, de dados, de estrutura de plataforma de IA, que estão levando essa tecnologia para mudar as experiências na ponta, com o consumidor final. Isso já acontece em várias indústrias, mas vou citar três onde isso já é real. No mercado financeiro, existe um suporte avançado de agentes de IA na jornada de assessoria de investimentos, de antecipar as tendências e trazer insights para a carteira de investimentos, de ter uma troca em tempo real com o dono dessa carteira. Na saúde, isso muda a experiência do médico em um hospital, ele passa a ter mais copilotos com ele para ter um diagnóstico mais preditivo. Ao mesmo tempo, o paciente está mais conectado e ele pode acompanhar sua saúde ao longo do tempo. Por último, na educação, ajudando os alunos, por exemplo, na preparação para os períodos de Enem e de provas, com um copiloto de IA mais personalizado para atuar nos pontos fortes do estudante e ajudá-lo a se desenvolver em suas fragilidades.
Ao mesmo tempo que você está entregando uma experiência muito melhor para quem é seu cliente, levando produtos muito mais adequados para a realidade dele, isso está impulsionando diretamente os negócios.
[EXP] Recentemente a CI&T divulgou um estudo feito pela Box 1824 que aponta cinco grandes tendências que vão impactar o setor financeiro. Quais são elas e como aplicá-las no dia a dia dos negócios?
[Leandro Angelo] O trabalho da Box 1824 é muito especial, eles detectam e decodificam o comportamento do consumidor para dar uma visão de futuro para uma determinada indústria. A consultoria olha para as pessoas entre 18 e 24 anos para fazer essa pesquisa de tendência. Em relação ao estudo, a primeira tendência é “Do meu jeito”. As pessoas querem se sentir donas e ter bastante autonomia sobre sua gestão financeira. A tendência é trabalhar produtos e serviços que sejam mais adequados à realidade dela e não exigir que ela se adapte a esses produtos e serviços. A segunda é “Transparência é poder”. As pessoas vão se sentir muito mais confortáveis e vão tomar decisões mais rapidamente em um ambiente onde elas se sintam seguras e respeitadas. Aqui é sobre a capacidade de ser claro e comunicar seus produtos e serviços de forma adequada e personalizada para essa pessoa.
A terceira é “Conexão é dinheiro”, que fala do senso de comunidade. Vários players de mercado têm comunidades onde os clientes estão influenciando as novas capacidades ou produtos que precisam ser desenvolvidos. A quarta é “Aprendo, logo decido”, em que a pessoa quer mais do que só ser atendida, ela quer aprender nesse processo, evoluir seus conhecimentos sobre gestão financeira. Aqui a ideia é dar ferramentas e esse poder de aprendizado para a ponta. “Finanças que importam” é o última, que é a perspectiva de que a escolha do produto vá além dos resultados financeiros, impactando a sociedade ou a comunidade.
[EXP] A regulamentação da IA é um processo que está ainda em aprovação no Brasil. Como as empresas podem se autorregular ou que mecanismos elas podem adotar para usar a tecnologia de forma mais ética e transparente?
[Leandro Angelo] Eu vejo que passa por três pilares. Na perspectiva de engenharia é como você está fazendo a governança de tudo que acontece no seu uso de plataformas ou ferramentas de IA. Na nossa experiência, construímos uma fundação para isso, então primeiro eu tenho um cuidado de FinOps, de como acessar os modelos de LLM sem lock-in, pois eles continuarão evoluindo. Esse cuidado com o FinOps é parte dessa fundação, porque o investimento financeiro para operar isso é significativo.
O segundo é uma camada de prompt management, que é como a empresa vai fazer a gestão de todos os prompts, de tudo que vai tocar os LLMs, não só para terem governança do que está indo para esses modelos como para ter o controle da inteligência desses agentes. Uma terceira perspectiva é o que chamamos de safety watcher, que é uma camada que nos permite observar vieses, comportamentos, ética, que garante a proteção e segurança corporativa.
Um segundo pilar é a fundação de dados, que garante os cuidados com LGPD e é determinante para ter uma estrutura e uma governança de dados bem definida. Por último, a governança como um todo, olhar os programas de IA, os resultados que estão sendo adicionados, os KPIs que devem ser observados, os drivers estratégicos da organização, que projetos devem ser priorizados na linha do tempo. Se atacarmos a perspectiva de engenharia, de fundação de dados e de governança, conseguimos construir esses espaços seguros até a regulamentação do país ser aprovada.
[EXP] Como usar a inteligência artificial para tornar o ambiente digital mais inclusivo? A CI&T desenvolveu um programa com a Natura para incluir digitalmente suas consultoras, pode nos contar sobre esse projeto?
[Leandro Angelo] Essa foi uma experiência bem especial pra gente, porque essa jornada de inclusão digital passa por belief. Acreditamos que qualquer solução digital deva garantir equidade e acessibilidade by design. Se fizermos um trabalho intencional, garantimos que ninguém fica de fora dessa era digital. No programa da Natura trabalhamos o social commerce e essa foi uma jornada que passou por quatro fases. A primeira foi a de diagnóstico, onde entendemos como estava a experiência digital, que desafios precisavam evoluir para garantir inclusão. A segunda fase foi a capacitação e letramento do time, para garantir que, no futuro, novas features tenham acessibilidade by design. A terceira etapa foi fazer um alto uso de IA, para identificar os pontos a serem solucionados. Por último, garantir que a validação do sistema fosse feita por um grupo de PCDs, que é quem pode dar feedbacks claros do que precisa evoluir e retroalimentar esse ciclo. Temos levado esse raciocínio para várias organizações pelo know-how que adquirimos nesse projeto e para acelerar a jornada de digitalização com mais inclusão.
[EXP] Para finalizar, que tendências ou tecnologias, além da inteligência artificial, devem impactar os negócios nos próximos anos?
[Leandro Angelo] Sem dúvida, a IA ainda vai impactar bastante e vai impulsionar outras tecnologias. Considerando isso, o edge computing vai acelerar, porque as empresas precisam trazer soluções de processamento mais locais para garantir respostas em tempo real e, ao mesmo tempo, gerar modelos mais especializados para determinados desafios. Isso vai trazer mais inteligência para essa capacidade de resposta e mais eficiência financeira.
Uma segunda perspectiva, obviamente, é a computação quântica para soluções mais específicas. Não vejo isso ainda para consumidores finais, mas para as organizações. Já vemos impacto por exemplo na descoberta de medicamentos no setor da saúde, no próprio setor financeiro, em predições e estatísticas mais avançadas, e no setor logístico. Uma terceira tendência é a evolução das experiências com avanços digitais diferentes, como as experiências mais imersivas, de realidade aumentada e realidade virtual, que hoje ainda são experiências pesadas. O Apple Vision ainda é um dispositivo caro e não tão funcional, mas nos próximos dois a três anos no máximo os smart glasses vão ser tão comuns quanto os smartphones. Essa sensação de estar conectado enquanto você caminha na rua, interagindo online, vai gerar um volume de experiências e aumentar a capacidade de comunicação e de conexão com os clientes em uma escala exponencial.
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