Tecnologia

IA Generativa reduz em até 56% o tempo de desenvolvimento de projetos, diz estudo da CI&T

Mauro Oliveira, CEO da C&T

Monica Miglio Pedrosa

Um ano e meio depois do lançamento do ChatGPT e da explosão da IA Generativa, de que maneira as empresas estão, efetivamente, usando a tecnologia e quais são os ganhos? O estudo GEN AI Pulse da CI&T revela alguns dados de implementação da IA Generativa em projetos globais de diversos setores, com redução de até 56% de tempo no desenvolvimento de projetos e ganhos de qualidade de até 2,5 vezes. “É a junção do humano + IA, a tecnologia como ferramenta para trabalhar de forma mais eficiente”, diz Mauro Oliveira, EVP (Executive Vice President) e Partner da CI&T, em entrevista à [EXP].

Com anos de experiência em projetos de transformação digital, Mauro, formado em Ciências da Computação pela Unicamp, acredita que está justamente no aspecto humano o maior desafio para o uso da tecnologia nos negócios. Ele vê um receio no uso da tecnologia no mercado, mas acredita que a IA será a ferramenta que melhora o trabalho. “Os líderes têm um papel crucial no processo de adoção da tecnologia. Eles precisam de coragem para empoderar as pessoas, ao mesmo tempo que seu próprio papel como líder está em transformação”, diz o executivo, que desenvolveu sua carreira na CI&T, onde está há 27 anos.

Mauro apontou ainda que, ao contrário do que se pensa, a governança para o uso da tecnologia deve ser vista não como um freio, mas como a “segurança necessária para as empresas arriscarem”. Ele também conta como a IA pode reduzir os problemas causados pela convivência de tecnologias de quatro gerações nas empresas por meio de aplicações da plataforma CI&T Flow, criada pela CI&T para trazer oportunidades de negócio geradas pela IA.

A CI&T, empresa nativa digital de Campinas, São Paulo, atua de forma global – com escritórios nos EUA, Brasil, Canadá, Reino Unido, Portugal, Japão, China, Austrália e Colômbia – como uma aceleradora de impacto nos negócios por meio de soluções digitais escaláveis. Com cerca de 6.200 funcionários, a CI&T reportou um lucro líquido de R$ 22,4 milhões no primeiro quarter de 2024 e receita líquida de R$ 523,5 milhões no mesmo período.

[EXP] – De que forma as empresas vêm usufruindo dos benefícios da plataforma CI&T Flow?

Mauro Oliveira – O Flow virou a grande plataforma que acumula todas as nossas experiências em tecnologia. Temos vários resultados, em especial casos de uso em que há um potencial muito grande de eficiência operacional. São problemas antigos que são resolvidos nesta nova dimensão, da inteligência artificial. Nosso método permite que as empresas escalem as soluções, para que elas não sejam apenas uma pequena experiência isolada. Diria que atuamos em duas vertentes: usar a IA para uma melhor experiência do cliente e para operar de forma mais eficiente.

Impacto da IA nas empresas

Você pode tangibilizar melhor essa aplicação, com um caso de uso em empresas?

Existem várias gerações de tecnologia convivendo nas grandes corporações. Diria que até as startups hoje já convivem com gerações de sistemas. Existe a geração anterior aos anos 1980, dos mainframes, que chamamos de monolitos. A segunda geração é a dos anos 1990, de sistemas cliente e servidor. Tem uma terceira geração, dos anos 2000, que inclui os primeiros sites web, mas muitos já estão ultrapassados, apesar de funcionarem. E há os sistemas a partir de 2010, que são os aplicativos móveis, alguns também com tecnologia ultrapassada. A convivência destes sistemas nas empresas traz diversos problemas, como velocidade, acesso a recursos, disponibilidade. Isso pode impedir a inovação e compromete a experiência do usuário, já que a régua do consumidor subiu muito nos últimos anos. O custo de manutenção destas tecnologias é alto, a velocidade para lidar com eventos inesperados não é adequada e há um aumento das vulnerabilidades de segurança.

Estes são exemplos de problemas antigos, que precisavam de um esforço manual muito grande para resolver, e que o uso intensivo da IA permite ter ganhos importantes de qualidade, minimizando os riscos da organização. Então, se um sistema da década de 1980 não possui uma documentação extensiva e o conhecimento do sistema está em seu código, o Flow tem uma IA que interpreta isso de forma automática. Isso torna viável, por exemplo, uma modernização do parque de aplicações. Esse é um dos mais de 60 agentes construídos no Flow.

Além dos sistemas legados, quais são, na sua visão, as maiores dificuldades das empresas para adotar essas novas tecnologias?

Tenho a experiência de ter atuado em muitos projetos de transformação digital de grandes empresas. Grande parte da transformação digital era uma transformação cultural. Havia também a visão de empoderar o cliente e atendê-lo melhor. É preciso muito cuidado nessa transformação cultural, porque as pessoas precisam de tempo para mudar. Com a inteligência artificial, esse desafio é muito maior. Quando falamos que vamos usar a IA, a primeira coisa que surge é o receio das pessoas sobre o que vai ser seu trabalho a partir daí. Elas não pensam que a IA vai ser uma ferramenta para melhorar seu trabalho. Temos que descontruir esta ideia que está no imaginário das pessoas.

Quem anda de bicicleta vai muito mais rápido do que quem anda a pé. Essa ferramenta, a bicicleta, vai fazer você ir mais rápido. Então, eu vejo a inteligência artificial nessa dimensão, de empoderar cada vez mais o ser humano, inclusive. O maior desafio que vejo no estágio atual dessa transformação, em que as ferramentas estão disponíveis, é como as pessoas vão usá-las da melhor forma possível. E o que estamos vendo com a inteligência artificial generativa é que isso está muito mais acelerado. Muitas iniciativas com a IA Generativa começaram há menos de um ano e algumas estão dando resultados excepcionais, como redução de custos de 50%.

Nesse sentido, Mauro, o papel do líder é fundamental, de passar essa tranquilidade para o time, superar as resistências iniciais e de ser um agente multiplicador. Como a liderança está se preparando para isso?

A verdadeira transformação não acontece sem segurança emocional. E quem dá a segurança emocional é o líder. Vamos virar profissionais melhores com a tecnologia. Muitas vezes, o próprio líder tem insegurança, mas seu papel é o de dar significado ao trabalho das pessoas e se ele não acreditar na tecnologia a transformação não acontece. Ao mesmo tempo que ele está se reinventando como líder, porque o trabalho de liderança vai sofrer impacto com essa dimensão de inteligência artificial, ele tem de motivar e engajar um exército de pessoas.

“O líder nesse momento tem que ser muito corajoso, porque ele tem que acreditar que esse é o caminho e correr riscos.”

 

Onde os líderes estão buscando essa capacitação, na sua opinião?

Fizemos uma iniciativa, criamos uma comunidade de pioneiros na CI&T e convidamos clientes de vários setores: financeiro, educacional, saúde, manufatura, varejo. Alguns deles até eram concorrentes próximos, mas temos que aprender juntos. Fizemos encontros com debates muito intensos. Essa comunidade de pioneiros de IA, que também estavam sentindo esse receio da mudança, empoderou a comunidade inteira. Essa não é a única solução, mas foi uma que eu vi funcionar muito bem. Temos encontros periódicos para trocar experiências. O líder nesse momento tem que ser muito corajoso, porque ele tem que acreditar que esse é o caminho e correr riscos. E a comunidade, onde você conhece pessoas no mesmo estágio e troca experiências, dá coragem também.

Queria que você falasse de governança de IA, em especial enquanto a regulação não avança. Como as empresas devem caminhar nessa direção?

A governança é uma dimensão estratégica. São três os pilares da CI&T: estratégia, design e engenharia. Falei bastante da modernização, de trazer essas ferramentas com uma perspectiva muito forte da engenharia. Trouxe um pouco de design, que é a experiência do usuário. Vamos falar de estratégia. Adquirimos a Box1824, que é uma consultoria de futuros. Baseado nessa experiência de visões de futuros, é possível ter a visão de futuro e os engenheiros trabalhando lado a lado, implementando o que é possível.

A governança pode passar a impressão de que ela não deixa você fazer nada, mas na verdade ela dá a segurança para você arriscar. Hoje atuamos no nível estratégico das empresas que estão pensando em como usar essa dimensão de inteligência artificial em seu contexto de mercado, pensando no futuro e no que ela precisa começar a fazer agora para chegar lá. Saímos com um desenho amplo de estratégia e de iniciativas em que podemos atuar. O board da empresa seleciona o que evoluir e qual a velocidade impor a cada uma das iniciativas. Isso tem nos surpreendido, porque mesmo nesse contexto econômico difícil, os boards estão muito dispostos a começar a investir para entender e fazer essas coisas acontecerem.

Como é a governança da IA Generativa?

Essa governança traduz, para mim, a segurança de poder usar, de poder ir além, de ter a coragem que falamos. Quando você está em um ambiente corporativo, a empresa tem os seus limites, ninguém vai abrir os seus dados e deixar disponíveis numa plataforma aberta para todos. É preciso um controle, uma governança disso. Aí vem a pergunta, qual é a minha inteligência do negócio? Quais são os meus dados? Às vezes eu preciso até dar um passo atrás e mexer na minha estrutura, porque não estou tão preparado para usar a tecnologia. É preciso fazer essa reflexão. O que me torna único? Isso é estratégia. Estratégia nua e crua.

A governança olha também para os limites, para o uso ético. Um deles é como preparar as pessoas, como trazer para esse novo contexto. A governança abrange ética, limites de negócio, os dados da empresa, o que eu vou fazer, como eu vou fazer, o quanto eu sou transparente em relação a isso. Uma cultura de regulamentação vai trazer isso à tona, mas vai demorar um pouco. Quanto anos usamos dados antes de a LGPD, que foi um avanço fantástico, surgir?

Como a IA está sendo usada para acelerar a sustentabilidade ambiental nas empresas. Já há algum caso concreto de uso?

Estamos vendo o impacto das ações do homem no nosso planeta e o quanto isso se volta contra nós. Há uma frente muito interessante sobre software verde. Por exemplo, quando eu faço a modernização de uma aplicação, isso deveria ser analisado como um pilar de sustentabilidade. Se estou construindo algo novo, existe a oportunidade de fazer melhor. E não é só ter uma tecnologia melhor, não é só ter um jeito melhor de usar aquela solução, ela tem que ser melhor para a comunidade, para o planeta, ter economia de energia. Fala-se muito de energia em tecnologia, que muitas vezes é o centro de tudo, mas às vezes isso fica tão distante, porque colocamos na nuvem, aí vira essa abstração. Estamos sendo eficientes energeticamente? A maioria das empresas está sim olhando para isso, medindo o impacto, mas ainda há muitos pontos para conectar neste momento. É algo que estamos engatinhando ainda.

E em relação a novas tecnologias, que podem ser potencializadas pela chegada do 5G, realidade virtual, IoT?
Temos uma área voltada para soluções de tecnologias imersivas, traduzidas anteriormente do Metaverso, que ganhou grande impulso com o lançamento do Apple Vision Pro. Estamos criando soluções com casos de uso real nas empresas, algumas já podem ser demonstradas, mas ainda é uma tecnologia incipiente. Temos o Hiper CX, que é a hiperpersonalização da oferta para os clientes, um assunto muito forte pra nós também. E os IoTs e sensores, que estão sendo cada vez mais usados em alguns segmentos, aumentam o volume e a quantidade de dados coletados pela empresa. É preciso estruturar isso de uma forma muito inteligente para poder capturar depois, todo esse poder dos dados.

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