Mercado

Mercado de proteína animal cresce fortemente no Brasil, diz CEO da JBS

Gilberto Xandó, CEO da JBS

Denize Bacoccina

Maior produtora de alimentos do Brasil e líder em proteína animal, a JBS é também a maior empregadora privada do país, com 156 mil colaboradores e exerce uma grande influência em toda a cadeia produtiva com suas mais de 130 fábricas espalhadas especialmente pelo interior. Em todo o mundo, são 270 mil colaboradores, operações em mais de 20 países em todos os continentes e mais de 300 mil clientes em 190 países.

Com uma estratégia multiproteínas e multigeografias, com produção em diferentes partes do mundo, a empresa consegue aproveitar não apenas as vantagens competitivas de cada país, com seu clima e acordos comerciais específicos. Mas também driblar situações momentâneas, como secas ou redução da oferta de animais para abate, além de contornar restrições sanitárias à exportação brasileira para alguns países enviando produtos de outros mercados.

Nesta entrevista à [EXP], o CEO da JBS Brasil, Gilberto Xandó, conta que as vendas, especialmente de carne bovina, estão em alta, por causa do bom momento econômico do Brasil em termos de emprego e renda e pela redução no preço devido ao aumento da produção. “Estamos vivendo um ciclo, especialmente na carne bovina, de maior oferta, e com isso os preços caíram e o consumo aumentou”, diz ele, sinalizando que ainda existe um subconsumo de proteína animal no país, que cresce conforme a renda disponível. Embora a empresa tenha uma ampla linha de produtos plant based e venha pesquisando também a carne cultivada em laboratório, ainda é a proteína animal que lidera as vendas.

“O mercado brasileiro tem sido muito robusto, resiliente. Há várias crises ao longo do tempo, mas o mercado de alimento é um mercado que é, por definição, resiliente”, afirmou Xandó. O mercado externo, para onde vai 50% da produção da empresa, também cresce, com a abertura de mais de 100 novos mercados aos exportadores brasileiros nos últimos dois anos.

Leia a entrevista:

[EXP] – A JBS tem uma plataforma global, presença em vários países, com produção e comercialização. Como está organizada a companhia hoje? Quantas marcas são?

Gilberto Xandó – É uma empresa que está presente em mais de 20 países. Nós temos plataformas nos Estados Unidos, Brasil, México, Canadá, Austrália e parte da Europa. Temos aproximadamente 150 marcas no mundo e 270 mil colaboradores, entre fábrica e comerciais. É uma estrutura robusta para atender o mercado de proteínas no mundo.

Nós temos uma lógica de multigeografias e multiproteínas. Ao longo do tempo, a gente consegue equilibrar uma estabilidade de crescimento, faturamento e lucratividade. Quando o mercado de carne bovina dos Estados Unidos sofre algum tipo de desafio adicional, a carne bovina do Brasil e da Austrália está num ciclo positivo, ou o inverso. Isso tem dado força de resiliência à JBS no seu crescimento e estabilidade de resultado ao longo dos anos.

A JBS tem produção em vários desses países onde também está o mercado consumidor, mas como está a produção e exportação a partir do Brasil? Como está o acesso aos mercados internacionais para a produção brasileira?

No Brasil, nós temos Friboi, focado no mercado de carne bovina, a Seara, com aves, e suínos, uma estrutura de lojas da Swift, com quase 700 lojas, uma área de couros, que é a maior produtora de couros do mundo, baseada no Brasil e que exporta 95% da produção para a indústria moveleira e automobilística. E temos uma estrutura de novos negócios, que são 14 negócios no país.

O mercado brasileiro nos últimos anos vem crescendo muito, tanto o mercado interno como para o resto do mundo. Nos últimos dois anos, o Brasil abriu mais de 100 novos mercados, entre eles mercados para as indústrias de proteína. Isso tem ajudado demais, e 50% do nosso volume, tanto na Friboi quanto na Seara, vão para vários destinos, o principal é o mercado da China. No mercado interno temos esses novos negócios, com produção de lata, biodiesel, uma transportadora. Usamos nossos próprios insumos num processo de economia circular. O mercado brasileiro tem sido muito robusto, resiliente. Há várias crises ao longo do tempo, mas o mercado de alimento é um mercado que é, por definição, resiliente.

A exportação representa quanto da produção atualmente?

Do Brasil, aproximadamente 50%, mas depende do negócio. No couro, é 95%. No negócio de aves e suínos, por volta de 50%. Nas proteínas bovinas, por volta de 55%, 60%. Varia um pouco de acordo com a sazonalidade dos animais e as demandas externas.

Ainda existem barreiras importantes para a exportação brasileira ou, com esses novos mercados, elas já foram eliminadas?

Não, ainda tem muitos desafios a serem trabalhados pelo Brasil de aberturas sanitárias de alguns mercados relevantes. Por exemplo, o mercado da Turquia ainda é um mercado fechado para carne bovina. O Japão é fechado para o Brasil na carne bovina, mas nós, da JBS, acessamos o mercado do Japão pela produção na Austrália e nos Estados Unidos. Então ainda existem desafios de abertura de novos mercados quando a gente olha as multiproteínas.

JBS em números

Falando da produção brasileira, o agro, e especialmente a produção de carne bovina, está muito visada por conta do desmatamento. De que maneira a JBS monitora a origem da produção? Quais são os processos de rastreabilidade?

A gente tem um processo muito robusto. A sustentabilidade é o centro da nossa estratégia, e a gente acredita que só seremos sustentáveis se tivermos maior produtividade e eficiência. Então, a gente investe nisso. Nós temos um sistema de rastreabilidade de todos os animais que nós compramos diretamente. Todas as fazendas que nós adquirimos o gado (nós não temos produção, nós adquirimos dos pecuaristas), são 100% monitorados online pela JBS. Além disso, temos 14 escritórios verdes espalhados pelo Brasil que fazem a reinserção no mercado de produtores integrados, pecuaristas que por algum motivo tiveram problemas legais, burocráticos, ambientais. Nós damos uma assessoria técnica para que essas fazendas se reinsiram no processo produtivo e já fizemos a reinserção de mais de 11 mil fazendas. A gente acredita que é o nosso papel, enquanto maior empresa de proteína do mundo, colaborar e fazer parte da solução da questão ambiental. Lembrando que o Brasil hoje é exemplo para o mundo na questão ambiental.

Embora a JBS seja a maior produtora de proteína animal, o vegetarianismo e o veganismo estão crescendo bastante também, no Brasil e no mundo. Como vocês monitoram essa tendência e produzem a partir disso?

Nós nos declaramos uma empresa focada em alimentação, focada no mundo da proteína e nós queremos dar a solução completa para os consumidores no mundo. Já éramos líderes em frango e carne bovina e para entrar no mercado de pescados compramos a segunda maior empresa na Austrália, na Tasmânia. Em produtos vegetais, temos duas operações, uma na Europa, a Vivera, e outra no Brasil, focada no mercado de plant based, com uma linha de produtos preparados para atender a esse consumidor que só se alimenta de vegetais ou alterna a sua alimentação entre a proteína animal e a proteína vegetal. E também estamos desenvolvendo, ainda em pesquisa, em dois laboratórios, na Espanha e em Florianópolis, a proteína cultivada. Ainda é um mercado absolutamente incipiente, mas nós, como o maior produtor de alimentos e proteína do mundo, temos que estar antenados a essas variações do consumidor ao longo dos anos. Temos uma proposta de atender a todos os públicos, de acordo com a evolução dos gostos e hábitos.

E qual mercado cresce mais no Brasil, de proteína animal ou de plant based?

A proteína animal continua crescendo fortemente. Estamos vivendo um ciclo, especialmente na carne bovina, de maior oferta, e com isso os preços caíram e o consumo aumentou. O mercado de frango e suínos também continua muito forte. O bom momento do Brasil, com a menor taxa de desemprego dos últimos 10 anos, perto de 7%, um crescimento de renda real de quase 8% nos últimos 12 meses, também favorece o consumo da proteína.

Ou seja, apesar dessa aparente tendência de vegetarianismo e veganismo, ainda existe um subconsumo de proteína animal?

Absolutamente sim. E nós temos uma preocupação que é produzir mais com menos, juntar produtividade e eficiência, por conta da questão do meio ambiente e também da insegurança alimentar. Até 2060 vamos ter mais dois bilhões de pessoas no mundo e temos o papel de alimentar o mundo com proteína. O segmento de proteínas é resiliente, cresce ou pelo poder aquisitivo ou pelo aumento da população no mundo.

A JBS tem 156 mil colaboradores no Brasil e unidades espalhadas especialmente no interior do país, em cidades menores. Como vocês atraem esses profissionais e como é a formação? Como é o processo de aquisição, retenção e promoção de colaboradores?

Hoje nós somos a maior empresa privada brasileira em número de empregados. Ao mesmo tempo, temos um grande desafio porque algumas cidades do interior de Santa Catarina ou do Mato Grosso têm condições de pleno emprego e temos um desafio de atrair esses profissionais. Nós temos o Instituto J&F para a formação contínua dos nossos profissionais, para que eles sejam atraídos pela nossa cultura e possam crescer na intensidade dos desafios que nós lançamos para eles. O instituto tem 14 anos e foco em ensinar para que haja tocadores de negócio dentro da estrutura da JBS. A gente pega um menino de 12 anos, do ensino fundamental e médio, e esses meninos têm a formação obrigatória do MEC mais a formação de tocadores de negócio. Eles saem com 18 anos prontos para a vida profissional, com a formação técnica e prática e já entram no mercado de trabalho conosco. Nós acreditamos muito na retenção por meio da educação, focada no nosso ambiente de negócio.

O instituto está em todas as unidades?

Não, o instituto hoje está formatado aqui na matriz, em São Paulo. Temos 1.100 alunos, que começam com 12 e vão até os 18. E agora fomos aprovados para ter uma faculdade, online, para dar a formação para a nossa liderança. E temos um projeto que acabou de ser instituído, já estamos em quatro ou cinco unidades, para ter o programa Jovem Aprendiz em cada uma das 130 unidades produtoras no Brasil, uma oportunidade de impactar 10 mil jovens ao longo da estrutura da JBS.

O fato de ser uma empresa global funciona como um fator de atração? Como é o intercâmbio entre profissionais do Brasil para outros países e de outros países para o Brasil?

Temos o JBS Sem Fronteiras, que dá oportunidade, hoje, principalmente para brasileiros, de ir para o mundo, em várias funções, desde operacionais até administrativas. Temos vários profissionais que estão espalhados na Europa, Estados Unidos, Austrália, onde nós temos mais carência de mão de obra. Dentro da JBS do Brasil eles podem ter a chance de desenvolver uma carreira internacional. Nós incentivamos que eles façam isso, que aprendam inglês, e oferecemos aqui o ensino para que eles possam trilhar essa carreira internacional.

 

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