Mercado de trabalho em 2026 exige um RH mais estratégico

Monica Miglio Pedrosa
O mercado de trabalho em 2026 seguirá pressionado por desafios como a escassez de mão de obra qualificada, o baixo nível de desemprego, a alta rotatividade de profissionais e a crescente demanda por estratégias de retenção de talentos, que incluem programas voltados ao desenvolvimento de novas competências e ao fortalecimento da cultura organizacional. Diante de desafios cada vez mais complexos e das incertezas macroeconômicas típicas de um ano eleitoral, as áreas de Recursos Humanos tendem a ser cada vez mais demandadas para atuar nas decisões estratégicas que influenciam diretamente os resultados do negócio.
A leitura do cenário é de Fabio Battaglia, CEO da Randstad Brasil, consultoria global de RH especializada em recrutamento e seleção, que registrou um crescimento superior a 20% no número de contratações no país em 2025. Foram mais de 100.000 vagas preenchidas ao longo do ano, com maior concentração em setores como logística e varejo, que responderam por 80% da demanda, seguidos pelos segmentos farmacêutico, de tecnologia e bens de consumo. Presente no Brasil há 15 anos, a Randstad atende clientes como Mercado Livre, Amazon, Shopee, Boticário, Coty, L’Occitane, Adidas, AstraZeneca, Merck, Heineken, Gerdau, Accenture e Positivo, entre outros.
“Em funções operacionais, conseguimos apresentar um shortlist de candidatos em três dias. Para vagas estratégicas, em até 10 dias. Trabalhamos com escala e velocidade”, afirma Battaglia. Dos cerca de mil profissionais da Randstad no Brasil, 700 atuam como recrutadores, dedicados à captação ativa de talentos. A empresa opera com uma experiência digital que dá agilidade ao processo de contratação, desde o cadastro e a aplicação de testes online até o onboarding e a assinatura do contrato.
Nem todos os profissionais, no entanto, podem ser alcançados pelos canais digitais. Segundo Battaglia, o recrutamento de cargos operacionais exige presença física, conhecimento territorial e estratégias capazes de chegar a profissionais que não estão nas plataformas tradicionais. A Randstad combina campanhas em redes sociais como TikTok e Instagram com iniciativas presenciais, como carro de som, parcerias com prefeituras, panfletagem em igrejas e ações em espaços públicos. “Nas comunidades, buscamos lideranças com influência local, capazes de engajar talentos e explicar as oportunidades de aprendizado e evolução nas vagas”, conta.
Desafios do RH em 2026
Battaglia lembra que o Brasil vive uma situação próxima ao pleno emprego, com taxa de desemprego em torno de 5%, combinada a altos níveis de informalidade e salários pouco competitivos em alguns setores. Esses fatores impõem desafios não apenas na atração, mas também na retenção de profissionais. Para lidar com a alta rotatividade, especialmente em funções operacionais, os times de Recursos Humanos precisam ser mais assertivos na construção da proposta de valor, na escolha dos canais de captação e na adequação da mensagem para fortalecer a marca empregadora.
“Com uma abordagem consultiva, conseguimos mostrar ao cliente qual proposta de valor precisa estar na mesa para engajar um talento”, afirma. Ele cita como exemplo uma vaga de vendedor no varejo de moda durante a alta temporada de Balneário Camboriú. “Não é qualquer job post que atrai pessoas para essa posição, nesse período. A partir de dados e do histórico da região, conseguimos sugerir ajustes de remuneração ou outros benefícios mais aderentes àquele contexto.”
A Randstad pode apoiar com escala e velocidade no recrutamento e seleção, para que o RH possa se dedicar a temas estratégicos como desenvolvimento de cultura organizacional, treinamento, engajamento e desenvolvimento da liderança”
A convivência entre gerações no ambiente profissional também ganhou relevância na agenda das empresas. Enquanto a Geração Z demanda reconhecimento contínuo, mobilidade interna e novos desafios para se manter motivada, a ascensão de profissionais 50+ traz a necessidade de capacitação em novas tecnologias. “O coaching reverso surge como uma oportunidade, em que executivos mais jovens, com maior familiaridade em dados e plataformas, podem apoiar os mais experientes, que podem ajudar com processos, governança e experiência de vida”, explica.
No caso da Geração Z, Battaglia recomenda a adoção do conceito de “micro carreiras” ou de projetos simultâneos, que ajudam a manter esses profissionais energizados e engajados. “O RH precisa preparar a liderança para lidar com esse público, entender como eles se comunicam e o que esperam. Esse é um desafio atual”, afirma, destacando que grande parte do turnover no mercado ocorre com jovens profissionais com até um ano de empresa.
IA e gig economy
Battaglia reconhece que a inteligência artificial tem ganhado espaço nos processos de recrutamento e seleção e avalia como positiva a automação de etapas como triagem inicial de currículos. Mas vê com ressalvas a terceirização completa do processo para a tecnologia, acreditando que a entrevista olho no olho não pode ser substituída. “A tecnologia não é capaz de compreender as nuances de uma conversa como o brilho no olho, a energia e a disposição para aprender que surgem em uma avaliação humana”, afirma.
Outra tendência em consolidação é a expansão da gig economy no Brasil, com mais profissionais atuando como autônomos, freelancers ou PJs. As empresas, segundo Battaglia, tendem a se mostrar cada vez mais abertas a esse modelo, especialmente em posições sênior e de alta especialização, ampliando contratos por projeto ou de escopo fechado.
Por fim, o executivo avalia que a contratação será cada vez mais orientada por competências concretas, priorizando candidatos que já enfrentaram desafios semelhantes em outras organizações e conseguem gerar valor para o negócio desde o início. Nesse processo, as credenciais acadêmicas perdem protagonismo. “Mesmo empresas com estruturas robustas não conseguem absorver sozinhas a complexidade do recrutamento atual. O apoio de parceiros especializados como a Randstad permite que o RH atue de forma mais estratégica, dedicando-se ao desenvolvimento da cultura organizacional e ao treinamento, engajamento e formação de lideranças”, conclui.
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