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O que já se sabe sobre o novo dispositivo de IA sem telas de Ive & Altman?

Sam Altman & Jony Ive

Monica Miglio Pedrosa

O futuro sem telas é anunciado desde pelo menos a década passada, quando Golden Krishna, Head of Design Strategy do Google, lançou o best-seller The Best Interface is no Interface (A melhor interface é nenhuma interface). A obra fala de um futuro sem aplicativos e interfaces gráficas, em que a tecnologia funcionaria de forma quase invisível. Depois vieram os smart wearables, os dispositivos vestíveis inteligentes, como os óculos Apple Vision Pro, que prometem mesclar o mundo físico ao digital. Mas, até o momento, nenhuma dessas inovações conseguiu substituir, de fato, os smartphones como centro da vida digital.

Se depender de Jony Ive, ex-head de design da Apple que criou o visual de produtos icônicos como iPhone, iPad, iMac e Apple Watch, e Sam Altman, cofundador e CEO da OpenAI, essa realidade está com os dias contados. Eles anunciaram que estão desenvolvendo um novo dispositivo de inteligência artificial, projetado para “ajudar as pessoas a fazerem o que quiserem” e capaz de transformar profundamente a experiência digital dos usuários.

Ive, que havia deixado a Apple em 2019 para fundar a LoveFrom, coletivo de designers e criativos com sede em São Francisco, Califórnia, cofundou a startup de hardware de inteligência artificial io em 2024, com outros três sócios e ex-colegas da Apple: Scott Cannon, Evans Hankey e Tang Tan. Em maio deste ano, a OpenAI adquiriu a empresa por US$ 6,5 bilhões e incorporou os cerca de 55 profissionais da io à companhia. A LoveFrom, por sua vez, permanece independente, mas assumiu papel central no design e na visão criativa dos dispositivos de IA em desenvolvimento na OpenAI.

Ao anunciar a parceria, em um vídeo ao lado de Ive, Altman destacou o potencial transformador da iniciativa: “O significado de usar tecnologia pode mudar de forma profunda. Espero que possamos trazer um pouco do encantamento, da maravilha e do espírito criativo que senti pela primeira vez ao usar um computador da Apple há 30 anos.”

Já Jony Ive descreveu a colaboração como um ponto de convergência em sua trajetória profissional: “Tenho a sensação de que tudo o que aprendi nos últimos 30 anos me levou a este momento. Embora eu esteja ao mesmo tempo ansioso e animado com a responsabilidade do trabalho que temos pela frente, sou muito grato pela oportunidade de fazer parte de uma colaboração tão importante.”

O que se sabe até o momento

Com lançamento previsto para final de 2026, a novidade promete ser um “terceiro dispositivo central”, ao lado do smartphone e do notebook, algo que o usuário “colocará sobre a mesa, mas que também cabe no bolso”. Um aparelho sem tela, consciente de contexto, não invasivo e não será um acessório vestível. Esses detalhes vieram à tona em uma reunião de Sam Altman com sua equipe, revelada por reportagem do Wall Street Journal.

Para Jony Ive, esse novo projeto também representa uma oportunidade de confrontar os efeitos colaterais não intencionais do próprio iPhone, produto que ajudou a criar e que transformou a forma como o mundo interage com a tecnologia. Em uma entrevista à Stripe, ele afirmou que “mesmo que você seja inocente em suas intenções, precisa assumir a responsabilidade por algo que teve consequências negativas”. Essa dispersão de atenção, para Ive, é justamente o desafio que a parceria com a OpenAI busca enfrentar, inaugurando uma nova etapa no design de interfaces humanas mais intuitivas, invisíveis e integradas ao cotidiano.

io X IYO

Cerca de 20 dias depois do anúncio da aquisição, a OpenAI e a io enfrentaram o primeiro revés. A startup IYO entrou com um processo judicial contra a io por violação de marca registrada. Os advogados da IYO alegam que, além do nome similar, a startup criada por Jony Ive atua em um segmento similar ao seu, o de dispositivos de IA sem tela, o que poderia gerar confusão no mercado. Em 2023, a empresa já havia registrado a marca e lançado o iyO One, um acessório de áudio controlado por voz.

A justiça determinou que a OpenAI retirasse do ar todos os materiais de marketing relacionados à marca io, incluindo vídeos promocionais e páginas do site oficial. A audiência preliminar sobre o caso está marcada para outubro, mas o julgamento deve acontecer somente em janeiro de 2026, o que pode impactar o lançamento do novo dispositivo – pelo menos sob o nome io.

Contrariada, a OpenAI afirmou, em nota oficial, que “não concorda com a decisão judicial”, mas que irá “cumpri-la integralmente”. A companhia também declarou acreditar que não há risco real de confusão entre as marcas, ressaltando que o projeto liderado por Ive e Altman possui escopo e ambições distintas em relação ao produto já lançado pela IYO. Ainda assim, a disputa jurídica adiciona uma camada de incerteza à empreitada, impondo desafios reputacionais e legais justamente no momento em que a empresa busca consolidar sua entrada no mercado de hardware de consumo.

Enquanto a briga jurídica se desenrola, a curiosidade sobre a próxima revolução em dispositivos de IA só aumenta. A parceria entre os icônicos nomes de Ive, responsável por moldar o design de gerações inteiras de produtos da Apple, e de Altman promete inaugurar um novo capítulo na interação entre pessoas e máquinas.

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