Repensando o futuro em Tianjin: as novas vozes da transformação global

Gui Brammer*, executive fellow do Centro de Natureza e Clima do World Economic Forum
Entre os dias 24 e 26 de junho, participei da 16a reunião anual “The New Champions” do World Economic Forum em Tianjin, na China. Conhecido como o “Summer Davos”, este encontro reuniu mais de 1.600 líderes globais – de governos, empresas, sociedade civil e academia – para discutir os rumos de um mundo em rápida transformação.
Com o tema “A Nova Fronteira do Crescimento”, os debates foram marcados por um senso de urgência e, ao mesmo tempo, de oportunidade. A seguir, compartilho os principais temas que emergiram, sob o olhar de quem vive o dia a dia da transição para uma economia mais regenerativa, inclusiva e resiliente.
1. Crescimento com propósito: não basta escalar, é preciso regenerar
Foi consenso que o crescimento econômico do futuro precisa estar vinculado à regeneração ambiental e à inclusão social. A narrativa de que lucro e impacto são mutuamente excludentes está sendo superada por modelos que integram métricas financeiras e socioambientais. Em vez de apenas reduzir danos, o desafio agora é gerar valor restaurando ecossistemas e fortalecendo comunidades.
2. Inovação na era da fragmentação geopolítica
A crescente fragmentação entre blocos econômicos foi tratada como um risco sistêmico. Em resposta, observamos um movimento de relocalização de cadeias produtivas, fortalecimento de parcerias regionais e investimento em resiliência. Nesse contexto, inovação deixou de ser apenas tecnológica: ela se tornou estratégica e geopolítica.
3. Inteligência artificial e governança ética
A explosão da inteligência artificial generativa gerou entusiasmo, mas também alertas. Reguladores, empresas e sociedade civil convergiram na ideia de que não se pode deixar a tecnologia correr mais rápido que a ética. Governança de dados, transparência algorítmica e inclusão digital foram temas centrais.
4. Natureza como infraestrutura do século XXI
A proteção e restauração da natureza emergiram como temas transversais. Investimentos em infraestruturas baseadas na natureza – como florestas, bacias hidrográficas e solos saudáveis – estão sendo reconhecidos como estratégicos para mitigar riscos climáticos, garantir segurança hídrica e alimentar, e fortalecer a resiliência urbana.
5. Juventude e empreendedorismo como alavancas sistêmicas
Chamou atenção o protagonismo das novas gerações. Jovens empreendedores, cientistas e ativistas trouxeram soluções ousadas e cobraram mais ambição dos líderes tradicionais. A inovação de impacto está vindo de onde menos se espera – e de onde mais se precisa.
Participar da Reunião dos “new champions” reforçou algo em que acredito profundamente: a transição para um novo modelo de desenvolvimento não é apenas necessária – ela já começou. E está sendo liderada por um ecossistema cada vez mais diverso, interdependente e corajoso.
Do centro de Taijin à Floresta Amazônica, estamos todos conectados por um mesmo desafio: recalcular a rota do progresso humano. Que sigamos nessa jornada com ousadia, cooperação e propósito.
*Gui Brammer é executive fellow do World Economic Forum e foi CEO e fundador da Boomera, startup que oferece soluções em logística reversa e engenharia circular, que faz parte hoje do Grupo Ambipar.
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