Artigos

2024: o ano de falar a verdade

Ricardo Natale

Vivemos um momento desafiador no mercado corporativo. Cenário internacional complicado, o Brasil com muitas incertezas, falta de previsibilidade, insegurança política e consequentemente econômica. Para onde estamos indo?

Do ano passado para cá fiz mais de mil reuniões comerciais com o mercado.

E, de forma unânime, o que eu vinha ouvindo dos meus interlocutores, altos executivos de grandes empresas, era que o modelo de trabalho home office ou híbrido era perfeito, que a cultura da empresa estava sendo mantida mesmo com as pessoas distantes, que os resultados não foram prejudicados e até melhoraram. Muitos falavam em crescimento de dois dígitos.

Um cenário tão positivo que muitas vezes me questionei: será que eu estou errando? Que mundo é esse que não estou vendo? Será que é porque o meu negócio era presencial e tivemos que mudar tudo na pandemia que não consigo um desempenho assim tão positivo?

Agora, nas conversas, o cenário que me trazem é bem diferente. Empresas grandes não estão atingindo suas metas, estão sentindo o mercado retraído, vendo seus orçamentos diminuir. São muitos os desafios. E não é uma empresa específica. Estou falando de grandes players, todos eles. Os mesmo que diziam, até alguns meses atrás, que estava tudo bem.

A conclusão a que chego é a seguinte: os discursos, nos últimos dois anos, foram muito pautados pelas áreas de Relações Públicas. Discursos prontos, otimistas para além do que a realidade permitia.

Eu entendo que muitas empresas, por seus compromissos com acionistas, não podem falar abertamente dos problemas, precisam mostram que estão se adaptando, que serão capazes de trazer os resultados esperados. Entendo as dificuldades do CEO, do RI, que precisa construir uma narrativa de crescimento, de resiliência, de cultura forte. E que falar algo diferente disso pode abalar as ações, os resultados.

Mas não podemos exagerar.

E eu acho que o mercado exagerou na narrativa de otimismo.

Se não tivesse exagerado, não estaríamos agora tão preocupados, tão surpresos vendo empresas gigantescas e que há pouco tempo mostravam um cenário de mil maravilhas dizerem publicamente que não vão conseguir entregar. Fato é que o mercado vai para um 2024 repleto de problemas, com muitos desafios.

E parte dessa narrativa é o discurso excessivamente otimista com o trabalho remoto. A realidade está mostrando que não é viável. Faz parte da dinâmica do mercado visitar o cliente, insistir, esperar, até ser atendido. Muito disso se perde no remoto. Sem contar que as pessoas se acostumaram a ser mal-educadas. Quem nunca teve uma reunião online cancelada sem aviso prévio? Muitas vezes sem sequer um e-mail de explicação. O mundo real não é online, não é híbrido. O mundo é presencial.

Do mesmo modo que as empresas precisam encarar a verdade sobre saúde, também precisam ver a importância de não exagerar nas narrativas.


Temos que voltar a um equilíbrio entre ser promissor, estimulante, instigante, mas estar mais próximo da realidade.

Fica aqui o meu convite aos líderes: 2024 tem que ser o ano de falar a verdade.

  • Aumentar texto Aumentar
  • Diminuir texto Diminuir
  • Compartilhar Compartilhar