ESG

Como podemos contribuir para uma maior equidade racial?

Ricardo Natale

O Brasil tem 56% da população que se identifica como negra (pretos e pardos), segundo o IBGE, mas a presença nos cargos de liderança das empresas é mínima. Nas 500 maiores empresas, apenas 4,7% dos cargos executivos são ocupadas por negros e a participação nos conselhos administrativos de grandes empresas é de somente 4,9%.

Neste dia 20 de novembro, quando celebramos o Dia da Consciência Negra, convidei Tom Mendes, diretor do ID_BR (Instituto Identidades do Brasil), que já participou do Fórum CEO Brasil, em setembro, e vai participar do RH Experience, nesta semana, para dar a sua visão sobre a situação das empresas brasileiras em relação à diversidade.

Tom, como você avalia o atual momento do mercado corporativo brasileiro em relação à inclusão racial?

Tom Mendes – Nós andamos com a temática, mas estamos longe de um cenário favorável para a população como um todo. Ainda não vemos refletido nem de longe os dados censitários do Brasil. E muito dos investimentos e iniciativas não só no Brasil mas em outros lugares do mundo perderam espaço para outras pautas, como a pauta ESG.

Ainda há uma concentração de iniciativas em empresas de grande porte. São raras as iniciativas em médias e pequenas empresas.Empresas como Magazine Luiza, que se destacou em 2021 ao implementar programas sólidos de inclusão, como o programa de Trainee 100% para pessoas negras e políticas de contratação, grupos de diversidade e ações relevantes como Unilever, Coca-Cola, Disney, Aegea, Mondelez, Pepsico e outras, demonstram um avanço promissor em direção à diversidade.

Qual deve ser o primeiro passo de uma empresa que deseja se tornar mais diversa? E quais são os pilares fundamentais para que isso aconteça?

A empresa deve iniciar seu compromisso com a diversidade através de ações concretas. O primeiro passo deve ser a mudança real de cultura corporativa e ao mesmo tempo uma avaliação propositiva e imersiva por parte das lideranças nas suas crenças, valores e cultura. Se não tivermos pessoas com a intenção de fazer diferente, pouca coisa vai se mover.

Com isso fica mais fácil olhar para alguns pilares essenciais para se implementar mudanças, como métricas, metas, prazos para acontecer e principalmente investimentos. Não dá pra decolar avião com asas quebradas.

Muitas empresas no Brasil realizam processos seletivos específicos para aumentar a participação de pessoas negras na empresa. Que ações são necessárias para realmente integrar essas pessoas na vida da empresa?

Ações como recrutamento, mentoria, programas de capacitação e uma cultura de inclusão são essenciais para garantir que os candidatos não apenas sejam contratados, mas também se sintam parte vital da empresa, promovendo um ambiente inclusivo e acolhedor.

Uma liderança comprometida com essas iniciativas que comunique individualmente e coletivamente pra dentro e também pra fora, colocando a empresa em evidência, é essencial para que a integração seja cada vez maior. Quando a empresa se posiciona como uma empresa que está na jornada de se tornar antirracista – seja participando de eventos, patrocinando, investindo em iniciativas de pessoas negras, investindo internamente, comunicando em suas redes, contratando – ela se torna cada vez mais uma empresa onde profissionais negros e negras querem entrar e ficar. Nenhum profissional quer permanecer em um ambiente que não comunique o que acredita e prega internamente.

E como aumentar a participação das pessoas negras na hierarquia das empresas brasileiras?

O primeiro passo é realmente querer que isso aconteça. Além de ser o certo a se fazer é lucrativo e aumenta a produtividade. Uma pesquisa realizada pelo ID_BR comprova que a cada de 10% empregado em diversidade étnico racial nas empresas há um aumento de pelo menos 4% em produtividade.

Ter pessoas negras com repertório racial nas posições de decisão é fundamental para alavancar a empresa. A diversidade de ideias e culturas é o suprassumo de uma estratégia de sucesso. Já existem inúmeros grupos de profissionais negros nas mais variadas frentes de trabalho com alta qualificação. Às vezes o que precisa melhorar é a forma de como se encontra e recruta esses profissionais. Precisamos de um olhar propositivo e intencional.

Num país em que 56% da população é negra, qual o efeito de não ter negros na liderança das empresas no Brasil?

A ausência de liderança negra nas empresas limita a capacidade das organizações de atender às necessidades de um público diversificado. Essa falta de representatividade compromete a compreensão das demandas de um público majoritariamente diverso e que é maioria no Brasil, afetando a capacidade de inovação, acesso e o alcance efetivo das empresas no país.

Não praticar a diversidade tem um efeito que se reflete na segurança, na educação, na economia. Se não pensarmos nessas mudanças estruturais estaremos perpetuando uma história de um Brasil onde um grupo específico de pessoas foi sistematicamente prejudicado. O cenário que temos hoje no mercado corporativo é um reflexo de não olhar para essas questões nas últimas décadas.

Temos hoje a oportunidade de fazer diferente deixando um legado que nossos filhos terão orgulho de contar para as próximas gerações. Um país bom para as pessoas negras e indígenas, por exemplo, é um país bom pra todo mundo.

Carta do CEO
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