Startup

Fora da Curva 3: Unicórnios e startups de sucesso

Fora da Curva 3

Organizadores: Florian Bartunek, Pierre Moreau e Ariane Abdallah

Ideias centrais:

1- Valorize as pequenas conquistas e não queira chegar rápido aos seus objetivos. Tenha paciência para construir e aprecie cada dia.

2 – Encontrar e conhecer pessoas e organizações inspiradoras ajudam a dar novas ideias para o negócio. Para pensar no longo prazo, é preciso se afastar do dia a dia, de vez em quando.

3 – Tenha foco e não queira resolver uma dúzia de problemas ao mesmo tempo. Lembre-se a todo momento de qual é seu objetivo e quais as tarefas prioritárias para alcançá-lo.

4 – Inspire-se, mas não se contamine com modelos que parecem ser “o certo”. Cada negócio é um. Para empreender é preciso ter os pés no chão e lembrar por que começou a empreender e seguir o objetivo à risca.

5 – As pessoas medianas são capazes de superar as mais inteligentes por meio da prática. A dedicação rompe barreiras. Ainda que leve um tempo para se destacar, a pessoa com mais disponibilidade para aprender leva vantagem no longo prazo.

6 – Buscar a inovação o tempo todo passa por admitir os erros. Por mais desconfortável que seja, é preciso ter a coragem de sempre se perguntar – e assumir publicamente – onde se está falhando.

7 – Encontre o setor onde sua experiência faz a diferença na entrega. Busque o ambiente em que poderá agregar mais valor do que a concorrência.

8 – Uma empresa em crescimento não pode se prender a posições e tarefas. As pessoas têm de estar dispostas a mudar suas atividades a todo momento, contribuindo com o que a companhia precisa no momento para dar o próximo passo.

9 – Uma das maiores motivações para construir uma empresa, com todos os sacrifícios que isso implica, é estar rodeado por pessoas com as quais ama conviver e construir novos caminhos.

Sobre os organizadores:

Florian Bartunek começou a carreira no Banco Pactual e, aos 25 anos, tornou-se sócio da empresa. Chefiou a área de análise de ações e de gestão de recursos. Em 2002, fundou o Constellation, fundo de investimento com R$ 16 bilhões sob gestão. Formou-se na Harvard Business School.

Pierre Moreau é cofundador da Moreau Advogados e da Casa do Saber e árbitro em diversas câmaras de arbitragem. É professor do Insper e professor visitante na Universidade St. Gallen. Mestre em Direito pela PUC-SP, fez estudos na Harvard Law School.

Ariane Abdallah é jornalista formada na Faculdade Cásper Líbero e autora da biografia independente De um gole só: A história da Ambev. Criou a empresa Atelier de Conteúdo, que atende clientes como Vivo, Enjoei, LinkedIn e Spoleto.

Introdução:

Em Fora da Curva 3: Unicórnios e startups de sucesso, reunimos depoimentos de 12 empreendedores que, à frente de seus negócios, estão modificando setores inteiros ou expandindo os horizontes do mercado, com ideias inéditas. São jovens brasileiros entre 23 e 46 anos, alguns com empresas já avaliadas em mais de US$ 1 bilhão – os famosos unicórnios. Nosso critério para convidar os representantes da cena empreendedora que aparecem nas próximas páginas foi o tamanho da empresa, o potencial de escalar o negócio e o impacto em seu respectivo setor – apesar de sabermos que há muito mais que uma dúzia de brasileiros com startups fantásticas mudando o mundo.

Em seus depoimentos, esses jovens empreendedores contam não apenas sobre suas empresas e os respectivos modelos de negócios, mas também sobre sua infância, seus erros memoráveis, seus medos mais profundos, seus dilemas. Porque acreditamos que tão relevante quanto as ideias que tiveram é o caminho que percorreram, o raciocínio que os levou a tomar as decisões mais importantes e os aprendizados que podem inspirar futuros empreendedores.

Capítulo 1 – Alphonse Voigt

É cofundador do Ebanx, empresa que oferece métodos de pagamento para sites internacionais e regionais, como Spotify e Uber. O Ebanx foi anunciado como unicórnio em 2019 – sete anos depois de sua fundação. Para celebrar este marco, Alphonse Voigt percorreu um caminho cheio de desvios, altos e baixos. Começou a carreira como advogado. Mas foi também integrante de uma equipe profissional de paraquedismo e apresentador de programa de futebol na TV. Foi o responsável pela área comercial no início do Ebanx e hoje é CEO da companhia.

Nos primeiros meses de 2012, estruturei as ideias para essa nova empresa, que teria o objetivo de processar pagamentos. Queria que fosse a fornecedora das plataformas de e-commerce do mundo inteiro que vendessem produtos no Brasil. Queria oferecer boleto bancário para a Amazon. Sim, eu sonhava grande. Tinha para investir o dinheiro que havia recebido da venda da minha parte na Astroplay e tempo para me dedicar à construção desse negócio.

O nome Ebanx surgiu nesse momento. Eu conhecia uma empresa que se chamava Netbanx e gostava do som, lembrava de algo digital e relacionado a pagamentos. Inicialmente, coloquei o “i” do Iphone, mas funcionou melhor com o “e”. Então ficou Ebanx.

O Ebanx sempre gerou caixa e era capaz de sustentar seu próprio crescimento, sem necessidade de investidores. Mas, em 2017, tivemos um aporte de fundo norte-americano FTV Capital. O acordo foi muito menos para receber dinheiro e muito mais para ganhar aliados nas batalhas, gente com conhecimento do mercado e mais experiência. Foi por meio do FTV, por exemplo, que conhecemos nosso futuro Chief Commercial Officer, Henrik, que atualmente fica nos Estados Unidos cuidando do time comercial e do contato com os clientes.

Em 2019, um segundo aporte do FTV transformou o Ebanx em um unicórnio. Para mim, isso foi reflexo das soluções únicas que criamos para atender às demandas de algumas das maiores marcas do mundo.

Pensamento:

Entrar em projetos grandes, que demandam alto investimento antes de gerarem qualquer retorno, só faz sentido se houver lastro. Ou seja, garanta que você tenha dinheiro ou um plano B no qual se ancorar, caso a iniciativa dê errado (por culpa sua ou do contexto).

Capítulo 2 – Anderson Firminiano

Aos 26 anos, Anderson Ferminiano já fundou três empresas bem-sucedidas. A mais recente é a Voxus, criada em 2021 como um dos primeiros players de mídia programática com tecnologia própria no Brasil. No início especializou-se em campanhas de vídeo e branding e prometia o melhor custo-benefício para o cliente. Com o passar dos anos, passou a se posicionar como especialista em marketing digital para o mercado de e-commerce.

Em dezembro de 2014, antes de terminar o curso na Babson College (Massachusetts), criei a Voxus – a empresa que toco até hoje. Com todas as experiências na bagagem, decidi me especializar em mídia programática para concorrer no mercado publicitário. O diferencial inicial da Voxus era que o cliente pagava com base nos resultados das campanhas publicitárias.

Nossa missão era desenvolver um caminho o mais simples possível para a compra de banner e aplicativo para e-commerce. Na publicidade, você precisa definir diversas variáveis, como o público, a frequência e a mensagem.  Nossa tese era a de que isso teria que ser feito de forma muito simples, ou seja, com o mínimo de cliques possíveis, no menor tempo.

Pensamento:

Ter gosto e disposição para o aprendizado é fundamental. Especialmente na área de tecnologia, onde tudo muda constantemente, e é preciso estar sempre atualizado. Encaro erros como aprendizados. Vejo o lado positivo deles e como posso melhorar.

Capítulo 3 – André Penha

É cofundador do Quinto Andar, plataforma que simplificou o jeito de alugar imóveis. A empresa existe desde 2012 e usa tecnologia e design para simplificar o processo do aluguel de imóveis. Com colegas da faculdade (Unicamp), fundou a Overplay, que foi adquirida pela Tectoy. Decidiu estudar em Stanford, onde conheceu seu futuro sócio Gabriel Braga. Os dois se aproximaram e criaram o Quinto Andar para melhorar a experiência do aluguel.

Pensamos no aluguel. Alugar imóvel no Brasil era um processo horrível que muita gente enfrentava. Eu tinha acabado de conseguir alugar meu apartamento vazio em Campinas, depois de quase um ano nos Estados Unidos. O que eu sofri como proprietário o Gabriel tinha sofrido a vida toda como inquilino. Olhando para trás, vejo que a vontade de resolver o problema não tinha a ver somente com o modelo mental ensinado na universidade, mas era parte de minha motivação intrínseca.

Pensamento:

Aprendi cedo que, quando o mundo não oferece uma solução para meus problemas, devo correr atrás e fazer minha parte para criá-la. Foi assim também no Quinto Andar, onde encontramos nossa própria solução para melhorar a oferta de seguro-fiança para nossos cientes.

Capítulo 4 – Camila Achutti

É fundadora da Mastertech e líder mundial na luta por mais mulheres na tecnologia. Por influência de seu pai, Camila Achutti se apaixonou por programação e se tornou uma das maiores lideranças mundiais do movimento por igualdade de gênero no mercado de tecnologia. Em 2013, fundou a Ponte 21, uma consultoria de inovação e tecnologia que tem como propósito facilitar a produção de software, ajudando as empresas a transformar ideias em produtos viáveis em pouco tempo. Sua paixão pela educação a levou, no ano seguinte, a fundar outro negócio, a Mastertech, treinando alunos nos conceitos de negócios, marketing, design e tecnologia.

A Mastertech formou 15 mil pessoas até o final de 2016. Tínhamos faturado um pouco mais de R$ 1 milhão com os cursos. Até que algumas empresas começaram a bater à nossa porta pedindo um treinamento in company. Inicialmente, não exploramos bem esse mercado. Mas, em 2017, voltamos ao tema com força total.

As tecnologias estão em transformação, e os profissionais precisam estar atualizados para se manterem relevantes. É preciso pensar em soluções para que grandes empresas não precisem demitir ninguém, mesmo tendo 5 mil pessoas trabalhando em algo que em três anos está automatizado.

Pensamento:

Se eu tivesse me intimidado porque não via mulheres nas quais me inspirar na tecnologia, não teria construído minha empresa. Aproveitei a oportunidade para me tornar referência e contribuir com o crescimento da presença feminina nesse mercado.

Capítulo 5 – Diego Siqueira

É CEO e sócio-fundador da Trinus Co., uma plataforma tecnológica que tem o propósito de desenvolver um mercado habitacional mais igualitário para todas as classes sociais no Brasil. O motor da empresa é a TG Core Asset, gestora independente de recursos com foco exclusivo no setor imobiliário.

A partir de 2014, começamos a atrair novos empreendimentos. Tive um retorno inesperado dos anos que passei trabalhando somente com a licença da consultoria: as famílias que foram minhas primeiras clientes se tornaram também as primeiras investidoras do fundo. Se havia alguma dúvida, agora não mais: nada fora tempo perdido.

Conforme a TG Core crescia, concluímos que, para desenvolver o mercado e dar mais oportunidades para o médio empreendedor imobiliário, precisaríamos ajudá-lo a cuidar de sua governança. Ele não dava conta de fazer tudo sozinho. A proposta da TG Core passou a não apenas aportar capital e existir como alternativa de financiamento, mas também ser o braço estratégico, financeiro e de governança das médias empresas do setor.

Pensamento:

Pensar só em dinheiro pode fechar a porta para oportunidades incríveis na jornada empreendedora. Trabalhar com paixão, sem ficar obcecado pelo retorno, resulta em uma entrega excelente. O ganho será uma consequência.

Capítulo 6 – Duda Falcão

Maria Eduarda Falcão, conhecida como Duda, é sócia-fundadora do Gera Capital, uma gestora de investimento focada em setores de impacto, e Co-CEO do Grupo Eleva Educação, holding de escolas de ensino básico e fruto do Gera. É Diretora-Executiva da Escola Eleva, escola própria do grupo com duas unidades no Rio de Janeiro. Foi consultora no McKinsey e no Banco Pactual.

Foi uma dessas sortes da vida que definiu meus passos seguintes. Era 2010, Cláudia Costin tinha um conselho do qual participavam várias pessoas para debater políticas de educação. Entre elas, Ana Vitória Lemann, a Toia, filha de Jorge Paulo Lemann. Quando nos conhecemos, ele percebeu meu interesse pelo tema e fez o convite: “Meu pai quer investir mais em educação e está procurando gente, você não quer bater um papo com ele?”.

Sob a inspiração de Lemann, criamos o projeto Gera, junto com minha amiga e sócia, Rafaela Villela. O primeiro ato do Gera foi de muito estudo e viagens pelo mundo para encontrarmos referências. Não tínhamos nada definido. Trabalhávamos das nossas casas na maior parte do tempo.

Com a criação do Eleva Educação, a Rafa e eu decidimos nos dividir. Sabíamos que o sucesso do Eleva seria fundamental para o do Gera. Então, ela continuou com a gestão do fundo, e eu saí para cuidar das escolas. Eu compartilharia o cargo de CEO com o Bruno Elias, então presidente do Pensi.

Pensamento:

No momento em que me apaixonei por educação, larguei uma carreira aparentemente promissora para seguir meu sonho. Para construir algo grande e que faça sentido para você, geralmente é preciso se arriscar e abandonar os lugares (aparentemente) mais seguros. Curta a caminhada, não só a chegada.

Capítulo 7 – Geraldo Thomaz

É fundador, com o sócio Mariano Gomide de Faria, da VTEX, plataforma de e-commerce brasileira com atuação em mais de trinta países. Nascido em Macaé, fez o ensino médio na capital fluminense e engenharia mecânica na UFRJ. Ele e Mariano fundaram um marketplace para a indústria têxtil em 2000. Em 2012, receberam investimentos da Naspers e, em 2019, anunciaram um aporte do Softbank junto com as gestoras brasileiras Gávea e Constellation.

Por meio do investimento que havíamos feito em pessoas e após muito trabalho em 2010, nos posicionamos como empresa focada em plataforma de e-commerce como serviço. Colocamos cerca de trinta clientes no ar. Foi naquele momento que conhecemos Alexandre Soncini e Rafael Forte, empreendedores e donos da WX7. Eles também vendiam sites de e-commerce, com uma lógica um pouco diferente da nossa. Nós apostávamos no modelo software como serviço, em nuvem.

Em 2011, já tínhamos mais de cem clientes, incluindo contas relevantes, como Walmart, Nokia e Polishop. No ano seguinte, recebemos investimento da Naspers. Usamos o novo capital aportado na VTEX para reescrever o código de nosso sistema, utilizando uma arquitetura de microsserviços. No fim de 2019, escolhemos novos sócios para abraçar o desafio da companhia conosco: Softbank, Gávea Investimentos e Constellation.

Pensamento:

Procure o parceiro certo. Mariano e eu nos aproximamos na faculdade porque tínhamos hobbies em comum e uma afinidade natural. Depois, como sócios, tivemos de aprender a lidar com nossas diferenças, mas continuamos com uma visão parecida sobre o negócio e sabíamos que colocaríamos toda nossa energia na VTEX. Era, e ainda é, o que importa.

Capítulo 8 – Fabricio Bloisi

É fundador e presidente do conselho do Grupo Mobile, dono de empresas como iFood e Play Kids. O espírito de Bloisi se revelou ainda na infância, quando criou um jornal que saía vendendo na Bahia, onde nasceu e foi criado. Começou a programar com oito anos e aos 14 já produzia softwares para o setor privado. Fundou uma empresa logo depois de se formar na Unicamp, mas fracassou. Fazendo um mestrado na FGV em São Paulo, entendeu as estratégias usadas por startups do Vale do Silício. A partir daí, moldaria a companhia que se tornaria a Mobile.

O Play Kids nasceu em janeiro de 2013 e se tornou um dos aplicativos para crianças de maior sucesso no mudo. Quando a quantidade de downloads do PlayKids começou a chamar atenção, decidimos investir mais no time e no produto.

Em 2012, o iFood lançou o aplicativo para celular. Os pedidos feitos por celular ainda eram apenas 5% naquele ano, mas o cenário mudaria rapidamente. A Mobile fez investimentos de R$ 5,5 milhões na empresa em 2013, acreditando que ela poderia se tornar líder nas transações feitas pelo celular. Era uma decisão de risco, assim como tantas outras que fizemos. A diferença é que, no caso do iFood, o retorno veio. Saímos de 20 mil para 800 mil pedidos por mês em dois anos.

Pensamento:

Acredito que pessoas são a base de qualquer empresa de sucesso. São elas que vão fazer o negócio crescer, construir os produtos e pensar nas inovações. É importante atrair e reter as melhores pessoas, valorizar o trabalho em equipe e as relações transparentes.

Capítulo 9 – Henrique Dubugras

É fundador, ao lado do sócio, Pedro Franceschi, da Brex, empresa que oferece cartões corporativos para startups, e o mais jovem do mundo a criar um unicórnio. A startup nasceu em janeiro de 2017 e oferece cartões de crédito corporativos para empreendedores que enfrentam obstáculos nos grandes bancos por não terem histórico financeiro. Na Brex, o processo para se tornar cliente é todo online e em dez minutos a pessoa já pode usar seu cartão. Henrique e Pedro desenvolveram outros produtos, como um programa de fidelidade customizado para startups, com parte dos benefícios em software, restaurantes, viagens.

Desistimos de investir em Realidade Virtual, mas decidimos empreender. Foi quando nos demos conta de que havia outro problema para as startups – e para este sim, com nossa experiência da pagar.me –, éramos as pessoas certas para resolver. A maioria das pequenas empresas enfrenta problemas para conseguir um cartão de crédito corporativo em grandes bancos por não terem histórico financeiro. É uma contradição o fato de tantos empresários bem-sucedidos, que estão arrecadando milhões de dólares, não conseguirem ter um cartão de crédito corporativo. Então, criaríamos uma companhia de crédito que, em vez de ser para uma pessoa, seria para uma empresa.

Nossa motivação maior com a Brex é acreditar no bem social através de empresas. Ajudamos as empresas, facilitando o acesso ao crédito, a uma conta. Isso faz com que elas possam servir melhor seus clientes. E quem ganha é a sociedade.

Pensamento:

Temos diversos mentores para quem ligamos quando precisamos de ajuda para lidar com uma situação ou evitar um problema. Eu sempre soube pedir ajuda e isso fez com que eu aprendesse com a experiência dos outros somada à minha.

Capitulo 10 – Paulo Veras

Foi cofundador do primeiro unicórnio do Brasil. A 99 (originalmente 99 Táxis) atingiu o valor de mercado de US$ 1 bilhão em 2 de janeiro de 2018, quando a Didi Chuxing, considerada a “Uber da China”, assumiu o controle da brasileira, pouco mais de cinco anos depois de sua criação, em 2012. Mas essa não foi a estreia do engenheiro como empreendedor. Desde 1995, época do início da internet comercial no Brasil, Paulo colocou de pé seis empresas. É membro do conselho da Cargo X, Localiza Hertz, B2W Digital e Estapar Estacionamentos.

Depois do intensivão das três empresas (Pixit, Guidu e Imperdível), eu estava desmotivado para empreender de novo. Foi quando, em 2012, Renato Freitas e Ariel Lambrecht (ambos haviam sido colegas na Poli-USP, dez anos depois da minha passagem por lá) me apresentaram o projeto da 99 e me convidaram para a sociedade. Eles me viam como um complemento importante. Conheciam tecnologia e produtos digitais, mas não tinham experiência em gestão, venture capital e uma série de outros elementos necessários para fazer a startup dar certo.

Segui acompanhando o projeto de perto, ajudando com a possibilidade de entrar mais para a frente. Até que decidi mergulhar de cabeça com eles. Criamos uma estratégia superlegal e diferenciada, focando mais no motorista, no começo. A ideia era transformar o próprio motorista em promotor da 99 e converter mais passageiros, enquanto os concorrentes investiam muito em divulgar a marca. Isso acabou fazendo a diferença para a 99 efetivamente ganhar o jogo no Brasil.

Pensamento:

Para criar uma empresa e fazê-la crescer, é preciso bem mais do que uma boa ideia. Pode ser mais rico e certeiro buscar experiência em empresas que o capacitem antes de apostar no próprio projeto. Aprenda a tomar risco aos poucos e ir ganhando confiança.

Capítulo 11 – Thiago Piau

É sócio e CEO da StoneCo, empresa avaliada em mais de US$ 22 bilhões e fundada há seis anos por Andre Street e Eduardo Pontes, que também fundaram a Arpex Capital, da qual Thiago também é sócio. Antes de se juntar ao grupo, ele criou um pequeno negócio que administrava vouchers corporativos para taxistas. Diante de barreiras para o crescimento no setor, vendeu a empresa em 2013 e passou a conduzir investimentos em outros empreendimentos da Arpex.

A Stone tinha mais ou menos 0,5 do mercado em fevereiro de 2016. Comprar a competidora Elavon significava multiplicar essa participação, já que a concorrente tinha 2% do setor. Entramos na sala de reunião e o advisor disse que a Elavon havia tido R$ 600 milhões de prejuízo acumulado e continuava com R$ 25 milhões negativos por mês. Poderíamos comprar a companhia por um real, mas levaríamos junto esse histórico de problemas. Tínhamos que decidir em um fim de semana se aceitaríamos a oferta.

O próximo passo da Stone é ajudar o empreendedor brasileiro em todos os serviços financeiros que ele precisa com tecnologia para que possa gerir melhor o negócio dele e crescer. Somos apaixonados por nossos clientes, esse é um DNA muito forte da nossa organização: a paixão por servir e fazer clientes felizes. De novo, começamos a construir 100% da tecnologia necessária dentro de casa: serviços de bancos tradicionais (TED, DOC, emissão de boleto, pagamento de tributo, folha de pagamento, entre outros), crédito… temos mais de 200 milhões de carteiras de crédito e mais de 60 mil clientes com nossas contas.

Pensamento:

Uma empresa de longo prazo gera valor para seu cliente na forma de serviços que oferece. Gera valor para o time em forma de aprendizado e evolução pessoal e financeira. Gera retorno excepcional para os investidores. Tudo isso precisa ser devolvido em forma de transformação social.

Capítulo 12 – Victor Lazarte

É fundador da Wildlife Studios, maior empresa de games da América Latina. Em dezembro de 2019, a Wildlife atingiu o status de unicórnio, ao ser avaliada em US$ 1,3 bilhão. Apesar de tê-la fundado há nove anos, Victor Lazarte só havia concedido uma única entrevista na vida, para o portal da USP – universidade onde se formou engenheiro de produção, em 2009.

Em 2010, o telefone celular era exatamente esse mercado potencial que buscávamos. Um segmento pequeno que os especialistas sabiam que em um futuro próximo seria grande. O smartphone mudaria a forma como as pessoas se comportavam. Mas pouca gente estava prestando atenção nisso.

Entre os milhares de aspectos que o telefone mudaria na vida das pessoas, acreditávamos que a maneira como elas jogavam videogames seria um deles. Na época, poucos jogavam pelo celular, mas todo mundo jogaria um dia – era no que acreditávamos. Era um tema de que gostávamos. Parecia o cenário ideal. Decidimos apostar nisso.

A empresa foi avaliada em US$ 1,3 bilhão na rodada liderada pelo fundo Benchmark Capital e com outros cinco investidores: Javier Olian, executivo do Facebook; Ric Elias, co-founder e CEO da Red Ventures; Micky Malka, sócio da Ribbit Capital; Divesh Makan, sócio do ICONIQ Capital, nosso amigo e mentor de longa data. Crescemos em média 80% ao ano.

Pensamento:

Na contramão do que ouvimos de diversas pessoas, que defendiam a entrada em um setor já consolidado, buscamos um novo mercado – e, para mim, foi a decisão certa. Identificar uma tendência que pode mudar o comportamento das pessoas é um caminho para ser grande no longo prazo.

 

Ficha Técnica Fora da Curva 3

Ficha técnica:

Título: Fora da Curva 3 – Unicórnios e outras startups de sucesso

Organizadores: Florian Bartunek, Pierre Moreau e Ariane Abdallah

Primeira edição: Portfolio Pinguin

Resumo: Rogério H. Jönck

Edição: Monica Miglio Pedrosa

  • Aumentar texto Aumentar
  • Diminuir texto Diminuir
  • Compartilhar Compartilhar