Futuro em debate: blockchain, alimentação saudável e economia prateada

Monica Miglio Pedrosa
Rodrigo Barros cresceu ouvindo do avô uma frase que dizia que “o bar só dava para uma família”. Português, ele chegou ao Brasil com 11 anos e, depois de trabalhar na roça, dedicou-se a um emprego em um bar até que comprou o estabelecimento sem nenhum dinheiro inicial, apenas amortizando o valor do negócio com seu trabalho. Quando o pai de Rodrigo seguiu o mesmo caminho, trabalhando com o avô no bar, e aos 17 anos pediu para ganhar um salário, ouviu a frase que o marcou e que dizia nas entrelinhas que cada um tem que construir seu próprio caminho.
O pai seguiu essa cartilha e foi trabalhar como vendedor, depois se formou em Direito e tornou-se dono de uma imobiliária. Rodrigo também buscou sua própria trajetória, começando por uma carreira no mundo dos esportes. Jogou futebol dos 11 aos 22 anos, chegando a atuar profissionalmente na segunda divisão do campeonato português, até que uma lesão encerrou essa etapa de sua vida. Dois dias após voltar ao Brasil, recebeu um convite para trabalhar em uma academia.
Logo ele percebeu que existia uma oportunidade de receita acessória no negócio. Conseguiu um patrocínio de uma concessionária Ford em um torneio e vendeu três Eco Sports em apenas um fim de semana. O sucesso levou ao fechamento de um contrato mensal de R$ 600 mil, um resultado que ele atingiu após três meses na empreitada.
Depois dessa experiência bem-sucedida, Rodrigo recusou a proposta de ter 20% da academia e começou a investir em diferentes frentes, sempre com a visão de unir sinergias e extrair mais rentabilidade dos negócios. Após estudar design thinking em Stanford, no Vale do Silício, deixou de ser obcecado apenas por negócios para se tornar obcecado por construir produtos.
Foi nesse momento que a alimentação saudável entrou em cena. Primeiro como advisor da Salad Creations, rede americana com 19 restaurantes na época, até comprar a companhia em 2015 e criar a Boali. Hoje a rede conta com 170 lojas no modelo de franquia no Brasil. Após a aquisição mais recente, da Mana Poke, atende mais de 400 mil clientes por mês e impacta diretamente cerca de 2 mil famílias. Rodrigo descobriu que podia construir um negócio que dava certo para “muito mais que uma família” e agora avança para a conquista do mercado internacional, com presença em Lisboa, Miami e, em 2026, Barcelona.
Das linhas de código ao blockchain
Filho de um pai fuzileiro naval e de uma mãe artesã, Márlyson Silva aprendeu desde cedo o valor da disciplina e da criatividade. Desde jovem, sempre quis aprender coisas novas, incentivado pela mãe que o estimulava a usar a educação como ponte. Começou a estudar programação, fazendo cursos de Lotus 1-2-3, DBase 3 Plus e, depois, Delphi e Java. Ficou fascinado pelas linhas de programação e descobriu que sua zona de conforto era estar em um local com ar-condicionado, café quente e um computador.
A paixão pela tecnologia o levou a trabalhar na Sirius, onde passou dez anos e chegou ao cargo máximo abaixo do fundador. Depois, passou por empresas como a BRQ, onde assumiu a gestão de equipes técnicas, e pela maxiPago, empresa que tropicalizou um software americano de finanças para o mercado brasileiro e que foi mais tarde vendida.
Foi nesse período que Márlyson entendeu como o dinheiro fluía pelo sistema financeiro global e percebeu a oportunidade de inovar além do código, conectando tecnologia e finanças. Essa visão o levou a fundar a Bit.One, em 2015, uma empresa de gateway de pagamentos com criptomoedas que, no ano seguinte, virou laboratório de blockchain do Bradesco. Como ainda não havia regulamentação no Brasil, Márlyson migrou para a Suíça, onde a Bit.One se transformou na Transfero.
A Transfero, empresa de soluções financeiras baseadas em blockchain, fornece infraestrutura para companhias que desejam oferecer serviços bancários, de pagamentos e de criptomoedas para clientes na América Latina. A companhia também desenvolveu o BRZ, ativo que facilita o envio de recursos entre Brasil, Ásia e Europa.
A Transfero Academy nasceu da proposta de Márlyson de capacitar jovens de comunidades periféricas e abrir possibilidades no mercado de trabalho. O curso, de seis meses, é extremamente intenso, e exige dedicação dos alunos. Para ele, é fundamental cobrar disciplina das novas gerações, que muitas vezes “estão acostumadas a receber tudo de forma fácil.”
Em sua reflexão final, Márlyson destacou que é preciso tomar cuidado para que a carreira profissional não deixe de lado a vida pessoal. “Às vezes a gente foca tanto no trabalho que esquece de ser humano, de compartilhar os grandes momentos em família”, concluiu.
Economia prateada e longevidade
Em 2030, o Brasil terá a sexta maior quantidade de pessoas maduras em todo o mundo. Nos últimos 12 anos, o número de pessoas com 65 anos ou mais cresceu 57,4% e 63% das pessoas com 60 anos ou mais são provedoras da família. Esses são alguns dados que comprovam a mudança geracional em curso no país e que impulsionam a chamada economia prateada.
Na última palestra do Fórum CEO Brasil, Andrea Bisker, CEO da Spark:Off, destacou que as pessoas 60+ representam um mercado que movimenta pelo menos R$ 2 trilhões por ano e que, em 2044, deve responder por 35% do consumo total, chegando a R$ 3,8 trilhões. Mesmo assim, há um claro descompasso entre esses números e a comunicação das marcas, já que 63% dos negócios ainda têm os Millenials como público-alvo.
Para Bisker a longevidade deve ser tratada como oportunidade. Ela lembrou que o avanço da economia prateada abre espaço para soluções em diferentes frentes, desde condomínios de longevidade e serviços de moradia sênior como a NAARA Longevity Residences e o Vitacon Senior Living, em São Paulo, até tecnologias de mobilidade assistida como exoesqueletos para aumentar a qualidade de vida dos maduros.
No campo da saúde e do bem-estar surgem aplicativos para gestão dos medicamentos, como o da Karie, ou até mesmo um ar-condicionado da LG voltado para mulheres em menopausa que, por meio de um sensor com IA, detecta fogachos e ajusta automaticamente a temperatura do ambiente.
Para que as empresas desenvolvam produtos e serviços para o público 60+, é fundamental que tenham em seu quadro de colaboradores profissionais maduros, capazes de antecipar e compreender as necessidades desse segmento. Segundo Bisker, em 15 anos, seis em cada 10 colaboradores terão mais de 45 anos.
Na visão de Andrea, envelhecer não significa perder relevância, mas atravessar novos ciclos. “A velhice começa quando se perde a curiosidade”, afirmou, lembrando que paixão, liderança, criatividade, coragem e inteligência não têm prazo de validade. Estudos comprovam que um bom envelhecimento depende de quatro pilares: alimentação equilibrada, prática de esportes, boas conexões sociais e qualidade do sono. Hoje se sabe que o envelhecimento é definido em 20% pela genética, 30% pelo ambiente e 50% pelo livre arbítrio. “Cuide hoje da sua versão de amanhã!”, concluiu.

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