ProntoChef explora nova demanda do modelo de trabalho híbrido
Foodtech usa de modo inédito tecnologia de embalagem para conservar refeições prontas por até 15 dias e entregá-las diariamente nas empresas, na quantidade certa
A retomada gradual do trabalho presencial trouxe uma dificuldade extra para as empresas. Como controlar custos e evitar o desperdício de comida, inerente aos buffets corporativos tradicionais, em um momento em que determinar o número de refeições servidas diariamente ficou bem mais difícil, por causa do modelo híbrido?
Para resolver a questão, além do tradicional vale refeição, algumas grandes empresas, como Ambev, XP Investimentos e Duratex, vêm trabalhando com um novo modelo. Criado pela startup ProntoChef, ele é baseado em refeições prontas, embaladas para durar até 15 dias, mesmo sem conservantes, com uma tecnologia ainda incomum em serviços de catering no Brasil, a de atmosfera modificada.
A tecnologia de atmosfera modificada retira todo o oxigênio da embalagem das refeições e injeta uma mistura de gases que mantém a comida fresca, diz a chef Karina Spiers, COO da ProntoChef. “O feedback que temos dos colaboradores das empresas é de que o gostinho de comida caseira se mantém, mesmo produzindo refeições em escala”, diz.
Com o prazos de validade mais elásticos, a empresa monta um menu com três opções diárias em seu site, para que os funcionários das empresas escolham o que querem, e entrega exatamente o que vai ser consumido.
A entrada no mercado corporativo deu impulso extra à Pronto Chef, fundada por Karina e o marido, Mark Spiers, em 2015, para vender Kits para cozinhar em casa e, depois, comida pronta entregue em casa. “Em 2021, pivotamos nosso modelo de negócios para o mercado B2B, que hoje responde por 75% da nossa receita”, diz Mark Spiers, CEO da empresa.
A empresa produz atualmente 3 mil refeições por dia e distribui seu produto em mais de 300 pontos de São Paulo, no modelo “pegue e leve” (Grab and Go), que também é encontrado em micromercados.
Com as mudanças, a startup recebeu os primeiros aportes de executivos de grandes empresas de alimentos, como pessoas físicas, e se prepara para a primeira rodada Series A, no início de 2022.
Na entrevista a seguir, o casal fala sobre a trajetória e os planos da startup.
1 – Como tudo começou:
“Eu sempre fui super apaixonada por comida, abri meu primeiro restaurante quando tinha 22 anos. Acabei decidindo ir para o mundo corporativo, fiz um MBA na Kellogg e trabalhei na McKinsey como consultora, especializada na indústria de bebidas e alimentos”.
“Mas minha paixão era mesmo a gastronomia. Então, fui estudar na Le Cordon Bleu e fundei a ProntoChef em 2015, inicialmente com investimentos próprios do Mark, meu atual marido.” [Karina Hirai Spiers]
2 – De kits para cozinhar à comida fresca
“No início, trabalhávamos com kits para cozinhar em casa, inspirada pela Blue Apron, dos Estados Unidos. Logo percebemos que o brasileiro ainda não tem uma cultura de cozinhar em casa como hobby. E aí passamos a oferecer comida pronta. Criamos um modelo de negócio por assinatura, em que haviam novas receitas todas as semanas. Até que trouxemos a tecnologia de embalagem a vácuo, que se chama atmosfera modificada. É um maquinário importado da Itália que retira todo o oxigênio da embalagem e injeta uma mistura de gases que mantém a comida fresca sem nenhum tipo de conservantes por até 15 dias. Somos os únicos a usar essa tecnologia com alimentação fresca no Brasil.” [Karina Hirai Spiers]
3 – Do B2B ao B2C
“No final de 2020, 90% de nosso faturamento vinha do modelo B2C, por meio do delivery ao consumidor final. Hoje, mais de 75% do nosso faturamento é B2B. Durante a pandemia, grandes players entraram fortemente no serviço de conveniência para B2C, então decidimos pivotar para atender no modelo Grab and Go, seja em minimercados de conveniência, condomínios residenciais ou para consumo nos escritórios de empresas.” [Mark Spiers]
4 – Zero desperdício
“Ao fornecermos para empresas, os funcionários acessam o nosso site com um login individual e escolhem a refeição que vão comer a cada dia. São sempre três opções diárias, uma delas vegetariana. Assim entregamos exatamente o que vai ser consumido, reduzindo o desperdício a zero. Porque restaurantes com cozinha no local e buffet desperdiçam muita comida. Também não precisamos de uma grande estrutura nas organizações, apenas de uma área de três metros quadrados, uma geladeira e uma estufa para aquecer refeições em grande quantidade. Em outros clientes, somente geladeira e micro-ondas são necessários.” [Karina Spiers]
5 – Redução de custos
“Para as empresas, o custo por refeição é de R$ 16. Considerando que o valor médio do vale refeição dos funcionários de uma empresa em São Paulo é de R$ 26, a empresa que opta por esta troca reduz custos e aumenta a qualidade da comida que serve para os funcionários. Um de nossos clientes, uma grande empresa de facilities e segurança, tinha um desafio, pois seus funcionários ficavam alocados em shoppings, hospitais e acabavam consumindo muito fast food. Com a troca para a nossa solução, eles aumentaram a qualidade nutricional das refeições dos colaboradores. De posse desses dados de consumo, a empresa está inclusive pleiteando redução nos custos de seguro de vida e de assistência médica, devido aos novos bons hábitos de seus colaboradores.” [Mark Spiers]
6 – Preparando a Series A
“Inicialmente o investimento foi nosso, depois começamos a receber dinheiro de investidores-anjo que apoiaram o negócio, todos executivos de grandes empresas de alimentos que entraram como pessoa física. Eles têm especialidades diversas, como conhecimento em logística e rede de contatos em conselhos de grandes redes. Contribuem de forma estratégica no negócio. Estamos crescendo 15% ao mês e a nossa previsão é que a fábrica atual alcançará sua capacidade máxima até o fim do ano. No primeiro trimestre de 2022, vamos fazer uma captação Series A para construir uma fábrica ainda maior para atender o aumento da demanda.” [Mark Spiers]
7 – Novos modelos
“Estamos estudando com nosso parceiro RG Nutri a oferta de refeições para restaurantes. A comida chegaria na nossa embalagem com a atmosfera, seria esquentada no local – por um garçom ou pelo próprio cliente, o modelo ainda está sendo desenhado – e servida em um prato diferenciado. É algo bem inovador para restaurantes, estamos animados com as possibilidades da nossa tecnologia.” [Karina Spiers]
Texto: Monica Miglio Pedrosa
Foto: divulgação
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