A nova liderança é inclusiva, responsável e humana
Por Françoise Terzian e Monica Miglio Pedrosa
O segundo dia do Fórum CEO Brasil 2023, evento realizado pelo Experience Club no Guarujá entre os dias 21 e 24 de setembro, trouxe muitas reflexões e provocações à plateia de 250 CEOs e seus acompanhantes sobre a nova liderança nas empresas. Líderes de grandes empresas, como Gerdau, Ambev e TikTok, subiram ao palco para mostrar como estão colocando em prática estratégias de inovação e responsabilidade corporativa e impulsionando suas marcas para ajudar a construir um novo mundo mais inclusivo. Olga Loffredi, CEO do Vanto Group, defendeu que falar sobre a nova liderança é urgente. Para encerrar a manhã, Silvio Meira, cientista chefe da TDS e um dos fundadores do Porto Digital, falou sobre inovação e inteligência artificial.
Gustavo Werneck, CEO e membro do Conselho de Administração da Gerdau, abriu a sessão falando que, no mundo de hoje, é muito fácil levantar capital, porque existe uma boa liquidez no mercado mundial. O diferencial, diz, é a cultura. “O mundo está copiável e, no meu ponto de vista, o grande fator não copiável nas organizações talvez seja a questão de cultura e liderança”, afirmou.
Segundo o executivo, a siderúrgica de 122 anos vive a melhor fase de sua história. Claramente preocupado com o S (Social), do ESG, Werneck diz que é preciso liberar esse imenso potencial criativo que existe dentro das corporações. “Tenho convicção de que vamos levar as empresas para outro patamar.”
Há 20 anos na Gerdau, Werneck conta que gostaria de ter conhecido Peter Drucker, o pai de administração, que dizia que não podemos prever o futuro, mas criá-lo. E para criar esse futuro, há três meses ele viajou para o Butão, o país conhecido como o mais feliz do mundo e criador do FIB (Felicidade Interna Bruta). Nessa semana, ele trouxe para o Brasil o Tshering Tobgay, ex-primeiro-ministro do Butão, para falar sobre o assunto.
Urgência na nova liderança
Para realizar essas grandes mudanças nas empresas, há um sentido de urgência em se falar sobre a nova liderança, segundo Olga Loffredi, CEO do Vanto Group, porque é urgente fazer o mundo funcionar. “Como líderes, o mundo que pode ser mudado é o da empresa”, acredita.
Para a consultora, o líder é uma pessoa comum e corrente, com um compromisso extraordinário com algo não previsível. Quando a organização é alinhada com práticas de alto desempenho, com novas formas de futuro, vira uma organização exponencial.
Esse compromisso com algo extraordinário tem movido Daniela Cachich, presidente da Unidade de Negócios Future Beverages e Beyond Beer na Ambev, nos últimos anos. A executiva provocou a plateia a criar impacto com a força do marketing das marcas. “Como gestores de marcas, temos muito dinheiro para investir e falamos com milhares de pessoas. Podemos perpetuar o clichê, o preconceito da sociedade, ou fazer diferente.”
A executiva compartilhou de que forma contestou o status quo nas várias empresas pelas quais passou, a começar pela Unilever e a campanha “Retratos da Real Beleza”, da Dove. “A indústria da beleza é extremamente opressora com as mulheres. Crescemos num mundo que nos faz buscar uma beleza que não existe”. Depois, na Heineken, tirou as “mulheres objetificadas” das campanhas de cerveja da marca. Na PepsiCo, vinculou a marca Doritos ao público LGBTQIA+ e à diversidade.
Para Daniela, estar na alta liderança significa representar todos, não somente os seus. “No Brasil, 56% das pessoas são negras, 52% são mulheres e chamamos esses grupos de minoria”, contesta. Segundo a executiva, não fazer produtos para esses grupos é excluir mais da metade da população. Presidente da Unidade de Negócios Future Beverages e Beyond Beer na Ambev, ela lida 100% com inovação de produto e tendências. Para isso, traz pessoas diversas para compor sua equipe. “É muito mais fácil ser líder de pessoas iguais a nós. Ser líder de pessoas diferentes nos tira da zona de conforto. Mas sair da zona de conforto é crescimento”, afirmou.
Marcas viralizam no TikTok
Gabriela Comazzetto, General Manager de Global Business Solutions Latam e Brasil do TikTok, falou em sua palestra que o mundo vive uma fase de grandes transformações, saindo de uma cultura extremamente top down (com as decisões concentradas nas mãos de poucos), para uma cultura extremamente democratizada, em que todo mundo tem voz.
Segundo ela, na publicidade há uma migração para o modelo imersivo e colaborativo. “E a gente vê o TikTok no centro dessa transformação. A comunidade inteira tem voz e cresce por meio das afinidades e paixões”, explicou.
O TikTok, diz ela, não é uma rede social, mas uma plataforma de entretenimento que já contabiliza 1 bilhão de usuários no mundo. Um destino para se divertir, educar e aprender. E, para as marcas, um ambiente para se mostrar e, quem sabe até viralizar, como aconteceu com marcas como Skala, Carmed Fini, SmartFit e Burger King. Uma campanha na plataforma levou o faturamento mensal do Carmed Fini, hidratante labial da Cimed, saltar de R$ 1 milhão para R$ 23 milhões.
Gabriela conta que o TikTok tem se firmado como um novo espaço de busca sobre produtos, serviços e marcas. “Atualmente, 84% dos usuários utilizam a busca e 52% descobrem novos produtos no TikTok através de anúncios.” Por trás do TikTok, explica, há a combinação de quatro elementos importantes: autenticidade, autoexpressão, pertencimento e cocriação.
Silvio Meira, cientista-chefe da TDS, encerrou o ciclo de palestras da manhã falando sobre o impacto da inteligência artificial nas nossas vidas. Antigamente, disse ele, o problema do marketing industrial era ir ao mercado atrás de clientes. “A ruptura de hoje é criar ecossistemas de comunidades e na sua comunidade alvo descobrir produtos para clientes que você já tem em potencial.”
Essa transformação digital não tem volta, afirma. O mundo, diz Meira, está sendo transformado pelos algoritmos. E os CTOs e CIOs são as pessoas que entendem dos códigos das empresas. Se antes quem tomava a decisão era um pequeno grupo de pessoas, hoje o ecossistema todo toma decisões.
Pesquisa global com CIOs aponta que 67% deles vão adotar a IA Generativa, tecnologia usada pelo ChatGPT, em 18 meses. O curioso, revela Meira, é que tomaram essa decisão sem saber os riscos e as oportunidades. “Os executivos de TI não sabem o que fazer com ele. Precisamos de estratégia. Estratégia é o processo de transformação de aspirações em capacidades.”
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