Admirável Mundo Novo (hoje)

Uma das obras-primas da ficção científica do século 20 está completando 90 anos mais rica em simbologias do que nunca

“Admirável Mundo Novo” (Brave New World), publicado em 1932 pelo inglês Aldous Huxley, traz uma visão de futuro um tanto sombria, mas calcada no poder da tecnologia para solução dos problemas da humanidade.

Eu parei para reler, porque estava curioso em saber como um livro tão emblemático teria envelhecido nesse momento de transformações tão rápidas.

Distopias à parte, o livro traz insights interessantes sobre o papel da tecnologia – sobretudo a engenharia genética – na nossa evolução. Vou listar aqui algumas reflexões que se conectam com muita coisa que está acontecendo agora no universo da inovação e das startups. 

Ford ou Facebook?

O autor não tinha como antever o prenúncio da economia digital. A história se passa na Londres de 2540, ou o ano 632 DF – “Depois de Ford”. Um mundo baseado nas maravilhas do maquinismo, da produção em série e dos avanços científicos, usados para controle social e prosperidade material. 

Na utopia fordiana, as pessoas podem viajar facilmente de Londres para Amsterdã para ir a um evento esportivo usando um “taxicóptero”.

Se você está pensando no Uber usando o carro voador que a Embraer pretende colocar no mercado até 2025, acertou.

Se Huxley tivesse imaginado que aplicativos e redes sociais seriam usados para monitorar todos os nossos movimentos e até atividades políticas, não seria mais adequado pensar em um mundo DF – “Depois do Facebook?

CRISPR e o Processo Bokanovsky

A entrega do Prêmio Nobel de Química de 2020 para a francesa Emmanuelle Charpentier e a americana Jennifer A. Doudna pelos avanços na técnica de edição de códigos genéticos mostra de que forma a biotecnologia lidera uma das das fronteiras mais disruptivas da ciência no futuro próximo. 

O potencial do CRISPR está provocando uma corrida das startups mais promissoras na criação de soluções e negócios na indústria farmacêutica.  

O livro capta essa tendência pelo dilema ético: a fabricação de seres humanos. O fictício “Processo Bokanovsky” consiste na produção em escala de indivíduos clonados e divididos em castas com propósitos específicos. Cada um cumpre seu papel como trabalhadores na sociedade do futuro, sem inveja dos mais fortes ou inteligentes.

Tudo gira em torno da estabilidade social, apoiada em uma sociedade do consumo. O sexo é livre e estimulado, como um mecanismo de controle e de descompressão. 

Huxley também imaginou um mundo em que as pessoas são “fabricadas” para trabalhar. Muito diferente da visão que o autor dos cultuados best-sellers “Sapiens” e “Homo Deus”, Yuval Noah Harari, traz sobre a formação de uma classe de “inúteis”, em um mundo onde a maior parte das tarefas é realizada por robôs e inteligência artificial.    

Juventude eterna

Seria possível mesmo manter a estabilidade absoluta em uma sociedade perfeita? Por mais geneticamente modificado que seja, o ser humano é inquieto por natureza. Esse inconformismo é que nos torna criativos e inovadores. 

No Admirável Mundo Novo, os mecanismos de satisfação não diferem muito do que usamos hoje. A começar pelo uso de drogas. Soma é o comprimido de uso diário que mantém toda a sociedade em um torpor agradável. 

Se considerarmos a nova fronteira de pesquisas de medicamentos baseados em microdoses de LSD e canabinóides, a indústria farmacêutica tem uma longa trilha de produtos de controle de humor para desenvolver daqui para frente.

Somente a indústria de medicamentos derivados de CBD pode movimentar R$ 26 bi no Brasil até 2025 e agita o mundo das startups. 

O livro também acerta quando prevê o uso de diversas técnicas de rejuvenescimento, uma aposta que o próprio Jeff Bezos leva adiante com investimentos na startup Altos Lab. Ray Kurzweil, fundador da Singularity University e autor da teoria da singularidade, defende que os humanos poderão alcançar a imortalidade em 2045.   

O que eu aprendi relendo Admirável Mundo Novo?

 1- Que não seremos capazes de deter o progresso tecnológico. O desafio é tirar o melhor proveito da inovação.

2- Que somos responsáveis pelo futuro. Ética e solidariedade nunca foram tão importantes.

3- Que ser pós-digital é nossa grande chance de sobreviver aos riscos trazidos pelo pós-industrial. A emergência climática é o gatilho para acelerarmos soluções que nos ajudem a salvar o planeta.

Se você gosta de livros e está interessado em entender os negócios do presente com a cabeça do futuro como eu, fica aqui o meu convite para mergulhar no conhecimento com a [EXP]:

Assista: 

10 visões do futuro com o cineasta e visionário Jason Silva.

Palestra “O que esperar do amanhã” com o futurista suíço Gerd Leonhard.

Leia:

Resumo dos livros Sapiens e Homo Deus, de Yuval Noah Harari. 

Explore:

Saiba como as startups Dr. Cannabis e GreenCare estão debravando o mercado brasileiro de medicamentos à base de canabidiol. 

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