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“Ao se colocar em uma situação diária de desconforto, você se prepara para o desconforto circunstancial”

Rodrigo Barros, CEO da Boali

Monica Miglio Pedrosa

Uma frase dita pelo avô marcou a memória de Rodrigo Barros, CEO da Boali, e o inspirou a construir uma trajetória profissional diferente: “O bar só dá para (sustentar) uma família”. Português, ele chegou ao Brasil com 11 anos, trabalhou na roça e, depois, em um bar, até ter a oportunidade de comprá-lo sem nenhum dinheiro inicial, apenas amortizando o valor do negócio com seu trabalho. Quando o pai de Rodrigo começou a seguir o mesmo caminho, trabalhando no bar desde cedo, e pediu um salário ao avô aos 17 anos, ouviu a frase que o marcou e que trazia, nas entrelinhas, a mensagem de que cada um tem que construir o próprio caminho.

Rodrigo transformou essa frase em impulso para criar uma nova realidade. Chegou a atuar como jogador de futebol profissional na segunda divisão de Portugal, mas uma lesão o fez desistir da carreira. De volta ao Brasil, recebeu o convite de um empresário para trabalhar em sua academia, depois de encontrá-lo em um torneio de tênis. Ali percebeu que havia uma oportunidade de receita adicional, já que o público frequentador era formado por executivos e pessoas de alta renda.

Rodrigo Barros, CEO da Boali, no palco do Fórum CEO Brasil 2025
Rodrigo Barros, CEO da Boali, no palco do Fórum CEO Brasil 2025

A primeira conquista veio com uma concessionária da Ford, que decidiu patrocinar um torneio de tênis. Em apenas um final de semana, três veículos EcoSport foram vendidos. O sucesso da ação levou a um contrato publicitário de R$ 60 mil mensais, conseguido após apenas dois meses à frente do negócio. “O melhor é que eu só estava adicionando linha de receita, porque o custo operacional não aumentou”, disse.

Na sequência, Rodrigo recebeu a proposta de ficar com 20% da academia, mas já estava de olho em horizontes maiores. Decidiu apostar na carteira imobiliária do pai, conectando a demanda por imóveis à rede de contatos de empresários que havia formado. À frente do novo negócio, também enxergou oportunidades de otimização do backoffice, aumentando a eficiência operacional.

Ao mergulhar ainda mais no setor, Rodrigo percebeu que poderia expandir a atuação para imóveis de alto valor, já que a comissão é proporcional ao preço de venda. Decidiu, então, bater à porta das grandes construtoras e começou pela Rossi. “Consegui chegar até o Guilherme Rossi, filho do dono, que é meu amigo até hoje e falei: vim te vender uma cidade”. Ele se referia ao fato de Guarulhos ser uma oportunidade para a construtora, já que, diferentemente de São Paulo, a cidade não tinha um coeficiente de construção, indicador que determina a quantidade máxima de área construída permitida em um terreno. Não demorou muito e fechou a primeira venda, um terreno de R$ 8 milhões.

“Apesar de nunca ter visto tanto dinheiro na minha vida, relativo à comissão, não queria ser corretor de imóveis a vida inteira e decidi me tornar apresentador de televisão. Eu assistia ao programa semanal de João Doria, entrevistando dois grandes empresários na Rede TV, e ali ouvi a frase ‘diga-me com quem andas que eu te direi para onde vai’. Decidi que queria andar com ele”, relembrou. Aos 25 anos, conseguiu se aproximar de Doria e, mesmo sem saber exatamente qual seria o seu futuro, tinha a certeza de que estar cercado de grandes empresários abriria os caminhos para o sucesso.

Guinada profissional no Vale do Silício

Após uma fase em que admite ter se deslumbrado com o dinheiro — chegou a ter um helicóptero aos 28 anos —, aceitou a provocação da esposa para morar no exterior. A escolha foi o Vale do Silício, na Califórnia (EUA), onde fez um curso de Design Thinking na Universidade de Stanford. “A partir daquele momento eu deixo de ser empresário de negócios para ser um empresário de produto.”

Logo surgiu a oportunidade de atuar como advisor de um negócio de alimentação saudável, a Salad Creations. Em 2007, os atuais sócios de Rodrigo haviam trazido a empresa para o Brasil e ele comprou uma pequena participação na companhia. “Para os donos nos Estados Unidos, o Brasil era um negócio minúsculo, por isso não era olhado com carinho. Propusemos então comprar o negócio dos americanos e a venda foi efetivada em 2015”, contou. Nascia, ali, a Boali.

Rodrigo levou todo seu conhecimento para ampliar e fazer a rede crescer. “Meus sócios só haviam tido aquele negócio, mas eu já tinha experiência em diversas outras frentes. Essa lateralização de conhecimento me deu o repertório necessário para dizer que queria que o negócio fosse o maior do mundo.”

Em 2019, o Brasil tinha 29 operações e chegou a 42 até o fim do ano. Em 2020, durante a pandemia, enquanto muitas redes fechavam as portas, a Boali reuniu os franqueados, suspendeu as taxas de franquia e apoiou as operações para que sobrevivessem três meses sem receita. Apenas uma franqueada não passou pelo ‘teste de resistência’ e repassou a operação, mas nenhuma fechou as portas. “Além disso, abrimos sete novas operações em 2020. Nos anos seguintes, adquirimos a Horta 31, de BH, a Taste, de Curitiba e, na semana passada, o Mana Poke”, destacou.

Paralelamente, Rodrigo também encontrou no esporte uma disciplina que reforçou sua visão de longo prazo: no triatlo, aprendeu a ignorar ruídos e a transformar o desconforto em preparação para desafios maiores. Esse equilíbrio pessoal se refletiu na gestão da rede: “Hoje a gente tem um bar com mais de 130 operações, que sustenta mais de 1.200 famílias.”

Ao se colocar em uma situação diária de desconforto, você se prepara para o desconforto circunstancial”

Hoje, a Boali cresce para se consolidar no mercado brasileiro. “O mercado de food service representa 28% do mercado de alimentação como um todo, cerca de R$ 200 bilhões. O mercado de alimentação saudável é só 2% desse total. É um oceano azul”, disse. Para Rodrigo, o maior legado está em provar que o empreendedor brasileiro pode competir em qualquer mercado do mundo e ganhar o respeito global com coragem, visão e capacidade de execução.

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