“As empresas têm o papel de serem agentes de transformação da sociedade”
Antonio Carlos Lacerda, vice-presidente sênior de Químicos e Produtos de Performance da BASF para América do Sul, convoca empresas a construir uma sociedade mais inclusiva.
Por Clayton Melo
No momento em que o mundo atravessa diversos desafios, das emergências climáticas às desigualdades sociais, as empresas podem e devem contribuir para a transformação positiva da sociedade. Quem diz isso é Antonio Carlos Lacerda, vice-presidente sênior de Químicos e Produtos de Performance da BASF para a América do Sul. “Os agentes de transformação somos nós, que representamos as nossas empresas”, diz o executivo nesta entrevista ao [EXP]. “Então aqui fica o meu desafio para que todos exerçamos isso no dia a dia. O desafio para que nós, que somos agentes da transformação, assumamos o nosso papel e façamos com que a sociedade seja realmente uma sociedade mais justa e mais equânime, em que as diferenças não sejam tão grandes”, afirmou.
Formado em Engenharia Agronômica pela Universidade Federal de Viçosa e com MBA pela Universidade de São Paulo (USP), Lacerda possui mais de dez anos de experiência no comando de importantes áreas de negócio da BASF, companhia de um setor que tem no ESG hoje uma agenda prioritária.
Nesta entrevista, Lacerda analisa a importância de temas como economia circular, os desafios vividos pela indústria com a crise na cadeia global de suprimentos e os efeitos da pandemia da forma de trabalhar das organizações.
Quais são os principais objetivos de negócios da BASF neste momento?
O mundo está em transformação. E essa é uma oportunidade para poucos e um desafio para muitos. A condição geopolítica hoje é muito estranha, com esse império russo, mais China e talvez Índia. Como o mundo ocidental vai se organizar para de fato fazer com que todas as oportunidades não sejam confrontadas com esse poderio todo que está sendo formado no mundo oriental?
Havia aquela história de mundo globalizado, o mundo sem fronteiras. Não é bem assim. O mundo tem fronteiras, não é tão globalizado assim. Isso faz com que exista uma oportunidade muito grande aqui na região, especialmente no Brasil, para desenvolvermos a nossa base industrial, o nosso talento. O Brasil tem um grande potencial. Cabe a nós fazer com que esse potencial seja de fato expressado em números e que a sociedade seja menos injusta, mais diversa e sem hipocrisia.
A BASF apoia a economia circular e diversas práticas sustentáveis em sua indústria. O quanto efetivamente a empresa já colocou em prática esse modelo em seus processos produtivos?
A economia circular é, talvez, uma das maiores oportunidades que temos hoje no Brasil e na região. Ela ainda é pouco explorada, pouco desenvolvida e é justamente nesse momento que a gente tem que desenvolver e tirar os projetos do papel, para que a economia circular seja um vetor da economia. O lixo não é o fim. Ele pode ser o começo, se bem trabalhado. A gente tem que fazer com que esse lixo se transforme em matéria-prima novamente e aí criar um círculo virtuoso.
É isso que a gente objetiva hoje. O plástico é necessário hoje e pode ser reciclado. Mas para isso a gente precisa criar as condições para que ele seja algo de valor. Porque à medida que a gente valoriza esse resíduo, ele se torna circular dentro da economia. Como é o caso do vidro, do alumínio, do papelão, que são exemplos bem conhecidos.
“A economia circular é uma
das maiores oportunidades que
temos hoje no Brasil e na região.”
Com a pandemia e a guerra da Ucrânia, a economia global passou a conviver com um problema na cadeia de suprimentos. Como a indústria tem lidado com essa situação?
Hoje ainda há um grande problema na cadeia logística. O custo do frete de um contêiner de quarenta pés, que era de mil dólares, hoje é 12 mil dólares, chega até 16 mil. Isso se transforma em custo para toda a cadeia produtiva e afeta o consumidor. Isso não deve mudar no curto prazo. No curto prazo, a gente deve continuar com grandes desafios na cadeia logística, seja em termos de disponibilidade de espaço em navios, em contêineres e no custo. Ainda é um grande problema tanto para produtos que chegam ao Brasil como para aqueles que são exportados.
A pandemia acelerou mudanças na forma de trabalhar, como o avanço do modelo híbrido. O que mudou para a BASF e que transformações devem permanecer?
Já éramos flexíveis antes da pandemia. Já tínhamos o modelo de três por dois ou quatro por um, e cada área já negociava isso com os colaboradores. Então para nós a adaptação não foi muito difícil. O que existe hoje é a necessidade de que as ferramentas sejam adaptadas para captar um pouco mais as emoções. Porque a relação virtual ainda é muito fria se comparada ao contato one to one. Isso precisa evoluir para que a gente tenha realmente um modelo híbrido, em que as pessoas que estão numa sala de reunião e aquelas que se conectam virtualmente possam interagir de uma forma produtiva e eficiente. A gente ainda precisa de ferramentas para se desenvolver nesse sentido.
Em sua opinião, qual a responsabilidade das empresas na transformação positiva da sociedade?
Os agentes de transformação somos nós, todos nós que representamos as nossas empresas. Não somos o espelho da sociedade. Não podemos ser. A sociedade ainda maltrata, a sociedade é violenta. A gente precisa fazer com que realmente haja uma mudança na forma como a gente trata as pessoas. Precisamos todos exercer isso no dia a dia. O desafio é para que nós, que somos agentes da transformação, assumamos o nosso papel e façamos com que a sociedade seja realmente uma sociedade mais justa, mais equânime, em que as diferenças não sejam tão grandes.
Você acha que as empresas devem subir a régua dessa discussão?
As empresas têm a função de subir a régua. E nós somos a empresa. Então a gente tem essa função de subir a régua e fazer com que a sociedade seja de fato diferente. As empresas têm o papel de serem agentes da transformação.
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