Gestão

Até quando precisamos ouvir um estrangeiro falar que devemos acreditar mais no Brasil?

Ricardo Natale

Tudo bem que o estrangeiro em questão é o americano John Rodgerson, um dos fundadores e atual CEO da Azul Linhas Aéreas.

Nos quase 600 eventos que o Experience Club já realizou nesses 18 anos de atividades, vimos passar muitos estrangeiros que enalteceram o potencial e as riquezas do nosso país. Lembro bem quando trouxemos o ex-ministro das Finanças do Chile e reitor de Políticas Públicas da London Business School, Andres Velasco, que subiu ao palco para dizer que só precisávamos fazer o básico bem feito.

Mas isso sempre nos incomoda muito. Não por alguém de fora falar boas verdades, ao contrário, sempre fomos incentivadores de aprender com quem está na vanguarda. Incomoda porque parece que damos mais atenção aos estrangeiros.

Esse americano quase brasileiro, dono de um carisma quase indescritível, deixou claro aos 130 CEOs e VPs que participaram do primeiro jantar da Confraria de CEOs que “o Brasil não é a Faria Lima, o Brasil é o agro, o Norte, o Nordeste, o interior de Pernambuco, o interior do Rio Grande do Sul”.

John e seus sócios na Azul Linhas Aéreas ajudaram o mercado brasileiro de aviação a crescer quando, em 2008, investiram US$ 200 milhões, equivalente na época a R$ 350 milhões de reais, para criar a empresa que abriu linhas em cidades não atendidas pela malha aérea no interior do país.  Na época, o mercado aéreo brasileiro era de 50 milhões de passageiros ao ano. Neste ano, somente a Azul vai transportar 35 milhões de passageiros. Num país continental como o nosso, a conexão entre as cidades é fundamental para o desenvolvimento econômico, criação de cadeias de valor e desenvolvimento fora dos grandes eixos urbanos.

O CEO da Azul não ignora os desafios de fazer negócios num país de legislação e burocracia complexos como o nosso, com forte intervenção estatal na economia. Mencionou o preço do combustível, agravado pelo dólar a R$ 5,00, e a pressão política para reduzir os preços das passagens aéreas. Mas disse que não pretende desistir. Ao contrário, vai continuar investindo. Tanto que somente neste ano vai receber 23 novas aeronaves, a maioria produzida na Embraer, em São José dos Campos.

“Eu me mudei para o Brasil para um projeto de 3 anos, já estou há 15 e não tenho intenção de sair. O futuro está cada dia mais brilhante”, disse. E a mensagem principal, com a qual concordo: “Se vocês acham que algum político vai mudar esse país está bem enganado. Somos nós que temos que mudar o Brasil. E cada dia o Brasil está ficando mais forte.”

É isso o que eu venho fazendo: criando ambientes no qual as pessoas possam se encontrar, criar conexões, fazer negócios e com isso ajudar no desenvolvimento do país. Como disse John: não vamos esperar, a mudança depende de nós.

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