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Bairros inteligentes, digitalização, superação e a ineficiência do sistema político foram destaques do Fórum CEO Brasil

Monica Miglio Pedrosa

Digitalizar para aproximar. Desde 2019, esse é o propósito que guia a estratégia da Vivo, líder nacional em telefonia móvel (pré-pago e pós-pago) e também na conexão por fibra. Em 2024, a companhia registrou R$ 56 bilhões em receita total. “Acreditamos que a conexão tem poder de transformação. A digitalização pode trazer um mundo melhor para as pessoas”, destacou Christian Gebara, CEO da Vivo, na palestra de abertura do segundo dia do Fórum CEO Brasil.

Para dar vida a esse objetivo, a companhia vem construindo um ecossistema digital completo que vai além da telefonia, com serviços e soluções digitais para áreas como saúde, educação, finanças, entretenimento, eletrônicos, energia e casa inteligente. Mesmo diante de tantos avanços tecnológicos, Gebara ressaltou o papel estratégico do meio físico. São mais de 600 mil visitas às lojas, além de iniciativas como a Casa Vivo, uma loja conceito de 400 m2 em São Paulo onde o público pode interagir com diferentes dispositivos inteligentes.

O executivo apresentou, ainda, algumas tendências e mudanças que vão impactar a sociedade e os negócios, como o envelhecimento da população que fará com que 25% da população brasileira tenha 65 anos ou mais em 2042. As empresas também devem estar atentas às novas configurações familiares e seu impacto nos lares, como casais com filhos do primeiro e do segundo casamento, o crescimento de pessoas que vivem sozinhas, casais homoafetivos e a convivência com pessoas de várias gerações na mesma casa.

Ele falou ainda da crescente importância da acessibilidade, para incluir pessoas com deficiência, já que apenas 29% da população PcD está inserida no mercado de trabalho. Para finalizar, Gebara destacou os perigos da hiperconectividade, e apresentou uma campanha lançada pela Vivo que estimula a desconexão e a vivência de mais experiências reais.

Bairros inteligentes no Minha Casa Minha Vida

Quando chegou ao Brasil, há 10 anos, Susanna Marchionni planejava ficar apenas oito meses  para desenvolver um projeto no Ceará da Planet Smart City, empresa que abriu em sociedade com seu ex-marido na Itália. Especializada em desenvolver bairros e condomínios inteligentes por meio de soluções tecnológicas digitais, sustentáveis e inclusivas, ela queria levar mais qualidade de vida e conexão humana às moradias populares do programa Minha Casa Minha Vida.

O primeiro fruto desse trabalho foi a Smart City Laguna, em São Gonçalo do Amarante (CE), considerada a primeira cidade social inteligente do mundo. Em uma área de 330 hectares, o empreendimento transformou o conceito de habitação popular ao incluir benefícios como hub de inovação com biblioteca, espaço de coworking, ciclofaixa, horta comunitária, área fitness e outros equipamentos de uso coletivo, disponíveis tanto para moradores quanto para a comunidade do entorno. Tudo conectado por meio de um aplicativo. Um modelo que ressignifica o condomínio e o torna de fato inclusivo, com inteligência e conectividade.

Durante sua palestra, Susanna relembrou as imensas dificuldades que teve na chegada ao país por ser mulher, italiana, não falar português e ainda atuar em um setor historicamente masculino, a construção civil. “Ninguém acreditava em mim. Quando estava a ponto de desistir por falta de dinheiro, já que começamos com recursos próprios, tive a oportunidade de conhecer Stefano Buono, empresário que havia acabado de listar sua companhia na Nasdaq e vendê-la para a Novartis, por US$ 3 bilhões”, contou.

O encontro mudou a trajetória da Planet Smart City. Com o apoio de Stefano, que se apaixonou pelo projeto, novas portas se abriram e o sonho começou a virar realidade. Hoje, a empresa tem projetos na Índia, Itália e Estados Unidos. No Brasil, nos estados do Ceará, Rio Grande do Norte e São Paulo já receberam empreendimentos conectados da empresa.

Uma jornada semelhante a do Ipê

A Ypê, empresa brasileira de produtos de higiene e limpeza fundada há 75 anos, herdou seu nome do Ipê, que floresce em tempos secos. Essa foi uma das muitas histórias contadas pelo pai de Waldir Beira Junior, atual presidente da companhia, e que acabaram norteando sua trajetória pessoal e profissional ao longo dos anos.

Terceiro palestrante da tarde do Fórum CEO Brasil, Waldir compartilhou com a plateia três passagens delicadas de sua vida pessoal, como a perda do pai em um acidente fatal na fábrica da Ypê, a luta contra o câncer do filho, Francesco, diagnosticado quando ele tinha apenas 1 ano e 5 meses e que durou nove anos, e o sequestro e cativeiro da mãe, até sua libertação.

A empresa também enfrentou grandes desafios, em especial nos anos 1980, quando o congelamento de preços imposto pelo governo incluiu, por engano, o sabão em barra da Ypê na lista de produtos tabelados. A medida reduziu drasticamente a margem de lucro, mas Waldir viu nela também uma oportunidade, a de que mais pessoas experimentassem o produto e atestassem sua qualidade, enquanto ele trabalhava para reverter o erro.

Essa capacidade de transformar momentos de crise e dores em oportunidades de crescimento, guiou tanto sua vida pessoal quanto a trajetória da Ypê. No fim da vida do filho, sua esposa estava grávida de uma menina, que nasceu dois anos após seu falecimento e se chama Anna Francesca, em homenagem a ele. Já a Ypê é hoje líder de mercado em quatro categorias e, por meio de uma parceria com a SOS Mata Atlântica, já plantou 1,2 milhão de árvores em uma região de áreas devastadas. “Nossa história reflete muito o que vemos no Ipê. Nossa empresa floresceu no momento de maior estresse. Nossa família também. Temos que sair do mundo deixando-o melhor do que aquele que nos recebeu”, concluiu.

A polarização esconde o verdadeiro problema da política

Lucas de Aragão, sócio da Arko Consulting, encerrou a tarde de palestras com uma reflexão sobre o cenário político do país. Segundo ele, o Brasil “funciona muito mais nas entrelinhas do que nas manchetes”, chamando atenção para o fato de que, enquanto a população se prende aos debates polarizados entre Lula e Bolsonaro, temas relevantes como o novo marco da inteligência artificial, que está em discussão em uma comissão especial, ou escândalos como o do Banco Master, que colocou em risco o Fundo Garantidor de Crédito (FGC), acontecem longe dos holofotes.

Ele acredita que a engrenagem do sistema político brasileiro é ineficiente, porque grandes temas nacionais não são discutidos e os partidos não se posicionam de forma ideológica. “O sistema ineficiente premia o parlamentar que usa o dinheiro que recebe para emendas em seu município de origem, garantindo a reeleição”, explicou. Nesse modelo, os parlamentares evitam discussões nacionais e preferem se dedicar às pautas “feudais”.

Outro problema é o que ele chama de partidarismo negativo. “É mais seguro mostrar o que você não é do que propor o que é. Nos identificamos politicamente pelo que não somos”, afirmou. Para Aragão, essa lógica gera paralisia, já que é muito mais fácil ser contra algo do que defender uma pauta, que exige negociação, diálogo e construção coletiva. “Ser contra é mais fácil, silencia o outro.”

Ele destacou ainda a existência de uma pentarquia no Brasil: Presidente da República, Supremo Tribunal Federal, Senado, Câmara dos Deputados e Banco Central. Logo abaixo, vêm os partidos políticos, o mercado financeiro e, por fim, a sociedade organizada, o agronegócio, as mídias, a igreja e o setor produtivo. E é essa pentarquia que na verdade pressiona as decisões do país. É essa combinação de forças, segundo ele, que pressiona as principais decisões do país. Presidentes, observou, são eleitos por consenso com essa pentarquia, e dificilmente apenas por convicção.

O recado final dirigido aos líderes presentes no Fórum é o de que em um país marcado pela ineficiência do sistema político, é fundamental que a sociedade civil se organize para ter voz ativa na definição das políticas que afetam diretamente os negócios e o futuro do Brasil.

Logos patrocinadores Fórum CEO Brasil 2025

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