Blockchain games: o futuro mistura criptomoedas e NFTs aos jogos
Por Clayton Melo
Heloísa Passos, ou Helô Passos, é hoje uma das principais autoridades do mercado de games no Brasil. Paulistana, ela passou de gamer a uma das mais destacadas empreendedoras desse setor ao ser uma das fundadoras, em 2021, da Sp4ce Games, uma plataforma de jogos que rodam em blockchain com tokens não-fungíveis (NFT). Depois de vender sua participação nessa empresa, ela decidiu lançar outra startup, a desenvolvedora de jogos para blockchain Trexx.
“A empresa é super recente, a gente desenvolve jogos e tecnologias para jogos dentro da blockchain. Estamos desenvolvendo um jogo que se chama Boom Burguers”, diz Helô Passos nesta entrevista ao [EXP]. “A Sp4ce deu tão certo que recebemos uma oferta de compra. Só que meu propósito de transformar a vida era ainda maior. Então eu queria desenvolver jogos e conseguir impactar mais pessoas. Por isso a Trexx surgiu.”
Os blockchain games têm o potencial de revolucionar o mercado de videogames. Ao misturar jogos online, finanças e NFTs, esse novo segmento possibilita que transações financeiras sejam feitas de forma segura e descentralizada por meio da tecnologia blockchain e com criptomoedas dentro dos games. Isso amplia de maneira exponencial o potencial de negócios para empresas, desenvolvedores, jogadores e marcas.
“Existem possibilidades de negócios no desenvolvimento dos jogos para venda de ativos e licenciamento de franquias, seja para audiovisual, seja para produtos. Hoje as pessoas vendem até atletas de e-sports, como é o caso do League of Legends e do próprio Corinthians, ou Flamengo, que já têm times de e-sports”, diz Helô, referindo-se às competições de jogos virtuais que podem ser acompanhadas ao vivo pelo público via TV ou streaming.
Nesta entrevista, ela fala sobre a evolução dos jogos online e como as empresas podem participar dessa nova era aberta pelos blockchain games.
Quais são as oportunidades de negócios que podem surgir, na prática, com os blockchain games?
Existem três momentos da economia dos jogos. O primeiro foi o “pay to play”, o de pagar para jogar. Quando eu era criança, por exemplo, meu pai comprava o cartucho e eu só tinha aquela experiência com o jogo. Houve um segundo momento, o “free to play”, impulsionado pelos jogos mobile, acesso a computador doméstico e banda larga. Naquele momento, as pessoas jogavam de graça, mas compravam outros itens, como personagens, e assim iam tendo mais experiências.
O que que acontecia ali? Imagina que eu tenho 12 horas por dia para jogar. Obviamente meu personagem vai ser mais forte, vou ter itens mais raros. Você, por outro lado, não tem tanto tempo para jogar, mas quer ser tão competitivo quanto eu. O que acontece? Eu vendo meus itens para você. Antes a gente fazia isso através de TED, hoje por Pix. Só que havia três problemas aí: você não sabia se ia receber seu item, eu não sabia se eu ia receber meu dinheiro e os desenvolvedores não recebiam nada por isso.
Quando a gente integra com a blockchain, todos esses itens e personagens viram NFTs. Viram token não-fungíveis, que você pode usar dentro da blockchain e pode usar a estrutura do marketplace, seja de qual rede for, para fazer as transações. Assim você tem a certeza de que vai receber o seu item, eu vou receber o meu dinheiro e o desenvolvedor também recebe uma porcentagem.
O mercado geral de games tem um tamanho de aproximadamente US$ 195 bilhões. É o terceiro maior mercado do mundo. Existem possibilidades de negócios aí, no desenvolvimento dos jogos para venda de ativos, licenciamento de franquias, seja pra audiovisual, seja pra produtos, e tem a questão de e-sports. Hoje as pessoas vendem até atletas de e-sports, como é o caso do League of Legends e do próprio Corinthians, ou Flamengo, que já têm times de e-sports.
Qual o estágio atual desse novo ecossistema de negócios de games com NFT?
Esse é um ponto importante quando analisamos o lado social da blockchain. É importante a gente pensar a blockchain como algo que teve a capacidade de mudar o PIB das Filipinas, conseguiu trazer as pessoas para a bancarização novamente, para o empoderamento financeiro. Se a gente traz essas pessoas, a gente consegue implementar outras formas de economia criativa, como é o caso das profissões de tecnologia. A mão de obra é muito escassa, e os desenvolvedores acabam sendo caros, mas todo dia tem gente nova se formando.
O que eu vejo para esse mercado é que a gente vai construir a jornada de carreira com os profissionais que estão entrando no setor. Desenvolvendo cada vez mais profissionais de ilustração, de 3D, de programação e também buscar profissionais mais seniores para gerir essas equipes. Conseguir fazer essa evolução, observando hard e soft skills, é algo extremamente desafiador, mas ainda assim as pessoas querem participar, querem poder trabalhar junto.
O futuro do mercado de games passa pelo metaverso? De que maneira?
As pessoas ainda não têm uma noção muito clara do que é o metaverso. Tem gente que acha que é só colocar os óculos (de realidade virtual), colocar uma luva (que simula sensação de toques em objetos) e isso vai ser o metaverso. Há também quem acredite que o metaverso vai ser na blockchain, enquanto outros dizem que os próprios jogos já são metaversos – o Fortnite e o Roblox, por exemplo. Para mim, esse conceito passa por todas as tecnologias de imersão e socialização. Esse metaverso que as pessoas estão vendendo, acredito que vai levar um longo tempo para acontecer, coisa de cinco a dez anos. Mas existem bons exemplos dentro e fora da blockchain.
Como as marcas podem se integrar aos negócios de games com NFT e blockchain?
A forma mais assertiva, em princípio, é o patrocínio. Uma arena patrocinada por uma determinada marca, por exemplo, vai ter os personagens que vão ganhando itens particulares daquela empresa, que podem dar algum benefício do jogo. E existe a possibilidade de desenvolver jogos para essas marcas.
Quando a gente olha para NFTs, tem a questão do clube de benefícios. Um NFT que não pode ser transferido é só seu. Então imagina que você tenha um NFT, por exemplo, para um plano de saúde que substitua a carteirinha. Ele pode ser usado até para fazer a validação de uma transação, fazer gestão de cadeia de suprimento, KPI, monitoramento de ar. A blockchain é uma tecnologia como era a internet lá em 1998. Ninguém sabia o que estava acontecendo, mas estava claro que ia mudar o mundo.
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