“Brasil está ficando pequeno para o Private Equity”
Os investidores estão esperando. E o Brasil, apesar do seu imenso mercado e potencial econômico, corre o risco de perder espaço em relação a outros mercados emergentes que estão conseguindo enfrentar problemas estruturais e ganhar competitividade. Essas são algumas das impressões de um dos executivos de sucesso global que construiu sua bandeira e fincou raízes no país nas últimas cinco décadas.
Trazendo na bagagem 42 anos de história na Alcoa, onde chegou a CEO global, e há uma década como sócio do Warburg Pincus, Alain Belda falou sobre sua visão de mercado – e de mundo – para 35 presidentes e líderes empresariais no CEO 2030 realizado na terça-feira, 25 de junho. O encontro, sediado no 15º andar do edifício Birmann 31, tinha cenário inusitado: a vista para as obras do B32, projeto de arquitetura arrojada na zona mais nobre do novo centro financeiro de São Paulo.
Com a experiência de que já viveu os anos loucos da inflação na década de 80 à frente da Alcoa no Brasil, Belda acredita que, embora as características da retração econômica sejam diferentes agora, o país segue repetindo ciclos de crescimento e recessão, sem dar um salto significativo.
“Eu me preocupo com a indústria, que vive seu momento mais difícil em 20 anos. Isso não ajuda a atrair investimento”.
A economia americana passa de uma década de expansão, o que não é normal, e podemos ter um freio na economia global derivado de uma série de fatores combinados. Nesse contexto, a oportunidade de retomar o crescimento pode estar escapando pelas mãos.
Belda acredita que o Brasil não pode ser ao luxo de deixar o tempo passar mais uma vez e tentar uma reação. Além dos fatores históricos que continuam na agenda do dia, como a Reforma da Previdência, o investidor aponta para o problema da insegurança jurídica em relação aos fundos transnacionais e a volatilidade do câmbio na atração de investidores. “Se eu comprei um ativo com o dólar a R$ 1,80 alguns anos atrás, o que eu faço agora?”
Aprendizados
Em clima de bate-papo, Belda contextualizou sua história de vida e momentos da carreira com a realidade de quem comanda o dia a dia das empresas. Nascido no Marrocos de pai espanhol e mãe portuguesa, o executivo imigrou para o Brasil ainda criança e depois seguiu com toda a família apara o Canadá. Com o falecimento precoce do pai, retornou ao Brasil, onde fez universidade e ingressou na Alcoa, em 1969.
Dez anos depois estava na presidência da companhia no país, liderando um ciclo forte de expansão. “Mudamos a visão de substituição de importações para ser uma competidora de classe mundial”. A expansão, mesmo com toda a turbulência da economia brasileiro, levou Belda aos Estados Unidos em 1994, onde ocupou o comando global da companhia.
Depois do longo período na indústria, um dos seus momentos marcantes foi participando de conselhos de administração, como no caso do Citibank em plena crise generalizada de Wall Street em 2008.
“Como mem
bro do conselho você realmente está representando a massa de acionistas. E aí fica muito claro como o interesse da companhia é muito maior do que o seu ego”.
Para Belda, o maior aprendizado na longa carreira como executivo e investidor tem a ver com autoconhecimento e o poder da verdadeira liderança. “No fim do dia, o tamanho do escritório e o valor no cheque não é o que mais faz a diferença. O mais importante é que as pessoas acreditem e contem com você”.
Texto: Arnaldo Comin
Fotos: Marcos Mesquita/Experience Club
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