Capitalizada, Birdie aproveita retração do mercado para contratar
Startup, comandada por Alexandre Hadade, pretende mais que dobrar o tamanho da equipe, em relação ao final do ano passado, e acelerar o ritmo de crescimento
Fique ligado:
- A inteligência artificial aplicada à pesquisa de mercado já permite avaliações em tempo real de tendências com base em opiniões deixadas na internet.
- As informações em tempo real são particularmente úteis para equipes de desenvolvimento, que podem ajustar com mais frequência as características dos produtos à demanda ou mesmo se antecipar a ela.
- Hoje, o preço da assinatura do serviço ainda é elevado para pequenas empresas.
- Trata-se de um mercado que atualmente movimenta US$ 68,7 bilhões por ano.
Capitalizada por uma rodada seed de US$ 7 milhões, em fevereiro, a Birdie, startup que usa inteligência artificial aplicada a pesquisas de mercado, está aproveitando a crise de liquidez e as demissões no setor para expandir a equipe de tecnologia e testar novos modelos de precificação.
As ações fazem parte dos planos da empresa para acelerar o crescimento. O objetivo, diz o CEO Alexandre Hadade, é chegar em agosto de 2023 com receita de US$ 6 milhões e fazer uma rodada Série A. Hoje, a receita anualizada está em pouco mais de US$ 1 milhão, afirma.
No início do ano, a empresa tinha pouco menos de 40 empregados. Hoje, têm cerca de 60 e pretende chegar a 80 até o final do ano. “Aceleramos muitas contratações no primeiro e no segundo trimestres e devemos segurar um pouco no terceiro, para retomar com mais força no quarto”, diz o empresário.
Sediada nos Estados Unidos, mas fundada por quatro brasileiros, a startup tem a maior parte da força de trabalho no Brasil e uma estreita ligação com celeiros de talentos como a Universidade de São Paulo (USP) — dos cerca de 60 funcionários, oito são PhDs em áreas como linguística. Com a consolidação do trabalho remoto, afirma Hadade, a intenção é continuar assim. “Queremos ser uma deep tech brasileira global e ajudar no crescimento do ecossistema brasileiro”, diz.
Além da contratação de novos empregados, o caminho para chegar lá, afirma o empresário, passa ainda por encontrar o melhor modelo para a Birdie trabalhar com marcas de médio porte e expandir seu mercado potencial.
O modelo atual é baseado em uma assinatura mensal, que varia de acordo com o volume de dados processados. Em grandes clientes, como Microsoft, HP, Midea e Jetson (e-bikes), o valor costuma variar de R$ 100 mil a R$ 150 mil. Atualmente, porém, a Birdie está testando a viabilidade do modelo em clientes menores, como a brasileira Atlas, de refrigeradores. A ideia é viabilizar contratos com valores de entrada bem mais baixos, na casa dos R$ 10 mil. “O momento é de testar muita coisa”, diz Hadade.
IA em pesquisa de mercado
Entrante em um mercado estimado globalmente em US$ 68,7 bilhões ao ano, a Birdie tem como principal diferencial uma plataforma que mostra, em tempo real, como os produtos ou serviços de uma empresa estão sendo avaliados na internet.
Em vez de entrevistas com pessoas e focus groups, as avaliações são baseadas em informações deixadas espontaneamente por consumidores em fontes públicas de informação, como sites de e-commerce, fóruns, blogs e no Youtube, além de fontes internas, como contas em redes sociais (Twitter, Facebook, Instagram), chats e e-mails e call centers.
Uma vez recolhidos, os dados não estruturados são estruturados por ferramentas de processamento de linguagem natural, um tipo de inteligência artificial, e apresentados de forma compreensível, em um painel que pode ser acessado pelas equipes de desenvolvimento de produtos.
“Com isso, as empresas começam a ver não só dados sobre os próprios produtos, mas também dados sobre os produtos concorrentes, na granularidade das características de cada produto”, diz Hadade. “Conseguimos oferecer uma pesquisa qualitativa com volume de uma quantitativa”.
No painel, a avaliação é apresentada inicialmente me três dimensões, afirma o empresário. Uma do produto, outra do suporte nos canais de atendimento e uma terceira da experiência de compra. Há um “Birdie score” para cada uma delas, que pode ser desdobrada em sub-itens.
No caso da característica dos produtos, por exemplo, a plataforma apresenta inicialmente três pontos fracos e três pontos fortes. E já compara a pontuação do produto ou serviço do cliente com a dos concorrentes escolhidos, afirma Hadade. Assim, é possível identificar também tendências e lacunas de mercado e adaptar os produtos para que ocupem o espaço vago. “Conseguimos fazer predições com base no que as pessoas estão falando nas redes sociais”, diz.
Desafios
Segundo Hadade, todas as grandes empresas de pesquisa de mercado tradicionais – como a Ipsos, por exemplo –, têm buscado automatizar o processo. Mas a concorrência não é vista por ele como um problema. “São rivais com tecnologia de análise mais superficial, sem a mesma granularidade alcançada pela Birdie”, afirma o empresário. “E aí é uma briga de tecnologias e escala.”
O maior desafio no processo de expansão, diz Hadade, é treinar o algoritmo da Birdie em novas línguas. A empresa já trabalha com doze, entre as quais o francês, o italiano, o japonês, o chinês, o espanhol e o português. Mas, na medida em que entram em carteira novos clientes multinacionais, a tendência é de expansão para novas geografias. “É preciso fazer uma análise realmente profunda em cada país. Por isso, contamos sempre com uma pessoa local”, diz.
Futuro
Com o volume crescente de análises, a startup está criando um gigantesco banco de informações sobre produtos, que vai crescendo com diversos “nós de conhecimento”, avalia o empresário. “Imagine essa árvore em cinco ou dez anos. Nosso sonho é ter a maior base de conhecimento de produtos do mundo”, afirma. “A partir daí, poderemos desenvolver uma série de outras soluções”.
Uma possibilidade, diz Hadade, seria um aplicativo que permitisse a qualquer pessoa fazer uma busca e identificar qual o produto mais adequado às suas necessidades, com base nas características que procura. Por ora, porém, o foco está mesmo no mercado de pesquisa de mercado, considerado grande o suficente. “Nosso sonho é aproveitá-lo para nos tornarmos um decacórnio”, diz.
Foto: divulgação
Texto: Dubes Sônego
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