Tecnologia

Chegou a era da accountability

Ricardo Natale

O tema do momento no SXSW, maior evento de inovação do mundo, que acompanho em Austin desde quinta-feira, é Inteligência Artificial. Você certamente já leu dezenas de reportagens e relatos de participantes sobre a tecnologia. Mas, o que fazer com isso?

Junto com a onipresença da IA – IA for everything é o primeiro item do report de tendências de tecnologias do MIT Tech Review, apresentado na abertura do evento – um novo conceito vem aparecendo nas palestras e debates por aqui: accountability. Seja para se referir à responsabilidade dos cientistas e líderes de empresas que estão criando as novas tecnologias, seja para definir os novos modelos de comportamento nesse ambiente pós-pandemia, quatro anos depois do fato que mudou tudo nas nossas vidas. Olhando melhor, nem tudo. O mundo é bem diferente. Depois da euforia, agora é hora de aterrissar nos aprendizados.

Vários palestrantes alertaram, nos últimos dias, para a necessidade de se olhar para a IA com o cuidado que uma arma tão poderosa merece. Amy Webb, em seu relatório sobre tendências de tecnologia, advertiu para o risco de perpetuação de vieses e preconceitos (ela encomendou imagens de CEOs a várias ferramentas e todas só trouxeram homens brancos) e, especialmente, para a possibilidade de se criar uma fake news tão convincente que pudesse, por exemplo, levar a uma guerra real em resposta.

Como evitar o uso descontrolado da IA? É preciso que os que detêm o poder de criar as ferramentas o façam com responsabilidade. Debater com seriedade as vantagens e os riscos de um controle mais apertado, que reduz as oportunidades de uso, comparado a uma liberdade maior, que pode ampliar a inovação, mas tem os riscos do descontrole. Líderes de empresas que estão liderando esse mercado, como Elon Musk, da Tesla, Space X e X, Satya Nadella, da Microsoft, Sam Altman, da Open AI, já se pronunciaram sobre a necessidade de um uso ético da IA.

Enfim, é preciso pensar em accountability.

Yasodara Cordova, brasileira que é especialista em privacidade e principal privacy researcher da Unico IDTech, fez palestra sobre os riscos que corremos com o uso descontrolado dos nossos dados.

IA é fundamental, estará presente em todos os negócios, não adianta resistir, mas não dá pra fazer só pelo hype. É o que diz Sandy Carter, COO e Head of Business Development da Unstopable Domains, ex-VP da AWS e fundadora da Women of AI and Blockchain, numa sessão em que apresentou as sete tendências no mundo do trabalho pós-IA. “Não sei quantas vezes as pessoas me ligam e dizem que precisam fazer algo com IA. Mas você precisa manter o foco. Não adianta simplesmente usar IA por usar.”

No mundo do trabalho, a chegada da Geração Z está mudando tudo. Estima-se que eles serão um terço da força de trabalho até 2025 e estão provocando mudanças profundas nas empresas: não apenas forçando uma flexibilidade em local e jornada de trabalho, mas também levando as empresas a se posicionar sobre temas da sociedade.

Propósito é a palavra da vez. Em mercados de pleno emprego, como os Estados Unidos, as empresas estão tendo dificuldades de atrair talentos a não ser que mostrem que seus valores estão alinhados com os dos colaboradores. “O conceito de carreira não é mais o que era. Eles não querem fazer coisas fora do horário. Se um evento é importante para a empresa, deve ser feita dentro do horário de trabalho”, disse no painel Gali Arnon, Chief Business Officer da Fiverr, plataforma que conecta profissionais freelancers.

O que dá pra perceber, por aqui, é que as mudanças estão mais aceleradas do que nunca. E, em vez de euforia, vêm provocando um apelo por cautela, por análises que levem em conta mais elementos do que apenas os resultados financeiros.

Que considerem para onde estamos indo e onde – e se – vamos parar.

Carta do CEO
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