Corrida por inovação entra na lógica das M&As
Cresce o número de empresas que buscam em fusões e aquisições aceleração digital, acesso a novos mercados e times especializados em novas tecnologias e modelos de gestão
Operações de fusão e aquisição, que até um passado recente eram levadas à frente com base apenas na lógica de adquirir concorrentes para crescer e conquistar mercado, vêm ganhando um novo – e mais sofisticado -, perfil no País.
Crescer, claro, continua a ser o objetivo central. Mas, em tempos de avanço de digitalização, a busca por tecnologias que agreguem a possibilidade de oferecer novos serviços a clientes, combinada à chegada de times profissionais qualificados, vindos das empresas adquiridas, vêm dando o tom dos negócios em M&A.
Uma mostra de que essas qualidades são encontradas sobretudo em startups está no aumento do volume de transações envolvendo essas empresas.
Segundo levantamento do Distrito, as startups brasileiras receberam um total de US$ 9,4 bilhões em aportes financeiros ao longo do último ano. Foram 779 rodadas.
O número de fusões foi recorde – 247 companhias estiveram envolvidas. Um ano antes, em 2020, foram 170 operações.
Para Gustavo Gierun, CEO do Distrito, essa tendência deve se consolidar, com grandes empresas indo à procura de novas soluções e oportunidades.
“Grandes comprando grandes e as teses de sinergia entre empresas mais tradicionais são algo que sempre vai existir. O ganho de escala de business tradicionais nunca vai sair de moda”, pondera.
“Mas o mercado está evoluindo com a ideia de ganho de escala com teses não-lineares. Ou seja, novas tecnologias, que atacam novos mercados e fazem com que empresas tenham capacidade de crescimento acima do que obtinham anteriormente. Normalmente, esse ganho é feito com tecnologia”, observa.
Com décadas de experiência no mercado de M&A, Leonardo Dell´Oso (na foto abaixo), sócio da PwC Brasil, acredita que, depois de um primeiro momento, no qual empresas de setores muito castigados pela pandemia tiveram de ir às compras para sobreviver e correr atrás de avanços tecnológicos, um conjunto de fatores deve, cada vez mais, pautar as combinações de negócios com foco em empresas com base tecnológica.
“A geração de valor aos sócios, hoje, é alcançada pelo conjunto do ativo adquirido: pessoas, equipe de gestão, tecnologias, clientes, poder passar a atuar numa região ou mercado onde não estava”, exemplifica.
Quase metade (45%) do total de fusões e aquisições contabilizado pela PwC em 2021 (1660) envolveu empresas de Tecnologia da Informação (TI).
Nova cultura organizacional
Embora as aquisições de startups, por parte de empresas de grande porte, não sejam propriamente uma novidade em si, a integração dos negócios carrega aspectos corporativos até então inéditos no Brasil, aponta Guilherme Stuart, sócio da RGS Partners, uma boutique de M&A focada em middle market (empresas de médio porte).
“Uma das grandes motivações das empresas hoje é mudar o modelo de negócios. Nesse sentido, as fusões trazem um complemento aos negócios ou ajudam a construir novos modelos. Mais do que comprar share (participação de mercado), as compradoras estão adquirindo startups, aprendendo com seu modelo e, muitas vezes, incorporando seu ambiente organizacional. Isso é novo e cada vez mais comum nas transações.”
Texto: Luciano Feltrin
Foto: Cytonn Photography / Unsplash
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