Tecnologia

Dell leva sustentabilidade ao core business ao produzir equipamentos modulares

Diego Puerta, General Manager Dell Brasil

Por Monica Miglio Pedrosa

Todos os anos, mais de 57 milhões de toneladas de equipamentos eletrônicos são descartados no mundo, segundo estimativas do World Economic Forum. O alto impacto ambiental do core business da empresa levou a Dell Technologies a criar o Concept Luna, lançado no final do ano passado, que promete revolucionar a forma de produzir computadores na companhia em nível global.

O conceito torna cada equipamento eletrônico modular, ou seja, que pode ser desmontado em questão de minutos. Assim, será possível trocar apenas os componentes que precisam de reposição, prolongando a vida útil do dispositivo e reduzindo desperdícios. Usando telemetria e robótica, é possível medir a integridade dos componentes e reutilizar ou reparar apenas as parte danificadas, alavancando o conceito de circularidade na produção.

A Dell Technologies, formada em 2016 pela fusão das norte-americanas Dell com a EMC, ocupa a 31ª posição na Fortune 500 e reportou um lucro de US$ 20,9 bilhões no primeiro trimestre de 2024. Em entrevista à [EXP], feita no escritório da empresa em São Paulo, Diego Puerta, General Manager da Dell Brasil, falou sobre essa importante mudança no modelo de negócios da empresa e também sobre inteligência artificial generativa, acessibilidade, inclusão digital e os objetivos da rede privada 5G que a Dell está construindo em sua fábrica brasileira em Hortolândia, no interior de São Paulo.

[EXP] No final de julho vocês anunciaram o lançamento de um portfólio de soluções de inteligência artificial para impulsionar iniciativas corporativas de IA Generativa. Em que direção vocês estão apostando?

Diego Puerta – A tecnologia é o grande catalisador do desenvolvimento dos negócios. Quando vimos a oportunidade da inteligência artificial entendemos que ela demanda altíssima capacidade de processamento e placas aceleradoras de vídeo, que são hoje um recurso escasso no mercado. Nossa longa parceria com a NVIDIA nos levou a uma solução de um modelo de inferência otimizado para acelerar a implementação de uma plataforma de GenAI modular e escalável nas empresas. E o melhor: com rápida disponibilidade para o mercado, um fator que é chave nas discussões.

Também estamos ajudando nossos clientes a acelerar a adoção de IA generativa nos negócios, seja por meio de serviços ou equipamentos, como workstations, servidores e soluções de armazenamento scale-out.

No que consiste este serviço que ajuda a acelerar a implementação de GenAI nas empresas?

Quando falamos de inteligência artificial estamos falando de dados não estruturados.  E a Dell tem um histórico de dados enorme, somos líderes no mercado brasileiro de armazenamento. Temos uma expertise muito grande que compartilhamos com os clientes e que vai além do hardware. Como ele vai operar a solução na infraestrutura da empresa? Como consolidar os dados? Como montar um data lake para que minha solução de IA seja de fato efetiva? Podemos ajudar em todas essas frentes.

Existe ainda a questão da segurança dos dados nessa decisão corporativa.

Exato. Hoje existem vários fornecedores de soluções em nuvem, então por que uma empresa deveria construir sua própria solução? A segurança dos dados é fator decisivo para essa decisão. Para aproveitar o potencial da IA, o cliente vai usar o maior volume de dados e informações possível. Será que ele vai querer disponibilizar esses dados estratégicos para terceiros? Por isso, quando falamos de solução para nossos clientes, olhamos o todo: como eu preparo o data lake, a infraestrutura, e como manter o conhecimento nas fronteiras da empresa, não acessíveis para terceiros.

Existe algum segmento que a Dell observa que está mais propenso à adoção da IA como tecnologia para os negócios?

Quem está investindo na tecnologia é quem tem necessidade de informações, quem interage muito com os clientes, como grandes bancos e telcos. Mas existe um nicho diferente, que são empresas de infraestrutura focadas em soluções de AI, que também precisam de nossas soluções. Pequenas startups com demandas enormes. Temos olhado também para os outros países, para entender de onde está vindo a demanda, que tipos de soluções os clientes estão buscando, para que possamos, de forma proativa, começar a posicionar essa demanda no Brasil.

A Dell está testando a implementação de uma rede 5G privada em sua fábrica de computadores em Hortolândia (interior de SP). Como vai funcionar?

Acreditamos muito no potencial de transformação do 5G. Por isso, estamos trabalhando com a Claro em uma rede privada em nossa fábrica, aliás, a única no mundo que atende apenas o próprio país onde está estabelecida. Produzimos aqui 95% do que vendemos no Brasil, então a fábrica é um show case por si só. No ano passado, recebemos mais de 120 clientes em nossa fábrica. Toda tecnologia que pudermos utilizar para melhorar nossa produtividade e ganho de eficiência vai ser um ganho para nós. Estamos desenvolvendo um projeto com edge computing (computação de borda) na fábrica. Como efeito colateral disso, será também um show case para os clientes.

Quais as apostas e potenciais de soluções que devem surgir com o 5G?

Quando o conceito dos smartphones e o uso de aplicativos chegou ao mercado, ninguém imaginou que iria revolucionar a indústria do transporte, da hotelaria e outros segmentos. Vamos ver muita coisa nesse sentido em relação ao 5G, muitas soluções sendo desenvolvidas que sequer imaginamos. Nosso papel é nos posicionar como fornecedor de infraestrutura para os clientes nessa jornada, desde equipamentos como notebooks com soluções 5G embarcadas, até infraestrutura de gateways que vão tornar os equipamentos inteligentes conectados.

E quando devemos começar a ver as empresas usando esse potencial de forma prática?

A tecnologia já está sendo usada por alguns dos nossos clientes e parceiros. No momento são soluções mais industriais, mas que, por envolver o modelo de negócio dos clientes, não podem ser divulgadas. São cases muito interessantes já aplicados na operação dessas indústrias, inclusive em locais remotos, no agronegócio.

A Dell está investindo em ter uma produção mais sustentável dos equipamentos. Qual é a abrangência e o impacto do Concept Luna?

Esse é um conceito que vai mudar totalmente a forma pela qual desenhamos, desenvolvemos e produzimos equipamentos. Os equipamentos terão dispositivos modulares, mais sustentáveis, com compromissos mínimos de reciclagem dos componentes. Sendo modular, é possível trocar apenas o que quebrou, o que vai levar a um aumento de durabilidade do equipamento. Em um primeiro momento, veremos um impacto no custo de produção, mas entendemos que o mercado está preparado para esse tipo de trade off.

Que outras práticas de impacto social e ambiental da Dell você destacaria?

São várias, mas vou me ater a duas aqui no país. A primeira refere-se à acessibilidade, à inclusão de pessoas com deficiência ao mundo da tecnologia. Nosso Centro de Inovação, Pesquisa e Desenvolvimento Dell (LEAD), fundado em Fortaleza em parceria com a Universidade Federal do Ceará em 2011, tem 150 profissionais, sendo mais da metade pessoas com deficiência, que desenvolvem soluções de acessibilidade para o mercado. Também oferecemos programas de certificação digital online gratuitos que impactaram mais de 50 mil pessoas, especialmente durante a pandemia. O outro projeto é o Dell Solar Community Hub, que levou conectividade à comunidade de Boa Esperança, na Amazônia.

Como vai ser esse projeto?

É uma iniciativa de inclusão digital da Dell com a Fundação Amazônia Sustentável, a ComputerAid e a Intel, em que conectamos grupos carentes aos benefícios e potencialidades da tecnologia. Levamos estrutura de conectividade por satélite para Boa Esperança, que fica a 345 km de Manaus, próximo ao município de Manicoré. Com isso, hoje a comunidade tem acesso a telemedicina, monitoramento ambiental, acesso a habilidades de alfabetização digital e cursos profissionalizantes para jovens e adultos. Outras 11 comunidades também se beneficiam dessa conectividade, com um impacto em mais de 1.600 ribeirinhos.

Durante a pandemia, a logística mundial ficou seriamente comprometida. Qual foi o impacto para a Dell? Vocês mudaram algo na cadeia logística de produção?

Uma de nossas grandes fortalezas é a resiliência do supply chain. Temos uma característica única no mercado pois produzimos sob demanda, ou seja, só produzo aquilo que vendo. Isso tem uma série de benefícios para o cliente e para nós, do ponto de vista de negócios, resultado e eficiência, mas tem uma complexidade operacional enorme. Isso exige uma estrutura de supply chain muito sofisticada, com compromissos de longo prazo com os fornecedores.

Durante a pandemia, não foi só a logística que nos afetou. Tivemos um aumento de demanda por computadores, o frete subiu, o preço dos componentes subiu e outro fator é que produtos não tradicionais começaram a concorrer pelos mesmos insumos que a gente. Você sabe quantos microprocessadores tem uma Range Rover? Sete mil. Outras indústrias hoje concorrem conosco pelos mesmos componentes. Em resumo, devido aos nossos compromissos com os fornecedores por conta desse nosso modelo de produção fomos bem menos impactados que a indústria em geral durante a pandemia, mas houve impactos, claro.

Além da inteligência artificial, que outras tecnologias a Dell vê como potenciais para os negócios nos próximos anos?

Acreditamos muito no potencial do 5G, do edge computing e da IA. Futuramente haverá a computação quântica, mas há ainda tanto a explorar nessas tecnologias que estamos apostando nossas fichas nessas três. A grande questão é: como vamos ajudar nossos clientes a tirar valor dessas tecnologias? Esse é o nosso foco. Outro tema muito importante é a cibersegurança. Temos visto muita vulnerabilidade devido ao baixo grau de maturidade das empresas sobre os riscos de segurança e os dados são ativos muito importantes que podem cair nas mãos de criminosos cibernéticos. Essa é uma área que temos apoiado muitos clientes com nossas soluções.


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