Demanda global por segurança alimentar e energética vai beneficiar Brasil, diz Marcos Troyjo
Denize Bacoccina
Vinte anos depois do lançamento do livro O Mundo é Plano, do jornalista americano Thomas Friedman, que marcou o auge da “globalização profunda”, a busca por eficiência nos custos de produção parece ter dado lugar à geopolítica na tomada de decisões. A avaliação é do economista, sociólogo e diplomata Marcos Troyjo, que foi presidente do Banco dos Brics (grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul e sediado em Xangai) e hoje é acadêmico-visitante no Insead e na Universidade de Oxford. “Se olhássemos no cockpit do avião descrito pelo Thomas Friedman, quem estava no comando era um piloto chamado eficiência. Hoje o piloto não é mais o mesmo. Agora quem está no controle é a geopolítica”, afirmou em palestra nesta terça-feira, 27, durante o Financial Experience, evento do Experience Club realizado na Experience House.
“Vem aí um novo fluxo muito denso de capitais disponíveis para investimentos em energia verde ou para fazer frente à insegurança alimentar e à insegurança energética”, afirmou, lembrando que a inteligência artificial demanda um alto consumo de energia e o Brasil pode produzir energia de forma sustentável. Esse superciclo de commodities, disse ele, citando o economista Jeffrey Currie, é caracterizado não apenas por um crescimento da demanda, mas pela alocação de investimentos na formação de capital e infraestrutura para atender a esta demanda.
O crescimento dos países emergentes, a necessidade do mundo por alimentos, por produção mais sustentável e as mudanças nas cadeias de fornecimento tornam o Brasil um país estratégico nesse novo cenário. Uma das grandes vantagens do Brasil sobre os americanos, chineses e indianos, também grandes produtores – e consumidores – de alimentos é a abundância de água.
Ele lembrou que “apesar de todas as barbeiragens do governo”, o Brasil foi o terceiro maior recipiente de investimento estrangeiro direto nos últimos três anos. Olhando em proporção do PIB, foi o primeiro dentre as economias do G20. “Se a gente não fizer muita bobagem isso vai continuar”, afirmou.
Troyjo citou o exemplo da Índia, que cresceu 8,2% nos últimos 12 meses, o que significa dobrar a renda per capita em nove anos. E lembrou que, enquanto países de alta renda usam a renda incremental para bens de consumo ou viagens de turismo, nos países de renda mais baixa esse incremento vai para o consumo de alimentos, inicialmente aumentando a quantidade de calorias, e depois a qualidade dos nutrientes. Esses recursos excedentes também são utilizados para investimentos em infraestrutura e para aumentar a mobilidade.
O economista trouxe vários indicadores para mostrar como o mundo deve evoluir nas próximas décadas. Nos próximos 25 anos, a população mundial deve subir de 8 para 10 bilhões de pessoas. No entanto, dos 193 países que fazem parte da ONU, apenas nove terão crescimento populacional nesse período: Índia, Paquistão, Indonésia, Estados Unidos, Nigéria, Uganda, Tanzânia, Etiópia e República Democrática do Congo.
Os países do G7 (Estados Unidos, Alemanha, Japão, França, Reino Unido, Itália e Canadá) têm um PIB, em paridade de poder de compra, de US$ 51 trilhões, enquanto os países que ele chama de E7, os emergentes (China, Índia, Brasil, Indonésia, México, Turquia e Arábia Saudita), têm juntos um PIB PPP de US$ 60 trilhões.
O comércio entre Brasil e China, que em 2001 era de US$ 1 bilhão de dólares por ano, hoje é de US$ 1 bilhão a cada 60 horas. E a economia da China cresceu nove vezes nesse período.
Eleição americana
Dentro de todo esse cenário de crescimento dos emergentes, ocorre daqui a pouco mais de dois meses a eleição para o novo presidente dos Estados Unidos. Ao contrário do senso comum, diz ele, a economia americana está bem mais forte do que a europeia, e a eleição no país terá grande importância para o restante do mundo, e especialmente para o Brasil, que poderá ser afetado por um maior direcionamento de liquidez e investimentos diretos para os EUA. muito afetado pelo endividamento. Enquanto os democratas devem manter uma ênfase no chamado “Big Government” e impostos em alta, ele acredita que os republicanos devem adotar medidas econômicas para reduzir impostos e induzir o crescimento econômico via expansão dos negócios e do consumo.
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