ESG

Energia verde vai dobrar o tamanho da Solví nos próximos 4 anos

Celso Pedroso, CEO do Grupo Solví

Monica Miglio Pedrosa

“Estamos construindo uma nova Solví dentro da Solví”, comemora o engenheiro Celso Pedroso, que tem quase 30 anos de empresa, os últimos seis como CEO do Grupo Solví. Ele refere-se à expansão da unidade de negócios de energia verde, com investimento de R$ 250 milhões anunciado em 2023 em duas unidades de produção de biometano, uma localizada em Caieiras (SP) e outra em Minas do Leão (RS).

O Grupo Solví, que atua há mais de 50 anos na gestão de resíduos, tem 15 mil colaboradores diretos e terceirizados e fatura R$ 3 bilhões e, além do Brasil, tem atividades também na Argentina e no Peru. Com a expansão da produção de energia verde por meio do biometano, o grupo prevê ainda crescimento na oferta de crédito de carbono para o mercado, ajudando um movimento de descarbonização que deve se acelerar na indústria nos próximos anos.

A produção de biometano nasce da gestão de resíduos em aterros, conectando as duas áreas da empresa. O grupo tem hoje três unidades de negócio – gestão de resíduos, produção de energia verde e economia circular – e prevê dobrar de tamanho nos próximos quatro anos. “Vamos investir R$ 7 bilhões nos próximos cinco anos na valorização de resíduos”, diz Pedroso.

Nessa entrevista à [EXP], Celso Pedroso compartilha os detalhes dessa visão de futuro e da produção sustentável no país e fala sobre a parceria com o Experience Club, para neutralizar a emissão de carbono do Fórum CEO Brasil, que acontece nesta semana, na Bahia, reunindo 270 CEOs e acompanhantes.

[EXP] – Quais são os principais pilares de atuação da Solví hoje?

[Celso Pedroso] – Temos uma história de mais de 50 anos em gestão de resíduos sólidos, somos líderes na América Latina nesse segmento. Esta é a primeira unidade de negócios em que atuamos, nosso core, que faz tratamento e destinação final de resíduos, reciclagem, geração de combustíveis derivados de resíduos, destinação em aterros sanitários e destruição de resíduos perigosos por incineração.

A segunda unidade de negócios é a de energia verde, que tem mais de 15 anos. Iniciamos também agora a produção de biometano, que captura todo o biogás produzido nos aterros sanitários. Por meio de um sistema de purificação, o metano é separado da decomposição desta matéria orgânica em uma concentração superior a 96%, produzindo o biometano, um gás natural renovável. Temos uma capacidade para produzir 1,5 milhão m3 por dia de biometano. Nessa vertente de energia verde também somos capazes de produzir créditos de carbono para o mercado. E a terceira unidade de negócios é a parte de economia circular, de gestão de resíduos para as indústrias e de respostas a emergências ambientais. Hoje atendemos mais de 300 indústrias brasileiras.

A produção de energia verde aponta para uma tendência muito grande de crescimento no país e no mundo. Qual é a visão deste novo negócio para o Grupo?

Celso – Fornecemos energia verde para o mercado livre há muitos anos, temos uma capacidade de produção de 70 megawatts/hora. Agora, com a produção de biometano, teremos um grande viés de crescimento nos próximos anos, considerando a descarbonização que precisa ser feita na indústria. Essa unidade vai dobrar o tamanho da empresa. Em termos de Ebitda, dizemos que estamos construindo uma nova Solví dentro da própria Solví. Essa é a nova vertente de crescimento para os próximos quatro anos.

Outra área que também está crescendo muito é a de resposta a emergências nas plantas dos nossos clientes industriais, onde atuamos há mais de 30 anos. Estamos tecnicamente preparados e temos os equipamentos para conter e minimizar eventuais impactos de acidentes ambientais.

A Solví anunciou um investimento de R$ 1 bilhão em valorização de resíduos, impulsionado pelo Marco Legal de Saneamento. Como serão aplicados esses recursos?

Celso – Esse valor será aplicado na companhia em 2024 e nos próximos cinco anos vamos investir R$ 7 bilhões, ou seja, mais do que R$ 1 bilhão por ano. Esse é um setor extremamente promissor, que traz soluções para a sociedade na parte de tratamento de resíduos, traz valor para a descarbonização, para a economia circular e a reciclagem.

Vamos investir esses recursos em três vertentes: nos sistemas de destinação de resíduos, seja em plantas de aterro sanitário, seja em plantas de destruição térmica de resíduos perigosos; nas plantas de purificação de biometano; e em sistemas e plantas de triagem e reciclagem da economia verde. Para isso serão necessários investimentos em equipamentos móveis, caminhões, tratores e escavadeiras, galpões industriais, redes de captação de gás etc.

Hoje a Solví atende indústrias, serviços e coleta municipal?

Celso – Exato. O Brasil produz em torno de 75 a 80 milhões de toneladas de resíduos sólidos por ano. Este resíduo é produzido em dois momentos: o pós-industrial, que você processa para produzir um bem, e o pós-consumo. Aproximadamente 80% do resíduo sólido é produzido no pós-consumo e 20% no pós-industrial, considerando indústrias e agroindústria. Nós atendemos também o resíduo sólido produzido pelo setor de serviços e pela população, cuja coleta é uma incumbência municipal.

O Brasil está em uma evolução na consciência da reciclagem, vivendo realidades diferentes em cada região. Hoje, reciclamos menos de 3% a 4% da matéria física. Quando consideramos a produção de energia a partir da decomposição da matéria orgânica, que também é uma reciclagem, chegamos próximo a 20% de reciclagem no país. No nível pós-industrial o índice de reciclagem é infinitamente maior, atingimos mais de 80% de reciclagem de resíduos de todos nossos clientes.

Em relação às empresas, apesar dos avanços do tema ESG, qual sua visão sobre o estágio de maturidade da questão ambiental? Algumas empresas ainda priorizam o olhar do curto prazo em detrimento de ações de longo prazo sustentáveis. Como aumentar esse comprometimento?

Celso – Empresas que buscam acessar mercados mais sofisticados ou que são referência em seu setor têm o ESG na agenda. Não tenho dúvida de que seja um processo irreversível nas indústrias. É uma demanda também dos cidadãos, especialmente das gerações mais novas, então para se manter nesse mercado e se tornar perene, a empresa precisa ter essa agenda. Evidentemente a empresa precisa se preocupar com a saúde financeira, com o retorno aos acionistas, e às vezes o negócio tem dias difíceis. Mas a preocupação com a eficiência produtiva, financeira e também ambiental é o caminho. Tenho orgulho de dizer que estamos capacitados para fornecer para as indústrias e empresas soluções tecnológicas e com um bom custo-benefício para atender essa eficiência. Agora tem muita empresa que ainda não leva isso a sério, mas olho para o outro lado da moeda: ainda há muita coisa pra gente fazer, muita oportunidade.

Sem dúvida é um setor em crescimento constante e não só pela conscientização da sociedade, mas pela crise climática que avança. Que outros fatores impactam o crescimento do negócio?

Celso – Quanto mais você eleva o poder econômico de um país, mais ele produz resíduos, porque o consumo é maior. O Brasil produz, em média quase 1 kg de resíduo sólido por dia, por habitante. Já o Japão e os Estados Unidos produzem cerca de 3 kg por habitante/dia. A Europa, 2 kg. Em 10 anos, o Brasil deve dobrar a quantidade de resíduos por habitante, mas o território continua do mesmo tamanho. A necessidade de reciclagem será ainda maior.

Como a Solví atua no mercado de crédito de carbono?

Celso – Fomos a primeira empresa no Brasil a comercializar créditos de carbono e a primeira empresa no mundo a comercializar créditos de carbono produzindo em aterros sanitários. Funciona da seguinte forma: aspiramos o biogás produzido na decomposição da matéria orgânica depositada no aterro sanitário e produzimos biometano e energia elétrica, reduzindo em 16 vezes o impacto do efeito estufa. Essa diferença gera créditos de carbono que comercializamos com empresas e indústrias.

Como funcionará a compensação de carbono no Fórum CEO Brasil 2024, que acontece essa semana na Bahia?

Celso – Nossos especialistas vão calcular toda a produção de carbono do evento, levando em consideração o deslocamento das pessoas ao local, tanto o transporte aéreo como o terrestre, a emissão de carbonos produzida durante o evento, o número de pessoas que irão. Faremos o cálculo de tudo que será gerado. Neutralizaremos então com créditos de carbono produzidos em nossas Unidades de Valorização Sustentável (UVS), entregando um certificado de neutralização emitido pela ONU. Além da sustentabilidade do evento em si, vejo um importante papel do Experience Club como agente transformador, comunicando essa ação a todas as empresas e indústrias que estarão presentes no Fórum.

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