“Falta de poupança e produtividade freiam crescimento do Brasil”
Problemas históricos combinados com incertezas do cenário internacional são os grandes dilemas que o próximo governo brasileiro terá de encarar se tiver a ambição de reverter o pulso fraco sentido pela economia nos últimos quatro anos. E o maior risco de todos é o fortalecimento do populismo num cenário de perda de credibilidade das instituições.
Esse foi o recado do ex-ministro das Finanças e professor da Universidade de Columbia, Andrés Velasco, na abertura da Confraria de Economia, evento realizado para mais de 200 CEOs e lideranças empresariais na terça-feira, 07.08, pelo Experience Club, em São Paulo. A palestra precedeu o debate com três coordenadores econômicos dos candidatos à Presidência Geraldo Alckmin, Ciro Gomes e João Amoêdo, respectivamente Persio Arida, Mauro Benevides Filho e Gustavo Franco. Veja a cobertura completa do debate aqui.
“O problema nº 1 do Brasil tem sido o baixo nível de poupança interna. Historicamente, sempre que o país começa a crescer, a demanda interna puxa mais importações, o que aumenta o déficit externo e a partir disso a dívida sobe, o mercado fica nervoso e os investimentos começam a cair, freando a economia”, analisou Velasco, destacando como o peso da poupança interna é importante para manter o fluxo de investimentos que formam a base do PIB.
O segundo tema destacado pelo economista, um dos mais influentes da América Latina na atualidade, é um velho conhecido do Brasil e de toda a região: o entrave no aumento da produtividade. Apresentando estatísticas com um retrato econômico de longo prazo, Velasco apontou que, de 1960 a 2017, o índice de produtividade real das economias asiáticas teve crescimento médio anual de 1,72%, mais que o dobro do conjunto dos países desenvolvidos em pontos percentuais (0,84%) e bem acima dos Estados Unidos (0,79%). A América Latina, por sua vez, apresentou um índice médio de -0,20%, ou seja, a relação de produtividade por trabalho caiu no período de 57 anos.
“Um estudo de 2008 a 2016 mostra que todos os países latino-americanos perderam capacidade de crescimento. Como no caso do Brasil, a falta de produtividade é um dos principais freios da economia”, diz Velasco.
Longe da Guerra
Falando a respeito do cenário internacional, o ex-ministro chileno minimizou impacto até o momento a retórica bélica do presidente americano Donald Trump em relação ao comércio internacional. “Sempre que se fala em guerra as pessoas ficam alarmadas, mas se vocês lembrarem da época em que se falou muito da guerra cambial [2010], dois anos depois ninguém mas lembrava do assunto”, provocou.
Em um primeiro momento, Velasco acredita que as tensões concentradas entre Estados Unidos e China podem até ajudar o Brasil a vender mais soja para os asiáticos. Há, porém, o risco real de desaceleração do crescimento do PIB global que pode derrubar o preço geral das commodities, o que traria impactos negativos para toda a América Latina.
Pior que as oscilações de curto prazo, é o contexto geral em que se encontra a economia latino-americana. Com exceção do México, que ganhou muito com o acesso ao Nafta, pouca coisa mudou abaixo da linha do Equador. “Há 30 anos o perfil de exportações do Brasil, Argentina, Uruguai e Chile é o mesmo”, evidencia Velasco. “A América do Sul está fora das cadeias globais de valor”.
Cenário eleitoral
Como deixa claro o professor da Universidade Columbia, os grandes desafios brasileiros são estruturais e exigem um trabalho de longo prazo que dependerá do fortalecimento das instituições, sob o risco de o país novamente ser seduzido por “soluções fáceis”. A primeira medida é, sem dúvida, o ajuste fiscal, medida que costuma gozar de pouca popularidade. “Nas minhas aulas eu costumo divertir os americanos dizendo que, em matéria de populismo, Trump comparado a [Getúlio] Vargas ou [Juan Domingo] Perón é um mero aprendiz. Tudo o que eu desejo neste momento é que o Brasil não caia em uma armadilha populista”.
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