Gestão

Gympass: investimento em bem-estar pode reduzir gastos com saúde em até 35%

Priscila Siqueira

Por Denize Bacoccina

As mudanças no ambiente de trabalho nos últimos anos, especialmente durante e após a pandemia, deixaram claro que as empresas precisam contribuir para o bem-estar dos seus colaboradores de forma ampla, além do ambiente profissional. O Gympass, criado em 2012 para oferecer passes de academia aos usuários, também mudou o modelo de atuação com o tempo e hoje se posiciona como uma plataforma de bem-estar, oferecendo de atividades físicas e nutrição a cuidados com saúde mental e bem-estar financeiro. Com atuação exclusiva no mercado B2B, a empresa tem planos que são oferecidos pelas organizações aos colaboradores, que usam gratuitamente os pacotes básicos e podem contratar de forma complementar outros serviços.

O Gympass fecha 2023 com mais de 15 mil clientes, aumento de 80% em relação ao ano anterior, mais de 2 milhões de usuários e uma rede de 50 mil parceiros. Em agosto, a empresa captou US$ 85 milhões em uma rodada de financiamento Série F, elevando seu valor de mercado para US$ 2,4 bilhões.

A empresa usa dados para convencer as empresas que os investimentos em bem-estar aumentam o engajamento dos funcionários, reduzem a rotatividade e diminuem os custos da empresa com planos de saúde. Estudos do Gympass mostram que os gastos com saúde podem cair até 35% quando os colaboradores se cuidam com atividades físicas e de bem-estar. “Temos uma área que só cuida de dados, ajudando as empresas a demonstrar esse retorno”, diz Priscila Siqueira, Vice-Presidente Sênior e Head da operação no Brasil em entrevista à [EXP]. O desafio, diz, é convencer as áreas financeiras de que vale a pena esperar o retorno do investimento.

[EXP] – Priscila, o Gympass nasceu como uma empresa que oferecia passes de academia. Esse modelo de negócio ficou em xeque na pandemia e vocês pivotaram. Como foi esse processo? Como o Gympass está funcionando agora?

Priscila Siqueira – O Gympass foi fundado em 2012 como um passe de academia. As pessoas assinavam o serviço pela internet e usavam nas academias, era um modelo estritamente para o consumidor final. A ideia foi genial, atendia à demanda de muita gente. Só que é muito difícil você escalar um produto B2C. E começamos a ter problemas com os nossos parceiros, as academias, porque fazíamos concorrência e isso começou a gerar um certo conflito. Um dos nossos clientes percebeu que estava reembolsando mais o Gympass do que a academia diretamente, e veio conversar com a gente propondo uma parceria.

Esse foi o primeiro momento de pivotagem do negócio, em 2014, 2015. Começamos a vender um benefício de atividade física corporativa e ficou um modelo muito bom, em vez de tirar, eu levava clientes para o parceiro. E a empresa dava um benefício com maior flexibilidade e por um custo baixo por funcionário. Esse foi o modelo corporativo, que rodamos até 2020, sem deixar de olhar para outras oportunidades.

Com a pandemia, as academias fecharam e nossa primeira ação foi apoiar os parceiros para colocar suas aulas online. Temos uma área chamada New Ventures, que fica olhando para o próximo negócio, que já estava trabalhando em uma solução de bem-estar, com planos de lançamento no fim de 2020, para incluir tudo que fosse relacionado a bem-estar: meditação, mindfulness, nutrição. A pandemia fez com que a gente antecipasse e pivotasse para esse foco. Fizemos muita parceria com os melhores apps do mercado, usando o mesmo conceito da academia, só que para aplicativos digitais. Hoje são mais de 60 aplicativos gratuitos disponíveis na nossa plataforma – como Calm, Strava, Headspace, TecnoNutri. Caso a pessoa queira, pode fazer um upgrade para o plano premium e pagar a diferença pelo serviço. Também oferecemos personal trainer, personal de bem-estar. Ele vê o seu objetivo e faz uma análise geral do que você precisa para ter uma mudança de hábito e uma vida mais saudável.

Esse é um processo automatizado ou feito por uma pessoa?

Uma parte está automatizada e outra é feita por uma pessoa, mas o próximo passo é deixar tudo automatizado, usando inteligência artificial para isso. Vou dar o meu exemplo. Eu uso bastante a plataforma, algumas vezes treino em casa, outras no escritório. Mostrei a academia que tenho disponível e o profissional montou um treino com as opções que eu tenho disponíveis em cada ambiente. O dia em que eu não consigo ir para a academia, faço o exercício em casa. Em resumo, hoje o Gympass é uma plataforma, um hub de aplicações digitais e offline para as empresas. Agora estamos indo para um novo módulo que é a saúde mental corporativa.

Hoje vocês atendem somente o segmento B2B?

Sim, completamente B2B. A empresa contrata nosso serviço e o oferece para os funcionários. Eles podem acessar o que já está disponível ou comprar planos complementares, para ter acesso a mais serviços. São dez planos, de R$ 30 a R$ 600.

Priscila, você tem um background de tecnologia. Você entrou no Gympass em 2018 e em 2020 veio a pandemia. Você já tinha esses planos de digitalização para a empresa?

Eu já pensava em como usar a tecnologia para o negócio, mas também tinha um olhar para as empresas. Muitas vezes as organizações têm programas de bem-estar pontuais, específicos, como uma iniciativa pra gestantes, outra para a questão de saúde financeira. Nós consolidamos tudo dentro de uma mesma plataforma. Além do benefício para o colaborador, é importante mostrar que aquilo tem um impacto financeiro no negócio, a empresa vai economizar no uso do plano de saúde, na diminuição do absenteísmo. Nosso papel é agregar valor pra empresa.

Vocês têm estudos que mostram que este benefício pode ajudar na atração e retenção de talentos. As empresas estão levando isso em consideração nas políticas de RH? Como o mercado recebe essas informações?

Acho que aí vem um legado da pandemia. As empresas já sabiam que custa muito caro um funcionário que falta e que a saúde emocional das pessoas estava sendo muito afetada nesse período. Adicionalmente, hoje existe uma pressão do lado do funcionário. Outro dia, um cliente me disse que os candidatos sempre perguntam nas entrevistas se tem Gympass no pacote de benefícios. Depois da pandemia, as pessoas passaram a valorizar mais o cuidado com a saúde, o autocuidado. E as empresas também entenderam que precisam ajudar. A dificuldade é incluir isso no orçamento, porque o impacto não aparece em uma ou duas semanas, mas em seis meses a um ano.

Temos uma área que só cuida de dados, ajudando as empresas a demonstrar esse retorno de investimento. Fizemos estudos medindo o efeito da atividade física na saúde e hoje posso dizer com dados que uma pessoa fisicamente ativa tem 35% menos custos com planos de saúde do que quem não tem os mesmos cuidados.

A empresa consegue reduzir os custos do plano de saúde comprovando que tem uma equipe com hábitos mais saudáveis?


Sem dúvida. As próprias operadoras de saúde estão promovendo isso, porque o custo é insustentável não só para as empresas, mas também para as operadoras. Por exemplo, fizemos uma parceria com a SulAmérica, que vai dar um cashback para quem se exercitar duas vezes por semana.

Além do bem-estar físico, o Gympass também tem aplicativos específicos para a saúde mental, pensando num equilíbrio maior entre o físico e o mental?

Sim, e tudo que eu estou falando aqui vale para os dois, estamos olhando o indivíduo na integralidade, incluindo a saúde financeira. Hoje a maior causa de ansiedade, depressão e outros temas relacionados à saúde emocional é por endividamento. Temos um aplicativo que ajuda a controlar o orçamento pessoal. Também temos um módulo, que eu chamo de saúde emocional corporativa, com treinamento da liderança, que promove rodas de conversa e orientações individualizadas.

Em 2022, o Gympass foi Top of Mind de RH na área de saúde e bem-estar e neste ano você recebeu o prêmio Executiva de Valor. Qual a importância desses prêmios para a sua trajetória profissional e para o Gympass?

É um reconhecimento do trabalho que a gente vem fazendo. Hoje esse tema de bem-estar no Brasil é um tema latente, mas não necessariamente consolidado. Desde 2021 eu venho dizendo que é preciso ter um sistema para apoiar as empresas a trabalharem a questão de bem-estar de uma maneira mais sistematizada, que não sejam ações isoladas, mas que tenham indicadores que mostrem o resultado, que tenha comprovação. Então esse prêmio Top of Mind foi fantástico. Significa que as empresas entenderam e reconheceram o que a gente vem evangelizando no mercado. Também consolidou a importância da nossa solução digital e uma confirmação de que estamos no caminho certo.

Você é uma CEO mulher, como trabalha a diversidade no Gympass?

Temos objetivos estratégicos e trabalhamos três pilares de uma maneira muito focada: gênero, raça e LGBTQI+. No Brasil também trabalhamos com o etarismo. Pra mim a diversidade é extremamente importante, faz parte dos meus valores pessoais. Temos que ter o respeito pelo indivíduo.

  • Aumentar texto Aumentar
  • Diminuir texto Diminuir
  • Compartilhar Compartilhar