Zoox usa estratégia de dados para personalizar experiência e gerar negócios
Por Françoise Terzian
Talvez você nunca tenha ouvido falar da Zoox, mas a Zoox muito provavelmente já ouviu falar de você – e não só, ela já levantou muitos dados a seu respeito. Com 1,6 mil clientes presentes em 30 países, a Zoox Smart Data se define como “a maior gestora e qualificadora de dados” do Brasil. Fundada em 2010, a datatech oferece soluções integradas em Big Data, análise de dados, inteligência artificial e aprendizado de máquina com o intuito de construir produtos de dados que gerem valor às empresas.
Nas palavras de seu fundador e CEO, o carioca Rafael Soares de Albuquerque, ela é o “Booking.com dos dados”. A empresa atende clientes como as operadoras Telefónica S/A (Espanha), Claro em Porto Rico, o Metrô de Nova York e os aeroportos das Bahamas. Avaliada em R$ 1 bilhão na última captação de recursos, a Zoox já recebeu R$ 50 milhões em aportes desde que foi fundada em 2010 e, recentemente, atingiu o break-even.
Com sócios como Pedro Moll, da Rede D´Or, o negócio fundado por Albuquerque é promissor por conseguir cruzar dados variados, de origem pública e privada, e transformá-los em informações altamente estratégicas para as companhias. Abaixo, os principais trechos da entrevista concedida pelo fundador à [EXP].
Assista também à entrevista com Rafael Albuquerque na plataforma de vídeos:
[EXP] Como você define a Zoox e qual a importância dos dados para as empresas de forma geral?
Rafael de Albuquerque – A Zoox é uma datatech, uma empresa focada em ajudar a resolver problemas por meio dos dados. E a gente entende que agora todas as empresas precisam, de fato, usar dados para poder resolver seus problemas de negócios, principalmente com a Inteligência Artificial. A IA tem que estar combinada aos dados da empresa para termos aquelas respostas surpreendentes que o ChatGPT dá. Então, as empresas que não estruturarem seus dados, que não capturarem esses dados de forma consentida através das legislações vigentes, perderão oportunidades de negócios e, talvez, nem existam mais.
Embora o conceito de data driven não seja de hoje, as empresas estão aplicando essa estratégia?
Não, grande parte delas não. Claro que existem empresas que sabem lidar com dados e estão se preparando para isso. Antigamente não havia a tecnologia necessária, nem tampouco legislações, mas ainda existem grandes empresas realmente distantes desse uso estratégico de dados. Há muita oportunidade para trabalharmos nesse mercado. As empresas entenderam que elas precisam mirar nessa direção, qualificar e higienizar seus dados para poder extrair valor deles.
O que vocês fazem efetivamente? De que forma trabalham os dados?
Acreditamos ser a empresa do Brasil com a melhor qualidade e variedade de dados. Esse é nosso maior valor. Um exemplo: o festival The Town, um cliente nosso em São Paulo. Anteriormente, eles faziam um evento para a massa. Agora, quando a pessoa compra um ingresso e dá o opt-in [autorização dada pelo usuário para que uma empresa esteja apta a enviar comunicações, conteúdos e notificações], a gente enriquece os dados dele. Consigo dizer que eu, cliente, Rafael, tenho três filhos, um salário acima de tanto, um patrimônio acima de tanto, com tais preferências. Isso torna o The Town um evento de indivíduos. Para realmente personalizar as experiências dessas pessoas, você tem que combinar sua base com dados externos. É isso que a gente chama de enriquecimento de dados.
Mas a porta de entrada é o CPF da pessoa?
Depende. 99% vêm pelo CPF, 92% pelo telefone, 73% pela placa do carro. Com essa informação em mãos a gente consegue fazer match com a nossa base. Costumamos falar que transformamos qualquer dado pobre em dado muito rico. É isso que a gente faz. No exemplo do The Town, usamos CPF e e-mail.
E os dados públicos, nesse caso, vieram de quais fontes?
Da Receita Federal, onde a gente consegue buscar bastante informação, Serpro. E tem os bureaus tradicionais, os maiores que existem, que são utilizados hoje para crédito e a gente compra esses dados. Eu viro o “Booking.com dos dados”, estou integrado aos maiores bureaus de dados.
A partir daí, no caso do The Town, por exemplo, conseguimos extrair quais audiências podem conversar com as marcas patrocinadoras. Mas para isso eles precisam saber exatamente quem é cada um. Não só saber que me chamo Rafael. Mas que eu, Rafael, 39 anos, homem, posso ser completamente diferente do Fernando, homem, de 39 anos. Isso está só no começo. Iniciamos essa jornada de inteligência de dados há quatro anos e estamos ajudando as empresas a se estruturarem para o futuro.
Para você estar hoje nesse estágio, diria que seu maior investimento é em tecnologia?
Hoje, 60% do meu time é de tecnologia. São 200 pessoas. Obviamente, temos time comercial, mas o grande investimento é técnico. Tudo é desenvolvido internamente, tirando as partes de hosting e nuvem, as quais temos AWS e Google como parceiros. Temos dados nas nuvens com toda a camada de segurança. Usamos machine learning, inteligência artificial.
A Zoox tem, além de grandes bancos e aeroportos, funerárias como clientes. Qual o interesse de uma funerária nos dados?
Na verdade, eles querem aumentar o conhecimento da família das pessoas que faleceram, para que eles possam tê-los como clientes um dia. A única certeza da vida é que a gente vai morrer. Então eles querem enriquecer seus dados.
Como o Metrô de Nova York, que é outro cliente, usa estes dados de forma estratégica?
Eles fazem análise de origem e destino dos passageiros usando o Wi-Fi. Para onde vai a pessoa que entra no metrô do Brooklyn, na Times Square, na Quinta Avenida? Eles fazem essa análise porque entenderam que o Uber é um dos seus concorrentes e o Uber tem muitos dados dos usuários. Como é que você digitaliza o metrô? Quando você está com o Wi-Fi ligado, a gente reconhece o seu dispositivo, sabe que você se conectou naquele espaço, mesmo que você não se conecte, mas só de você estar com o Wi-Fi ligado você faz uma conexão “invisível” com aquela antena. Posteriormente, ao desembarcar em outro local, a gente captura isso também.
Bancos também são clientes da Zoox. Com toda estrutura robusta de Tecnologia da Informação (TI), eles ainda não têm esse refinamento de dados na operação interna?
Eles têm, mas não com a variedade que nós temos. Hoje a gente cruza, por exemplo, dados com operadoras de telefonia, então eu consigo saber onde você dorme. Já o banco não tem acesso a essa informação. Imagine o valor disso em uma tentativa de fraude. A gente combina esses dados para montar o melhor modelo de decisão para aquela dor que a empresa tem.
Qual a sua meta para a Zoox?
Queremos ser uma das empresas mais relevantes de dados do mundo. Esse é o nosso foco, começando pelo Brasil. Hoje temos alguns concorrentes que a gente chama de frenemy. Às vezes, friend (amigo), às vezes enemy (inimigo), mas tem muito espaço para crescer nessa área no país.
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