“IA, robôs humanoides e longevidade são as três forças que vão reinventar o mundo nos próximos 10 anos”

Monica Miglio Pedrosa
“Estamos vivendo o período mais incrível da história humana”. A frase otimista marcou o tom da apresentação de Peter Diamandis durante a quarta etapa da Confraria de CEOs, evento exclusivo do Experience Club, que aconteceu nesta terça, 12 de agosto, na Experience House, em São Paulo. Médico, empresário, futurista, fundador da Abundance360 e Presidente Executivo da XPrize, ele destacou que a inteligência artificial, os robôs humanoides e a ciência da longevidade serão as forças que irão reinventar todos os negócios e nossa vida nos próximos dez anos. Ele destacou uma frase de seu sócio e cofundador da Singularity University, Ray Kurzweil: “Vivenciaremos, na próxima década, tantas mudanças quanto a humanidade experimentou no último século.”
Diante de uma plateia de 120 CEOs de algumas das mais importantes empresas brasileiras, Diamandis afirmou que a inteligência artificial não deve ser vista como ameaça, mas como inteligência amplificada, uma parceira capaz de potencializar habilidades humanas e abrir novas possibilidades em qualquer área. E, diante do temor de que a tecnologia irá substituir os humanos no trabalho, ele foi enfático ao trazer sua visão de que a IA vai trabalhar junto com as pessoas, não em detrimento delas. Segundo ele, a IA está provocando um efeito descentralizador: com o avanço das ferramentas e a chegada de modelos open source de alta qualidade, pequenas empresas passam a realizar tarefas que antes exigiam grandes estruturas corporativas.

Para explicar a velocidade dessa revolução, o futurista apresentou cinco fatores que impulsionam o crescimento da inteligência artificial. O primeiro é o avanço exponencial da computação, que passou de dobrar a capacidade a cada dois anos para multiplicá-la por dez a cada ano. O segundo é o crescimento exponencial do volume de dados, que deve passar de 175 zetabytes (um trilhão de gigabytes) em 2025 para 612 zetabytes em 2030 e 2.142 zetabytes em 2035. Eles são o combustível para treinar modelos cada vez mais sofisticados.
O terceiro é a eficiência algorítmica, que deve crescer de 100 a 200 vezes nos próximos cinco anos. O quarto fator é o capital, com investimentos globais que já chegam a US$ 1 bilhão por dia e podem alcançar US$ 1 trilhão anuais até o fim da década. Por fim, o talento: empreendedores cada vez mais jovens, com acesso à tecnologia, estão criando startups bilionárias.
Diamandis destacou também a queda vertiginosa no custo da inteligência artificial. O valor investido para desenvolvimento das versões GPT-4 e superiores vem despencando cerca de 79% ao ano, e o lançamento do GPT-5 trouxe mais uma redução de 50% nos custos. “Nunca imaginei que a tecnologia mais poderosa do mundo estaria disponível de forma quase gratuita para 8 bilhões de pessoas”, disse.
Para ilustrar o potencial dessa acessibilidade, ele trouxe exemplos, como a produção de um comercial de qualidade televisiva, inteiramente criado por IA — incluindo roteiro, vozes e imagens — por apenas US$ 500, valor que antes poderia chegar a custar meio milhão de dólares. Outro caso foi o do Genie 3, capaz de gerar mundos virtuais interativos a partir de comandos de texto, com aplicações que vão de treinamentos corporativos à educação e ao desenvolvimento de veículos autônomos.
Para Diamandis, o avanço da inteligência artificial não será limitado por chips ou capacidade de processamento, mas pela disponibilidade de energia. Ele lembrou que países como a China estão expandindo de forma agressiva sua capacidade de geração, instalando quase 500 gigawatts de energia solar em apenas um ano, enquanto os Estados Unidos crescem em ritmo muito mais lento.
Nesse contexto, o Brasil, com seu potencial de energia limpa e abundante, teria condições de atrair grandes data centers de empresas globais de IA. O futurista argumenta que grandes empresas estão atrás de países onde a energia está disponível em abundância, como a NVIDIA e a OpenAI, que instalaram infraestrutura na Noruega para aproveitar seu excedente hidrelétrico.
A ascensão dos robôs humanoides
O segundo grande eixo da apresentação foi dedicado aos robôs humanoides, que em breve poderão ser comprados por valores entre US$ 20 mil e US$ 30 mil ou alugados por cerca de US$ 300 ao mês, o equivalente a US$ 10 por dia. Diamandis acompanha de perto cerca de 20 empresas nesse setor, a maioria nos Estados Unidos e na China, e citou exemplos como o Optimus, da Tesla, já em uso nas fábricas da marca; o Figure, que atua em linhas de produção da BMW e em ambientes domésticos; e o Neo Gamma, projetado para operar dentro de casas, interagindo por voz e visão com os moradores. Segundo ele, esses robôs rodam modelos avançados de IA multimodal e estão prestes a ganhar escala global.
A expectativa, segundo Diamandis, é que haja entre 1 bilhão e 10 bilhões de robôs humanoides no mundo até 2040. A demanda será impulsionada principalmente pela queda das taxas de natalidade em países como Japão, Coreia do Sul, China e grande parte da Europa, que já enfrentam escassez de mão de obra.

Com metade do PIB global relacionada a trabalho humano (cerca de US$ 50 trilhões), o mercado potencial para robôs capazes de executar tarefas complexas é imenso, especialmente em países que estão com crescimento negativo da população, como Japão, Coreia do Sul e grande parte da Europa.
Um exemplo prático do uso de robôs no dia a dia é o dos táxis autônomos, cujo custo por milha nos Estados Unidos deve cair de US$ 2 (no modelo atual com motorista) para US$ 0,40, com menor impacto ambiental. Além disso, Diamandis destacou o avanço de drones de entrega de alta precisão e aeronaves elétricas de decolagem vertical como parte dessa nova infraestrutura movida por IA e robótica.
Longevidade: rejuvenescimento e o fim das doenças
A ciência da longevidade é a terceira força, que Diamandis definiu como sua missão pessoal: adicionar pelo menos 30 anos saudáveis à vida de cada pessoa. Entre as iniciativas mais ambiciosas que lidera está o XPrize Healthspan, prêmio global de US$ 101 milhões destinado à equipe que conseguir rejuvenescer um ser humano em 20 anos nas funções muscular, imunológica e cerebral.
Hoje, 630 equipes de todo o mundo competem pelo prêmio, e a expectativa é anunciar o vencedor em até cinco anos. Para o futurista, estamos nos aproximando rapidamente da chamada longevity escape velocity, momento em que, para cada ano vivido, a ciência acrescentará mais de um ano à expectativa de vida.
Diamandis explicou que o envelhecimento não é causado apenas pelo desgaste genético, mas por alterações no epigenoma, o conjunto de instruções que “ativam ou desativam” genes ao longo da vida. A área mais promissora da pesquisa hoje é a reprogramação epigenética, já testada com sucesso em modelos animais e primatas, e prestes a entrar em testes clínicos em humanos. Ele também destacou o trabalho da “Advanced Regenerative Manufacturing Institute”, capaz de transformar células da pele em células-tronco e, a partir delas, fabricar órgãos como coração, fígado, rins e pulmões sob medida para cada paciente, eliminando filas de transplante e reduzindo drasticamente riscos de rejeição.
Ele trouxe, ainda, previsões de alguns dos principais nomes da biotecnologia e da inteligência artificial sobre o impacto dessas tecnologias na longevidade. Demis Hassabis, CEO do DeepMind, afirmou que será possível curar todas as doenças humanas dentro de uma década, graças à aceleração que a IA trará no desenvolvimento de novos medicamentos. Dario Amodei, da Anthropic, estimou que o avanço da IA pode condensar 100 anos de progresso na biologia em apenas cinco a dez anos, o que tornaria possível dobrar a expectativa de vida humana nesse período. Já o pesquisador David Sinclair projetou que, em até dez anos, terapias baseadas em genes ou moléculas sintéticas poderão rejuvenescer o corpo em semanas, seja por meio de injeções, seja pelo uso de pílulas capazes de reverter a idade biológica.
Para Diamandis, não basta esperar pelas grandes descobertas, é preciso garantir que doenças silenciosas sejam detectadas e tratadas antes que se tornem fatais. Foi com esse objetivo que ele cofundou a Fountain Life, rede de centros de diagnóstico avançado que coleta até 200 gigabytes de dados sobre cada paciente, combinando exames de imagem de alta resolução, sequenciamento genético, biomarcadores no sangue e análise por IA.
Entre os primeiros 5.000 clientes, 3% descobriram câncer sem apresentar sintomas, 2,5% tinham aneurismas desconhecidos e 14,4% apresentavam doenças metabólicas, cardiovasculares ou neurodegenerativas. “Nosso corpo é especialista em esconder problemas e a única forma de descobrir doenças é investigando”, afirmou, ressaltando que seu objetivo é prevenir sete das dez principais causas de morte, o que pode ser decisivo para alcançar as próximas fronteiras da longevidade.
Fotos: Marcos Mesquita
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