Inovações geram R$ 70 milhões para ArcelorMittal
Com sede no Brasil, primeiro laboratório de inovação da indústria de aço no mundo, criado pela empresa, já desenvolveu 100 novas soluções para o mercado
Fique ligado:
- Após resultados positivos do hub para desenvolvimento de novos produtos e serviços, empresa de origem indiana criou um espaço físico para o Açolab em Belo Horizonte.
- Em quatro anos, a operação realizou mais de 12 mil conexões no ecossistema de inovação – com startups, universidades e Institutos de Ciência e Tecnologia (ICTs) dentro e fora do país.
- As 100 soluções já testadas incluem 80 MVPs (produtos mínimos viáveis, de baixo custo, feitos para testes de mercado antes de investimentos para a produção em escala).
- A iniciativa vai gerir um fundo de venture capital que terá R$ 110 milhões para aportes em até 15 startups e pequenas empresas ao longo de quatro anos.
Maior fabricante global de aço, a ArcelorMittal comemora os resultados do primeiro laboratório de inovação do setor siderúrgico do mundo, o Açolab, criado em 2018 no Brasil.
A iniciativa, que apostou na parceria com startups, universidades e pesquisadores para pensar novos produtos e serviços, já rendeu 100 soluções, incluindo 80 MVPs (produtos mínimos viáveis, que são itens de baixo custo feitos para testes de mercado antes de investir na produção em escala).
Entre as inovações do lab está um sistema baseado em inteligência artificial (AI) capaz de identificar se o equipamento usado na fabricação de aços planos (chamado laminador) pode falhar, gerando sucata no lugar de um produto comercializável.
“A tecnologia consegue prever o que vai acontecer e corrigir um movimento do laminador antes que a sucata aconteça. É um modelo altamente sofisticado que já está sendo usado e expandido para outras unidades”, explica Rodrigo Carazolli, gerente-geral de inovação, novos negócios e Açolab Ventures da ArcelorMittal Aços Longos LATAM & Mineração Brasil, em entrevista ao [EXP].
Confira a seguir os destaques da conversa com o executivo, que fala sobre os desafios para implementar uma cultura interna de inovação, a importância das parcerias externas e as oportunidades que extrapolam o setor de uma das indústrias mais antigas do mundo.
Diretoria do Futuro
Esta e outras inovações fizeram a ArcelorMittal internalizar o Açolab na sua sede, em Belo Horizonte – o laboratório ocupava outro local. Ele vai operar em espaço exclusivo como parte da diretora de estratégia, ESG, inovação e transformação do negócio. A área tem sido chamada internamente de “diretoria do futuro” devido ao trabalho para encontrar novas oportunidades de negócios.
Em quatro anos de operação, o Açolab realizou mais de 12 mil conexões no ecossistema de inovação – com startups, universidades e Institutos de Ciência e Tecnologia (ICTs), dentro e fora do país.
O espaço se projeta como hub estratégico de inovação da empresa na América Latina e vai gerir um fundo de venture capital com R$ 110 milhões para investir em projetos próprios, startups e empresas de pequeno porte com pegada inovadora na região. A siderúrgica atua também na Argentina, Costa Rica e Venezuela.
Venture capital e building
A meta do fundo Açolab Venture é investir em entre 10 e 15 projetos nos próximos quatro anos, a partir da compra de participação minoritária. Já avaliou projetos de 300 startups.
A primeira parceria foi firmada com a Aval Tecnologia. A empresa desenvolveu o Agilean, plataforma baseada em inteligência artificial, BIM (Building Information Modeling) e dispositivo IoT (internet das coisas) para otimizar o planejamento e a gestão das obras das construtoras.
O setor de construção é um dos que mais carecem de inovação, como mostrou o estudo “Transformação Digital: o futuro da construção conectada”, elaborado em 2020 pela IDC em doze países das Américas, Ásia e Europa. O documento indicou que 58% das empresas do setor ainda estão em estágio inicial de inovação.
“O Agilean permite acompanhar em tempo real da evolução da obra, indicando os pontos de atenção que podem atrapalhar o andamento do projeto e caminhos para solucioná-los”, explica o gerente-geral.
O objetivo do fundo da ArcelorMittal é buscar soluções em áreas como a florestal, industrial, marketing, logística, saúde (a empresa opera sistema próprio de saúde para funcionários e dependentes). “Esse fundo se permite olhar também para produtos alternativos ao aço. Produtos que podem substituir o aço em algumas aplicações. Por que não acompanhar e estar próximo, até para não ser surpreendido?”, questiona Carazolli.
Noutra frente, a ArcelorMittal estrutura um fundo venture building para colocar no mercado soluções criadas internamente a partir de iniciativas como o DNA Inovador, programa de estímulo para funcionários apresentarem ideias. Um grupo com 70 “embaixadores da inovação” foi criado com esta finalidade e distribuído nas 30 unidades da empresa no Brasil.
A companhia pretende colocar uma primeira solução no mercado neste ano. Mas guarda segredo sobre ela até o lançamento. No plano, iniciativas no formato building devem gerar recursos para o investimento ganhar escala por conta própria. “Esses novos negócios podem não estar ligados ao aço, mas podem orbitar em torno do aço”, índica o executivo.
Inovação descentralizada
O Açolab da ArceloMittal desenvolve ideias criadas internamente ou em parceria com startups convidadas para participar de inovação aberta. O gerente-geral de inovação lista mais duas iniciativas impactantes.
Uma dessas soluções foi pensada para agilizar a análise de crédito do e-commerce criado pela siderúrgica. A análise foi mapeada como uma das dores da área financeira, empacando vendas e gerando filas de espera. A convocatória atraiu 30 startups de países diferentes num processo de cocriação da solução personalizada. “O tempo de análise caiu para minutos. Em pouco tempo é possível fazer a análise de crédito, com risco associado, atendendo cliente e a área financeira”, conta o gerente.
A solução elevou em 50% as vendas do e-commerce da ArcelorMittal e incluiu na plataforma novos meios de entrega até então não trabalhados pela empresa.
Criou-se também uma plataforma para conectar funcionários de qualquer região. A ferramenta desenvolvida com a área de recursos humanos permite desde a consulta do holerite, passando por mural para postar ideias, até o agendamento de reuniões virtuais.
Carazolli considera os resultados práticos como consolidadores de uma mudança de cultura na empresa, cuja capilaridade global em cerca de 160 países gerou doze centros de pesquisas no mundo e uma rede com cerca de 1,5 mil pesquisadores dedicados em tempo integral à inovação.
“Eu não acredito numa área como responsável pela inovação em uma empresa. A inovação precisa ser descentralizada. Todos precisam se responsabilizar por inovar. A área de inovação tem o papel de trazer metodologias, oportunidades, fazer conexões com o ecossistema”, observa Carazolli.
Imagens: Divulgação/Freepik.
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