Inteligência Artificial não é o tema mais importante da área de Tecnologia
Ricardo Natale
O mundo já mudou bastante nas últimas décadas. A maior parte de nós nasceu em mundo analógico e se tornou digital. Mas a mudança que estamos vivendo agora é muito mais profunda, e tem a ver com o uso cada vez maior da Inteligência Artificial. A IA criou de fato um mundo novo, não apenas uma evolução do que já sabíamos. Para acompanhar – e liderar uma companhia neste ambiente – é preciso estudar, se aprofundar, mergulhar nas novas tecnologias.
Muitas empresas já estão avançadas neste processo. A IA já parte da rotina de grandes e médios empreendimentos, e muitos deles criam seus próprios algoritmos. O iFood, que já se define como uma empresa de tecnologia e que tem uma experiência bem-sucedida de uso de IA (como você pode ler nesta entrevista do VP de Finanças e Estratégia Diego Barreto à [EXP] e no resumo deste livro em que ele documenta o que foi feito) desenvolveu um sistema, em parceria com a OpenAI, dona do ChatGPT, que entende linguagem natural e transforma conversas que os consumidores teriam com atendentes em pedidos compreendidos pelo computador. Com isso, agiliza os pedidos ao mesmo tempo que humaniza a relação com o cliente.
O potencial das novas tecnologias para os negócios é enorme. Um estudo da McKinsey, no ano passado, estimou que o uso da IA em 63 setores analisados poderia acrescentar até US$ 4,4 trilhões à economia mundial. E segundo o relatório esse número pode até dobrar com um uso mais amplo. Outro estudo, do FMI, diz que 40% dos empregos serão afetados pelo uso da IA. Essas pessoas precisam ser requalificadas justamente para ocuparem os postos que serão criados com o uso da nova tecnologia.
O mercado brasileiro também tem um ecossistema crescente de startups nativas com IA. O Report Panorama Emerging Tech no Brasil, do Distrito, identificou 111 startups que estão trabalhando com inteligência artificial, um dos principais temas entre as empresas listadas pelo relatório.
O uso abrangente da IA vai provocar mudanças profundas nos skills necessários aos profissionais de todas as áreas, especialmente as ligadas à tecnologia. O CEO da Nvidia, Jensen Huang, disse no fim de fevereiro que não será mais necessário aprender programação, já que a inteligência artificial fará esse trabalho com mais rapidez. Uma mudança radical em relação ao que se dizia até muito recentemente.
No mercado, vejo boards e comitês de tecnologia, CIOs e CTOs investindo tempo e energia para buscar melhores práticas e soluções em temas essenciais como AI, Cybersecurity, Data Analytics e Data Science, Talento e Cultura de inovação.
Porém, estamos diante de líderes de Tecnologia à frente de departamentos povoados por jovens engenheiros e desenvolvedores que se tornaram um grande desafio de gestão.
Os maiores desafios para a área de Tecnologia, na atualidade, não são as competências técnicas, mas as ligadas à cultura e comportamento:
– Liderança: como responder à pressão do conselho, da geração Z, dos fornecedores, dos clientes e da sociedade;
– Como gerir uma empresa digital cross;
– Como continuar sendo o gestor da infraestrutura e ao mesmo tempo responder por inovação;
– E, por fim, como um CIO busca posições mais altas dentro da companhia, que acabam sempre sendo dadas às áreas de Marketing, Comercial, Finanças e Operação.
Não são poucos os desafios das áreas de tecnologia neste mundo em profunda transformação que vivemos. Como conciliar a busca pela inovação, a gestão de talentos com a visão mais abrangente do negócio?
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