Joalheria do século 21 extrai ouro reciclado dos computadores
Pelo menos 50 milhões de toneladas de lixo eletrônico são produzidas por ano em todo o mundo. Esso volume equivale a seis quilos por habitante do planeta e está em crescimento acelerado devido à popularização e barateamento de todo tipo de equipamento tecnológico, sobretudo os smartphones. Para agravar esse cenário ambientalmente catastrófico, somente 20% dessa montanha de plástico e metal é reciclada.
Os dados impressionam, principalmente porque há, literalmente, muito luxo nesse lixo: são toneladas matérias-primas valiosas, como platina, ouro, cobalto, nióbio, prata e terras raras, entre outros, empregadas em microchips, placas-mãe de computadores, celulares, baterias e eletrônicos em geral.
De acordo com dados recentes da Organização das Nações Unidas, há uma perda em materiais eletrônicos (descartados ou inativos) estimada em mais de US$ 50 bilhões globalmente. E o pior: especialistas preveem um aumento de 17% deste tipo de lixo até 2021 em todo o mundo.
Mas o que é hoje é desperdício está prestes a virar um grande negócio. Na liderança desse movimento, a Dell lançou uma linha de joias inteiramente com lixo eletrônico reciclado. A coleção foi feita em parceria com a atriz Nikki Reed, dos filmes Crepúsculo. Nikki é fundadora da empresa Bayou With Love, que pretende ganha espaço na cena da alta joalheria com peças inteiramente recicladas.
Ouro, prata, platina, cobalto e diversos materiais de alto valor podem ser reaproveitados de eletrônicos descartados anualmente
A coleção, que inclui anéis de ouro de 14 e 18 quilates, brincos e abotoaduras foi batizada de “Circular”. O objetivo é fazer referência ao conceito de economia circular, ambientalmente responsável. “A Bayou with Love foi criada para trazer maior consciência ao impacto humano em nosso planeta e mostrar que itens bonitos podem vir de materiais de origem sustentável e reciclados”, declarou Nikki no lançamento da linha. “Ao reciclar o ouro, a Dell e eu estamos trabalhando para criar um ambiente em que reutilizamos continuamente os recursos e buscamos o desperdício zero”, complementou a atriz.
A gigante dos computadores está há mais de uma década coletando lixo eletrônico e firmou parceria na reciclagem com a companhias especializada Wistron GreenTech, que garante um impacto ambiental 99% menor do que o ouro tradicionalmente extraído na mineração.
A joias são peça de um projeto muito maior da companhia, que está desenvolvendo uma linha de placas-mãe feitas inteiramente com reciclagem. Desde 2013, a empresa acumula 33 milhões de quilos de materiais reciclados que foram usados em novos produtos. A meta da companhia é atingir 45 milhões de quilos até 2020.
Tecnologia brasileira
Ao que tudo indica, o Brasil segue rumo ao precioso e longevo caminho da reciclagem de metais preciosos provenientes de descartes eletrônicos. Um dos projetos que tem chamado a atenção é dos pesquisadores do Centro de Tecnologia da Informação Renato Archer, em Campinas, interior de São Paulo. Iniciado em 2014, os pesquisadores criaram uma tecnologia que permite extrair ouro, prata, cobre e paládio, contidos em placas eletrônicas de computadores, celulares e tablets, por meio de processos mecânicos conhecidos como hidrometalurgia e biometalurgia. É aguardar e comprovar.
Texto: Thaís Botelho
Imagem: Site Bayou With Love
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