Mercado

Mercado trilionário da economia prateada ainda é pouco explorado pelas empresas

Andrea Bisker, CEO e fundadora da Spark:Off

Monica Miglio Pedrosa

Até 2030, o Brasil terá a sexta maior população de idosos do mundo. Atualmente, 63% das pessoas com 60 anos ou mais são provedoras de família, segundo dados do IBGE. As pessoas maduras movimentam R$ 2 trilhões ao ano no país, mas 63% das marcas hoje têm como foco os millenials. “Vocês estão olhando para este mercado com a seriedade que deveriam?”, provocou Andrea Bisker, CEO e fundadora da Spark:Off, na palestra de encerramento do Fórum CEO Brasil 2025.

Apesar de serem responsáveis por um consumo que cresce três vezes mais do que o dos mais jovens, os consumidores maduros ainda se veem pouco representados em produtos e comunicações de marcas. “Quatro em cada dez brasileiros acima de 55 anos sentem falta de ofertas e mensagens direcionadas a eles”, destacou Andrea, lembrando que a chamada economia prateada já é considerada a maior atividade econômica do mundo e deve representar 35% do consumo nacional até 2044.

Ao abordar o tema, Andrea ressaltou que compreender a longevidade vai muito além de dados demográficos ou projeções de mercado. Trata-se de um movimento que exige mudanças culturais dentro das organizações, começando pelo combate ao etarismo e pela valorização da experiência dos profissionais mais maduros. “Em 15 anos, seis em cada dez colaboradores terão mais de 45 anos. Se não trouxermos essa representatividade para dentro das empresas, não conseguiremos criar soluções relevantes para esse público”, afirmou.

Andrea Bisker, CEO e fundadora da Spark:Off no Fórum CEO Brasil 2025
Andrea Bisker, CEO e fundadora da Spark:Off, no Fórum CEO Brasil 2025

Entre as oportunidades mapeadas por Andrea estão iniciativas em moradia, tecnologia, saúde e consumo. Ela lembrou, por exemplo, de projetos de condomínios voltados para pessoas acima de 60 anos, que integram unidades de saúde de ponta e serviços de cuidados compartilhados. Esses modelos já são comuns nos Estados Unidos e começam a chegar ao Brasil. A NAARA Longevity Residences e o Vitacon Senior Living são os primeiros serviços de moradia sênior lançados em São Paulo.

Na área de mobilidade, Andrea destacou o potencial dos exoesqueletos e de veículos adaptados que devolvem autonomia às pessoas maduras. Na experiência do usuário sênior, cabe inclusive pensar em detalhes como o tamanho da fonte de aplicativos e interfaces intuitivas, como o Baidu, que facilita a leitura de pessoas com presbiopia. O aplicativo Karie auxilia na gestão de medicamentos, lembrando o horário das doses e garantindo que sejam administradas corretamente.

No consumo, citou o ar-condicionado com inteligência artificial da LG, criado para ajudar mulheres na menopausa a regular os “fogachos” noturnos. O aparelho detecta automaticamente a necessidade de ajustar a potência, quando necessário. A Ambev também lançou uma cerveja voltada para consumidores acima dos 70 anos, que costumam perder o paladar para produtos amargos. A Beck’s criou uma versão com maior índice de amargor (IBU – International Bitterness Units), destinada a esse público, mas que acabou fazendo sucesso também entre os mais jovens.

Longevidade nas empresas

Para entregar produtos para os maduros, as empresas precisam ter líderes que compreendam suas necessidades e tragam essa discussão para dentro das organizações. Andrea usou como exemplo a dificuldade que pessoas maduras têm de diferenciar shampoo de condicionador no banho, quando estão sem óculos, e mostrou como uma simples mudança no formato da embalagem pode ser uma oportunidade para atender esse público. “Para isso, é preciso ter pessoas de 50, 60 anos na empresa de vocês”, disse.

Nos Estados Unidos, foi criado um selo Age Friendly, que certifica empresas que investem contra o etarismo, “Temos que tornar o ambiente de trabalho fértil para esses profissionais maduros. O etarismo será algo proibido, como o racismo e o antissemitismo, mas hoje 70% das empresas não têm indicadores claros para medir o etarismo”, ponderou.

Andrea provocou os líderes presentes a abraçar a longevidade como filosofia de liderança, criando um legado para o negócio, e compartilhou três recomendações para as empresas: olhar o tema de forma 360 graus, garantir representatividade dentro das organizações e valorizar o aprendizado contínuo. Ela chamou atenção para o fato de que, muitas mulheres, ao chegarem aos 45 anos sem ocupar cargos de liderança, veem suas oportunidades diminuírem drasticamente, o que torna esse momento ainda mais solitário. “Por isso, iniciativas como o Aladas são tão importantes, para acolher e apoiar profissionais nesse processo de transição”, destacou.

No encerramento, conduziu o público a uma reflexão sobre como a longevidade pode redefinir a jornada individual. Segundo ela, é preciso ressignificar essa etapa da vida, entendendo que fragilidades podem existir, mas também novas formas de potência. “Envelhecer é um processo que acontece todos os dias. O único jeito de não envelhecer é morrer jovem”, provocou.

Ela trouxe estudos que mostram que apenas 20% do envelhecimento é definido pela genética, 30% estão ligados ao ambiente e 50% dependem do livre-arbítrio. Essas escolhas passam por quatro pilares: alimentar-se bem, exercitar-se, dormir adequadamente e cultivar boas relações. Uma pesquisa de Harvard e outros estudos reforçam que relacionamentos significativos são o fator mais determinante para o bem-estar duradouro, acima de poder ou conquistas materiais. “Cuidem hoje da versão de vocês amanhã”, finalizou.

Logos patrocinadores Fórum CEO Brasil 2025

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