Metaverso ou Web3?
Entusiastas e críticos de ambas as tendências vão tentar convencê-lo a hospedar seus negócios em ambientes tecnológicos virtualmente promissores, porém cheios de dúvidas concretas
Por Ricardo Natale
Mark Zuckerberg, criador do Facebook, desde o ano passado tornou-se um evangelizador do metaverso, um mundo virtual no qual as pessoas interagirão em 3D e poderão assumir o aspecto visual que desejarem por meio de um avatar, algo que, no início deste século, já foi tentado pelo jogo Second Life.
Apesar do enorme ceticismo dos críticos, muita gente partilha do entusiasmo de Zuckerberg. Que já chegou até mesmo a importantes bancas de advocacia brasileiras, para as quais, em breve, participar desse universo será tão essencial quanto ter um website.
É a repetição do fenômeno provocado pelo Second Life no início de sua trajetória. Ninguém queria ficar de fora. Grandes varejistas, bancos, agências de publicidade. Hoje, nem seus avatares se lembram mais de como fazer para chegar até lá.
Uma das razões aventadas para o efêmero sucesso do Second Life foram as limitações de transmissão de dados da época (entre 2007 e 2010). Pode-se imaginar que esse problema estaria superado atualmente. Convém lembrar que o 5G só deve chegar de fato ao Brasil no fim deste ano e apenas nas grandes capitais.
Mas também convém lembrar que, apesar de ser evangelizado por Zuckerberg, o metaverso está nos planos de várias outras gigantes de tecnologia, como a Microsoft, que recentemente pagou US$ 68,9 bilhões pela Activision, naquela que foi considerada a maior transação da história dos videogames, onde avatares e cenários em 3D são comuns há muito tempo.
Os aficionados por jogos eletrônicos — preponderantemente jovens, mas não só os consumidores de pouca idade — movimentam muitos bilhões de dólares em acessórios e itens constantes nas cenas desse entretenimento, num sofisticado e crescente tipo de varejo que já vem sendo chamado de metacommerce.
Domínio das big techs
O metaverso estaria restrito apenas a segmentos muito lucrativos, como games? Para Eco Moliterno, chief creative officer da Accenture Interactive na América Latina, o que estamos vendo hoje é o embrião do que esse ambiente será na próxima década.
“O metaverso ainda está em uma fase bem inicial que mais parece um ‘betaverso’. Só que as marcas precisam entender desde já que não se trata de uma evolução, mas sim de uma revolução na forma de interagir com os consumidores. Senão, cometeremos de novo o mesmo erro recorrente de olhar para o futuro com olhos do passado”.
Críticos reiteram que a efetivação do metaverso ainda deve demorar uma década pelo menos. Além disso, veem nele a acentuação do domínio das big techs, tanto econômico quanto do ponto de vista dos dados pessoais de quem usa suas plataformas.
Para eles, a saída mais rápida e justa é a Web3, uma evolução da internet como a conhecemos hoje, descentralizada, menos dependente das redes sociais e baseada em blockchain, a tecnologia empregada nas criptomoedas e que pode garantir, igualmente, contratos com muito menos burocracia e mais segurança, chamados de NFTs (tokens não fungíveis).
Os NFTs já vêm popularizando o mercado digital de arte, por exemplo. E muitas organizações apostam no blockchain para simplificar e tornar mais seguros os trâmites de compra e venda de numerosas mercadorias.
No metaverso, a popularização das criptomoedas levanta suspeitas. Executivos da Talos, braço de inteligência para ameaças virtuais da Cisco, advertiram que o ambiente 3D representa uma combinação perigosa de exposição a gangues cibernéticas e falta de regulamentação. No que já está sendo chamado de “velho oeste da cibersegurança”.
Da mesma maneira, os detratores da Web3 também contestam a “democracia digital” propagada por quem a defende. Se na Web2 (a que usamos hoje) o poder está represado nas plataformas das redes sociais, dizem os críticos, na Web3 esse poder migrará para quem controlar os sistemas de blockchain e as criptomoedas.
É possível que metaverso e Web3 convivam cambiando as ferramentas tecnológicas desenvolvidas em ambos os ambientes. Dependerá muito da relevância que transmitirem aos usuários.
Caso contrário, poderão provocar reações como esta, registrada pelo The New York Times, ao reproduzir a mensagem de uma seguidora de Mark Zuckerberg no Twitter, após ver o avatar do criador do Facebook: “É sério, Zuck? Você podia vestir qualquer coisa e escolheu isso?”.
Para saber mais sobre metas Metaverso e Web3, assine a [EXP] e confira também a história do unicórnio Magic Leap, da Flórida, que aposta no uso do Metaverso para treinamento corporativo. Ou acompanha a visita do CEO da Adobe no Brasil, Federico Grosso, à Expo Dubai.
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